O ex-presidente José Sarney, uma figura emblemática da política brasileira, fez duras críticas à atual situação política do país durante o evento “40 anos de Democracia no Brasil”, realizado na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) nesta quarta-feira (21). Em sua fala, Sarney destacou que o Brasil enfrenta uma “falta de lideranças” e se manifestou contra o mecanismo da reeleição, classificando como “inadmissível” o uso de emendas parlamentares para promoção pessoal de políticos.
A falta de lideranças e a polarização política
Sarney, que liderou o país após 21 anos de ditadura militar, mencionou que a Constituição Brasileira atua como um guardião contra retrocessos políticos, mesmo frente à “lamentável” polarização que se intensificou nos últimos anos. “Não subsiste de maneira nenhuma que o país possa aceitar uma casa dividida. A população não aceita. Nós queremos união e, ao mesmo tempo, a solução dos nossos problemas de uma maneira consensual, não através do ódio”, afirmou o ex-presidente em coletiva de imprensa.
Ao ser questionado sobre a carência de lideranças, Sarney foi direto: “Não falta uma, faltam muitas.” Sua análise sobre a situação política atual reflete uma preocupação com a desilusão dos cidadãos em relação a seus representantes e aos partidos políticos.
Críticas à reeleição e propostas para o futuro
A reeleição, que está em debate no Congresso Nacional, foi um dos principais alvos das críticas de Sarney. Ele defendeu que esse mecanismo acaba por fazer com que os políticos concentrem seus esforços em permanecer no poder ao invés de realmente governar. “No segundo mandato, sem objetivo nenhum, ele faz um mandato pior do que o primeiro”, pontuou Sarney, expondo sua visão de que a reeleição distorce a qualidade da governança.
Atualmente, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que extingue a reeleição para os cargos de presidente, governador e prefeito. A proposta, que prevê um mandato único de cinco anos, foi aprovada de maneira simbólica na comissão, e ainda gera debates em torno das possíveis mudanças que isso pode trazer para o cenário político.
Fortalecimento dos partidos políticos
Outro aspecto abordado por Sarney foi o enfraquecimento dos partidos no Brasil. Segundo ele, muitos partidos têm recorrido a fusões e federações para manter sua viabilidade eleitoral. O ex-presidente sugeriu que uma forma de fortalecer essas siglas seria acabar com o sistema proporcional com lista aberta. “Esse voto é responsável por todas essas distorções que nós vemos”, disse Sarney, enfatizando a necessidade de um sistema distrital misto que ajude a criar partidos mais robustos e representativos.
No sistema distrital misto que propõe, o eleitor teria dois votos: um para um candidato de seu distrito e outro para um partido, permitindo uma composição mais equilibrada na representação política. A ideia é que esse método, que divide as cadeiras de cada estado em partes iguais entre os votos distritais e proporcionais, possa ajudar a eliminar as distorções que afetam a representação no Congresso Nacional.
Reflexões finais e a coragem dos partidos de direita
Ao final de sua participação no evento, Sarney se esquivou de comentar sobre a falta de coragem dos partidos de direita em se opor ao ex-presidente Jair Bolsonaro, evitando entrar em polêmicas e dando a entender que a atual situação política requer mais diálogo e menos confrontação.
As declarações de José Sarney são um alerta para a classe política e a sociedade brasileira sobre a necessidade de renovação e conscientização quanto à importância da liderança qualificada e da unidade em tempos de crise. As próximas discussões sobre reeleição e o fortalecimento dos partidos podem definir o futuro político do Brasil nos próximos anos.