Na quarta-feira, o Supremo Tribunal Federal (STF) recebeu o ex-comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Junior, que trouxe à tona novas revelações sobre o contexto político conturbado em que o Brasil se encontra. Baptista confirmou pontos-chave de seu depoimento anterior à Polícia Federal (PF) e, além disso, acrescentou detalhes ainda mais alarmantes à narrativa, envolvendo discussões sobre a prisão de autoridades e o papel das Forças Armadas em um possível golpe de Estado.
Discussões sobre prisões de autoridades
No seu depoimento perante o STF, Baptista Junior revelou que participou de uma “brainstorming” sobre a possibilidade de prender autoridades, incluindo o ministro do STF, Alexandre de Moraes. Ele mencionou que, após a ideia de deter Moraes ser levantada, houve a sugestão de que seria necessário prender todos os membros da Corte para efetivar tal medida.
— Isso era um brainstorming nas reuniões. Eu lembro bem, houve a seguinte discussão: “Vai prender o Alexandre de Moraes, presidente do TSE? Vai. Amanhã o STF vai dar um habeas corpus para soltar esse. E aí, nós vamos fazer o que, vamos prender os outros 11?”. Mas isso era um brainstorming, buscando uma solução, que já estava no campo do desconforto — relatou Baptista, ressaltando a seriedade da situação.
Fuzileiros à disposição do presidente
();
A discussão sobre a disposição das Forças Armadas na situação política também foi abordada. Baptista mencionou que o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, teria deixado suas tropas “à disposição” de Bolsonaro, informando que o efetivo total seria de 14 mil fuzileiros. Essa declaração levantou questões sobre o comprometimento dos militares em um cenário de convulsão política.
Baptista explicou que, apesar de não serem apenas discussões sobre questões jurídicas, as reuniões se concentraram na avaliação do ambiente e possibilidades que envolviam a ação militar.
— Nós não estávamos lá só para discutir base jurídica. Nós estávamos discutindo um ambiente e possibilidade. E isso foi o que o Garnier falou. Eu não fiquei sabendo à toa que a Marinha tem 14 mil fuzileiros — afirmou o ex-comandante. Essa afirmação culminou em questionamentos sobre até que ponto os militares estavam dispostos a se envolver em questões políticas.
Ameaça de prisão a Bolsonaro
Baptista também abordou uma breve passagem sobre um episódio do qual foi testemunha, durante o qual o ex-comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, teria ameaçado Bolsonaro com uma possível prisão. Esse testemunho se torna relevante dado que Freire Gomes havia afirmado anteriormente que não havia dado “voz de prisão” ao ex-presidente em outra audiência do STF.
Segundo Baptista Junior, Freire Gomes expressou a ameaça de prisão de maneira “tranquila” e “calma”, porém clara, afirmando que “se o senhor tiver que fazer isso, vou acabar lhe prendendo”, em alusão a um possível cumprimento do plano golpista.
— O general Freire Gomes é uma pessoa polida, educada. Logicamente ele não falou essa parte com agressividade com o presidente da República, ele não faria isso. Mas é isso que ele falou. Com muita tranquilidade, com muita calma, mas colocou exatamente isso: “se o senhor tiver que fazer isso, vou acabar lhe prendendo” — contou Baptista ao STF.
A audiência no STF não só trouxe à tona fatos novíssimos, mas também expôs as nuances de um período complicado que atravessa o Brasil. As revelações de Baptista Junior reforçam as preocupações com a integridade democrática e a atuação das Forças Armadas no cenário político atual.