O ex-candidato à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB), se tornou réu devido a uma expedição arriscada ao Pico dos Marins, em Piquete (SP), que colocou em perigo a vida de pelo menos 32 pessoas. A acusação foi fundamentada em uma incursão liderada por Marçal nos dias 4 e 5 de janeiro de 2022, quando ele guiou um grupo de 60 pessoas na tentativa de escalar a montanha, ignorando alertas sobre condições climáticas adversas.
Condições adversas e falta de preparo
Na decisão, a juíza Rafaela D Assumpção Cardoso Glioche apontou que a investigação revelou elementos suficientes para a instauração do processo criminal. Os dados coletados indicam que os participantes estavam inadequadamente equipados e não contavam com a presença de guias experientes para orientação. No período da expedição, as condições no Pico dos Marins eram críticas, com chuvas intensas, neblina densa e rajadas de vento que chegavam a 100 km/h.
A assessoria de Pablo Marçal foi contatada pelo jornal O GLOBO, e até o momento, ele não se posicionou publicamente sobre o caso. O espaço continua aberto para manifestação de sua parte.
Conforme a determinação judicial, o réu tem 10 dias para apresentar sua defesa à Justiça. A acusação é grave, considerando que o crime de expor “a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente” está previsto no artigo 132 do Código Penal, com penas que variam de três meses a um ano de detenção.
A exibição da imprudência e o resgate
A atividade liderada por Marçal fazia parte de um curso denominado “O pior ano da sua vida”, que ele havia vendido. Segundo o Ministério Público de São Paulo, o empresário desconsiderou as advertências dos guias e insistiu na subida ao Pico dos Marins, mesmo com os alertas para que o grupo desistisse.
Em um excerto da denúncia, a promotora Renata Zaros ressaltou que à medida que o grupo subia, as condições climáticas pioraram, “exsurgindo significativa neblina e vento forte, com pouca visibilidade, o que tornava o trajeto inóspito, permeado de lama e pedras escorregadias, além do risco de hipotermia, uma vez que algumas pessoas estavam com as vestimentas encharcadas e sem peças de troca”.
O Corpo de Bombeiros teve que ser chamado para intervir na situação, realizando uma operação de resgate que durou nove horas para salvar os 32 participantes que continuaram a escalada. Os demais membros do grupo decidiram desistir antes de chegar ao cume da montanha.
A Promotoria de Justiça de Piquete chegou a propor um acordo para encerrar o processo judicial, que previa o pagamento de 180 salários mínimos, totalizando R$ 273.240,00. No entanto, houve falta de manifestação da defesa de Marçal em relação a essa proposta.
Impasse e desrespeito aos guias
Durante a escalada, Marçal chegou a desdenhar de um guia contratado por ele que alertou sobre a inviabilidade de continuar a subida em condições tão adversas. “Contudo, o denunciado desdenhou dos avisos e chamou o guia de ‘covarde’, conclamando os presentes a acompanhá-lo”, afirma a promotora em sua argumentação.
Após essa discussão, 32 pessoas decidiram seguir com Marçal, enquanto parte do grupo desistiu. O resgate ocorreu em meio a uma madrugada chuvosa, com a equipe do Corpo de Bombeiros enfrentando rajadas de vento. Surpreendentemente, Marçal protestou contra a ação dos bombeiros durante o resgate.
O caso levanta questões importantes sobre responsabilidade em atividades de aventura e a segurança dos grupos em situações de risco, especialmente quando lideradas por figuras conhecidas. Ao seguir adiante, a Justiça terá a tarefa de avaliar a culpabilidade de Marçal e as implicações de suas decisões naquela tempestade no Pico dos Marins.