Nos últimos dez anos, a construção civil no Brasil enfrentou uma significativa queda nos salários médios dos trabalhadores, conforme revela a Pesquisa Anual da Indústria da Construção (Paic), divulgada recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com um recuo de 22%, a média salarial passou de 2,7 salários mínimos em 2014 para apenas 2,1 salários mínimos em 2023.
Impacto no setor de obras de infraestrutura
O principal responsável por essa queda nos rendimentos foi, segundo o pesquisador do IBGE, Marcelo Miranda, a desvalorização dos salários no setor de obras de infraestrutura. Em 2014, esse segmento oferecia uma média de 3,7 salários mínimos por trabalhador, representando o maior salário registrado na série histórica, que se iniciou em 2007. No entanto, em 2023, essa média caiu para 2,6 salários mínimos, um declínio de 29% e equivalente a uma perda de 1,1 salário mínimo.
As obras de infraestrutura incluem grandes projetos como rodovias, ferrovias e sistemas de água e eletricidade, que são vitais para o desenvolvimento econômico do país. Apesar de ainda apresentarem os maiores salários, a perda verificada ao longo dos anos é preocupante e indica uma nova realidade para os trabalhadores do setor.
Queda em outros segmentos da construção
Além das obras de infraestrutura, outros setores da construção civil também mostram resultados alarmantes. A média salarial na construção de edifícios caiu de 2,3 para 1,9 salários mínimos, uma perda de 17%. Já os serviços especializados, que incluem atividades de demolição e instalações elétricas, tiveram uma diminuição menos acentuada, passando de 2,2 para 2,0 salários mínimos, representando uma queda de 9%.
Empregos na construção civil
O desânimo em relação aos salários vem acompanhado por uma diminuição do número de empregos no setor. A pesquisa aponta que o número de postos de trabalho na construção civil em 2023 chegou a 2,5 milhões, uma queda de 15% em comparação com 2014. Por outro lado, quando observamos a perspectiva de 2020, ano marcado pela pandemia de covid-19, notamos uma recuperação significativa de 25% nos postos de trabalho.
Dentro das categorias, apenas o segmento de serviços especializados apresentou crescimento de 4% nos postos de trabalho, enquanto a construção de edifícios e as obras de infraestrutura sofreram reduções de 29% e 20%, respectivamente.
O cenário econômico da construção civil
O cenário financeiro da construção civil também apresenta resultados variados. Em 2023, as 165,8 mil empresas do setor movimentaram impressionantes R$ 484,2 bilhões. As construções residenciais lideraram as atividades, representando 22% do total movimentado.
As regiões Sudeste e Nordeste continuaram se destacando, representando 49,8% e 18,1% do total nacional, respectivamente. Contudo, ambas as regiões tiveram uma queda em sua participação em relação a 2014, enquanto a Região Sul aumentou sua fatia de 12,8% para 16,2% no mercado da construção ao longo da última década.
As mudanças no mercado de trabalho da construção civil refletem não apenas a realidade econômica do Brasil, mas também os desafios que os trabalhadores enfrentam em busca de melhores condições e salários mais justos.
Esses dados ressaltam a necessidade urgente de políticas públicas que promovam a valorização desses profissionais, fundamentais para a infraestrutura e o desenvolvimento do país.
* Matéria e título alterados para complementação e adequação, respectivamente, de informações.