Nos últimos dias, diversas instituições católicas e organizações religiosas de Uganda firmaram um compromisso coletivo significativo: eliminar plásticos descartáveis de todas as suas funções, reuniões e eventos públicos. Essa importante decisão marca um avanço no crescente movimento ambientalista liderado pela fé no país, numa tentativa de promover práticas mais sustentáveis e cuidar do nosso planeta.
Comemorando 10 anos da Laudato Si’
O encontro, que ocorreu em Kampala para celebrar o décimo aniversário da encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, reuniu 17 organizações em um novo consórcio dedicado à justiça ecológica e à sustentabilidade. O evento, realizado no Santuário dos Mártires de Uganda em Munyonyo, contou com a participação de representantes de diversas instituições, que discutiram a importância de diminuir a dependência do uso de plásticos na sociedade.
Na declaração final do consórcio, enfatizou-se que “Uganda não pode continuar a ser definido pela sua dependência do uso cada vez maior de plástico. A hora da mudança é agora; cada um de nós deve defender práticas sustentáveis, desde dizer não às garrafas de plástico descartáveis até responsabilizar nossas instituições”.
Abraçando o cuidado, a justiça e a responsabilidade
Durante os dois dias de reflexão, o evento foi guiado pelo Coordenador Pastoral da Arquidiocese de Kampala, Padre Ambrose Bwangatto. Ele ressaltou a necessidade de interpretar de maneira correta a mensagem da Laudato Si’, enfatizando que a dominação da Terra deve ser substituída por um foco em cuidado, justiça e responsabilidade coletiva.
Um dos gestos práticos do encontro foi a decisão de utilizar apenas bebedouros individuais e garrafas reutilizáveis. Esta escolha foi vista como um imperativo tanto moral quanto ecológico. Segundo os organizadores, essa ação reflete a mensagem central da encíclica: “tudo está conectado” e que a ação individual é essencial para a cura do planeta. “Decidimos que, em todas as nossas reuniões e encontros, levaremos nossos próprios bebedouros e garrafas de água para limitar o lixo”, declarou um dos participantes.
Um esforço nacional mais amplo sobre plásticos de uso único
A posição da Igreja Católica em Uganda contra o desperdício de plástico não é novidade. Em anos anteriores, a Conferência Episcopal de Uganda já havia estabelecido diretrizes para desencorajar o uso de garrafas plásticas e embalagens descartáveis em grandes eventos religiosos, como a peregrinação anual do Dia dos Mártires de Uganda, que reúne milhares de fiéis de toda a África Oriental.
Este novo compromisso se alinha com esforços nacionais mais amplos para eliminar plásticos descartáveis. Recentemente, a Autoridade Nacional de Gestão Ambiental (NEMA) de Uganda intensificou a fiscalização das normas contra sacolas plásticas, além de estar revisando a legislação para atacar a poluição plástica com mais rigor.
A Laudato Si’ não é apenas teológica, é prática
No decorrer do evento, os participantes revisitaram os ensinamentos da Laudato Si’, evidenciando os perigos da indiferença ecológica e a necessidade urgente de justiça climática. Os palestrantes enfatizaram a importância de reinterpretar concepções teológicas equivocadas sobre o domínio da Terra, defendendo uma administração que priorize a justiça e o cuidado.
“A mensagem da Laudato Si’ não é apenas teológica — é profundamente prática”, afirmou o Pe. Ambrose Bwangatto. “Ela nos convoca a reimaginar nossas escolhas cotidianas, nossas políticas e as maneiras como nos relacionamos com a criação e uns com os outros.”
Em seu desfecho, os participantes concordaram em formar uma aliança contínua pela justiça ambiental, que incluirá diálogo regular, campanhas de ação conjunta e defesa em níveis local e nacional. O Arcebispo de Kampala, Paul Ssemogerere, que celebrou a missa de encerramento, parabenizou o grupo pelo movimento Laudato Si’, ressaltando como ele inspira ações renovadas e conscientização sobre a justiça climática. “Obrigado pelo que vocês estão fazendo para nos despertar”, disse o Arcebispo, reafirmando a importância de despertar a esperança pela justiça climática.
Com isso, Uganda ensina que iniciativas em prol do meio ambiente podem, sim, estar alinhadas à espiritualidade e ao cuidado com a criação, mostrando que o compromisso por um planeta mais sustentável é uma responsabilidade de todos.