A situação financeira de muitos aposentados no Brasil tem sido gravemente afetada por uma série de descontos indevidos em suas aposentadorias. O escândalo, revelado por uma série de reportagens do Metrópoles, expõe cobranças irregulares não apenas de associações e sindicatos, mas também de empréstimos consignados e seguros não contratados. Em meio a esse caos, a história de Trajano do Amaral, de 64 anos, ilustra bem a realidade de muitos brasileiros vulneráveis.
O caso emblemático de Trajano do Amaral
Trajano percebeu em sua aposentadoria descontos de R$ 55,11, entre outubro de 2021 e março de 2022, para um seguro de vida que nunca autorizou. Esses valores eram debitados pela Sudacred, uma empresa que tem enfrentado diversas reclamações por induzir aposentados a contratar seus serviços. “Não tenho coragem de me despedir do meu dinheiro sem saber onde ele está indo”, desabafa Trajano.
O escândalo descoberto pelo Metrópoles
- Desde dezembro de 2023, o Metrópoles trouxe à tona o que ficou conhecido como o escândalo do INSS, onde multas exorbitantes relacionadas a mensalidades de associações superaram R$ 2 bilhões em apenas um ano. Com milhares de processos judiciais contra essas entidades por fraude, as denúncias levaram à abertura de um inquérito pela Polícia Federal e à Operação Sem Desconto.
- Essa operação culminou na demissão do presidente do INSS e do ministro da Previdência, Carlos Lupi, em meio a uma onda de indignação pública.
Em uma decisão recente, a Justiça Federal do Rio Grande do Sul condenou a Sudacred e a Caixa Econômica Federal a pagarem R$ 3.300 a Trajano como forma de indenização, além de restituírem o dobro do valor que fora descontado. No entanto, essa vitória é só uma parte do problema. O aposentado também enfrenta cobranças não reconhecidas de mensalidades associativas e até mesmo de um cartão consignado que nunca solicitou.
Descontentamento generalizado entre aposentados
Hoje, o Sindicato dos Aposentados do Brasil (Sinab) cobra R$ 45 mensais de Trajano, além de outros R$ 113 que são retirados por um cartão consignado que ele nunca pediu. Essa situação tem gerado um significativo impacto nas finanças do aposentado, que se vê obrigado a arcar com custo de exames e medicamentos devido a sua batalha contra o câncer. “O impacto é claro, eu precisei pagar um exame que custou R$ 6 mil. Isso simplesmente não é justo”, lamenta.
A situação de outros aposentados
Os relatos de Trajano não são isolados. A pesquisa realizada pelo Metrópoles revela que as associações têm recebido quantias crescentes com os descontos associados. Até julho de 2024, o Sinab obteve R$ 16 milhões, mesmo enfrentando alegações de irregularidade nas cobranças. O sindicato, no entanto, não foi incluído nas ações judiciais que visam responsabilizar as entidades investigadas.
Uma rede complexa de descontos indevidos
Além das cobranças irregulares feitas por associações e sindicatos, aposentados enfrentam também descontos por seguros alegadamente não contratados. O INSS, em um período de cinco anos, autorizou 91 bancos a vender crédito consignado, expondo pensionistas a cada vez mais fraudes. As denúncias sobre empréstimos não solicitados têm se multiplicado, trazendo uma sensação de insegurança e desconfiança ao sistema.
Relatos de aposentados que descobriram débitos de mensalidades e empréstimos não contratados são cada vez mais frequentes. O que antes era uma sombra em suas vidas financeiras, agora se transforma em um pesadelo real, prejudicando a saúde e o bem-estar de muitos.
Com um sistema que deveria proteger esses cidadãos, a realidade é de descaso e exploração. A conjuntura atual exige uma resposta enérgica dos órgãos competentes e uma reforma imediata, para que os direitos dos aposentados sejam respeitados e tratados com a dignidade que merecem.