Há escritores que não necessitam escrever dezenas de obras para ter seu nome inscrito na história da literatura. Esse é o caso do brasileiro Raduan Nassar, com o romance Lavoura Arcaica (1975) e a novela Um copo de cólera (1978) ou do mexicano Juan Rulfo, cuja obra-prima Pedro Páramo está completando 70 anos de sua publicação e tem uma adaptação cinematográfica disponível na Netflix.
O contexto histórico
Juan Nepomuceno Carlos Pérez Rulfo Vizcaíno, nascido em 1917, no mexicano estado de Jalisco, escreveu duas grandes obras: o livro de contos Chão em chamas (1953), no original El llano en llamas, e o romance Pedro Páramo (1955).
Essa última obra, pela criatividade da narrativa e sua abordagem fantástica, é considerada como precursora do realismo mágico latino-americano, movimento literário também conhecido pelos nomes de real maravilhoso ou realismo fantástico, uma resposta dos escritores da América Latina à literatura fantástica escrita na Europa.
Nessa época, se dizia que a realidade da América Latina já era fantástica, bastando apenas retratá-la para entrar nesse universo mágico. O auge do real maravilhoso aconteceu entre as décadas de 60 e 70 do século passado, revelando obras que são consideradas clássicos da literatura latino-americana, como Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez, Conversa no Catedral, de Mário Vargas Llosa, O jogo da amarelinha, de Julio Cortázar, A morte de Artemio Cruz, de Carlos Fuentes e O obsceno pássaro da noite, de José Donoso.
Esses escritores fizeram parte de uma espécie de movimento conhecido como o boom da literatura latino-americana, que despertou o interesse mundial para a literatura produzida na América Latina.
O livro
A narrativa de Pedro Páramo é elaborada em uma mescla de vozes entre primeira e terceira pessoa. A trama se inicia com Juan Preciado voltando para Comala, a terra de sua mãe, que acabara de falecer, para procurar Pedro Páramo, seu pai, que ele nunca tinha visto. Ao chegar no local, Preciado começa a ter contato com pessoas que conheciam seu pai ou eram próximas dele, descobrindo que ele já havia falecido.
Cada um que ele encontrava, que muitas vezes se revela como uma figura do passado, lhe contava algo sobre a história de sua família. Esse mosaico de relatos constrói um retrato complexo de Comala e de seu povo, revelando um passado repleto de dor e magia.

Cena do filme Pedro Páramo
As adaptações cinematográficas
A primeira adaptação de Pedro Páramo para o cinema foi feita em 1967, por Carlos Velo, cineasta espanhol radicado no México. O protagonista foi interpretado pelo ator John Gavin. A segunda adaptação, mais recente, foi lançada em 2024, sob a direção de Rodrigo Prieto, com roteiro elaborado por Mateo Gil, apresentando Tenoch Huerta como Juan Preciado e Manuel García-Rulfo no papel de Páramo.
Essa nova versão está disponível na plataforma da Netflix e promete introduzir tanto novos quanto antigos admiradores da obra ao universo fantástico que o autor criou. Assistir a essa adaptação é um convite para adentrar em um mundo onde o presente e o passado se materializam em pé de igualdade, muitas vezes se confundindo, proporcionando uma experiência visual rica e instigante. Os cenários escolhidos dialogam com os personagens e a narrativa de Juan Preciado, sorprendendo a todos a cada nova revelação.
Qualquer um desses dois produtos, seja o livro ou o filme, merece ser apreciado. Pedro Páramo é um marco na criatividade da América Latina e se tornou um clássico da literatura latino-americana, continuando a inspirar e fascinar novas gerações.
Este artigo é um espaço dedicado à cultura latina. Para mais informações sobre esses temas, visite www.ondalatina.com.br e o Canal Onda Latina: https://www.youtube.com/@canalondalatina.
Assista ao trailer de Pedro Páramo: