No contexto da audiência que apura a trama golpista relacionada aos eventos de 8 de janeiro, o ex-comandante do Exército, general Freire Gomes, trouxe à tona declarações que confirmam a preocupação com tentativas de ruptura institucional por parte do ex-presidente Jair Bolsonaro. A audiência, que teve o acompanhamento do próprio Bolsonaro por videoconferência, deriva da inquietação e tensão política que marcam o cenário atual no Brasil.
A advertência ao ex-presidente
Freire Gomes revelou que advertiu Bolsonaro sobre a necessidade de respeito aos limites institucionais. “Se ele saísse dos aspectos jurídicos, além dele não poder contar com o nosso apoio, ele poderia ser enquadrado juridicamente”, afirmou. Essa declaração levou o procurador-geral da República, Paulo Gonet, a reforçar a ideia de que o general percebeu uma possibilidade de ação golpista no discurso do ex-presidente.
A posição das Forças Armadas
O general deixou claro que as Forças Armadas, especialmente o Exército, não participariam de qualquer ação que extrapolasse sua competência constitucional. Segundo Freire Gomes, ele e outros altos oficiais, como o brigadeiro Baptista Júnior, comandante da Aeronáutica, se opuseram diretamente a qualquer movimento que buscasse reverter resultados eleitorais.
“Nós não vislumbrávamos como poderíamos participar disso, a parte o problema político que estava fora do nosso escopo”, destacou o ex-comandante, indicando a clara divisão entre as responsabilidades militares e as questões políticas. Essa decisão é vista como uma linha de defesa contra tentativas de manipulação da hierarquia militar em favor de objetivos políticos de figuras como Bolsonaro.
Rejeição à participação em planos golpistas
Relatos adicionais de Freire Gomes corroboram a narrativa de que havia uma tentativa de mover peças em direção a um golpe. De acordo com ele, o único a se manter próximo ao ex-presidente no contexto militar foi o almirante Garnier Santos, então chefe da Marinha. Isso levanta questões sobre a fragmentação no apoio militar a Bolsonaro e a oposição frontal de outros comandantes.
“Eu e o Brigadeiro Batista Júnior nos colocamos contrários no assunto (…) e que o Almirante Garnier tomou essa postura de ficar com o Presidente”, comentou o general durante a sessão. O discurso de Freire Gomes ressoa com a delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que também confirmou tensões internas entre as Forças Armadas e a administração Bolsonaro relacionadas ao planejamento de um golpe.
A tensão entre os líderes militares
A relação entre os altos comandos das Forças Armadas é tensa, conforme evidenciado nas declarações sobre comportamentos de Garnier Santos. Durante audiência, Cid reportou que Freire Gomes ficou irritado após uma conversa em que o almirante mencionou que “a Marinha está pronta”, questionando a disposição do colega em envolver outras forças no planejamento de ações arriscadas. “Pô, você não tem efetivo e você quer botar na minha conta”, reagiu Freire Gomes, evidenciando descontentamento com a dinâmica de apoio múnia que pairava sobre esses eventos.
A expectativa em torno do depoimento do almirante
O almirante Garnier deverá depor em breve e a expectativa é de que sua versão traga mais clareza sobre a postura da Marinha em relação às movimentações políticas de Bolsonaro. O fato de ele ter optado pelo silêncio em depoimento à Polícia Federal, em fevereiro de 2024, adiciona uma camada de complexidade à nova fase da investigação.
A audiência e suas implicações
A audiência, ocorrida sob os olhares atentos de toda a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), envolveu um ambiente de sérias implicações para o ex-presidente Bolsonaro e demais réus acusados de arquitetar a trama. A gravidade das acusações leva a um aprofundamento na análise da conduta dos líderes militares no Brasil, que desempenharam papéis cruciais no suporte ou oposição ao ex-presidente.
O relato de Freire Gomes não só ilumina as interações políticas nos bastidores, mas também instiga debates sobre a relação entre o governo e as Forças Armadas, enfatizando a importância do respeito às instituições democráticas. O clamor por uma resposta clara e a busca por justiça em um Brasil em constante transformação permanecem mais pertinentes do que nunca.