Brasil, 20 de maio de 2025
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Desafios do trabalho em supermercados: salário e precarização

Setor enfrenta dificuldades na contratação e precarização das condições de trabalho.

Os supermercados enfrentam uma crise em sua força de trabalho, com uma alta demanda de contratações e, ao mesmo tempo, a dificuldade em preencher vagas. Um exemplo recente é o anúncio de cinco vagas para operador de caixa em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, com salário inicial de R$ 1.600, além de benefícios como vale-transporte e refeição. No entanto, o cenário geral aponta para um desafio maior: muitos empresários do setor relatam ter dificuldade em preencher cerca de 35 mil postos de trabalho em São Paulo. Essa condição reflete um descontentamento crescente entre os jovens profissionais, que buscam modernidade e flexibilidade nas opções de emprego.

O que os jovens esperam

Apesar das oportunidades, os jovens mostram um desinteresse pelas ofertas atuais, que muitas vezes não são compatíveis com suas expectativas em termos de remuneração e condições de trabalho. A solução proposta por empresários é a adoção do regime de trabalho intermitente, que permite uma maior flexibilidade e atende à dinâmica atual da juventude. No entanto, essa ideia não é aceitada por todos. Representantes sindicais e pesquisadores da área do trabalho alertam que a implementação desse regime pode acentuar a precarização das condições laborais, gerando riscos de redução salarial e perda de direitos trabalhistas.

Salários insuficientes e custo de vida

A realidade dos salários no setor de supermercados é alarmante. O valor de R$ 1.600 oferecido na vaga de operador de caixa, por exemplo, é apenas um pouco acima do salário mínimo, que atualmente é de R$ 1.518, considerando também os descontos do INSS. Para complicar, o custo de vida em cidades como Nova Iguaçu já compromete esse montante. A locação de um pequeno apartamento pode ultrapassar R$ 900 e o valor de uma cesta básica para uma alimentação saudável gira em torno de R$ 432.

Esses números revelam que a renda obtida por um trabalhador muitas vezes não é suficiente para cobrir despesas básicas, resultando em endividamento e na necessidade de buscar empregos paralelos. A pesquisa da doutora em Psicologia Social do Trabalho, Flávia Uchôa, demonstra que muitas pessoas na escala 6×1, comum no setor, utilizam seu único dia de folga para complementar a renda, o que gera um ciclo de precarização e desgaste mental e físico.

Contratação e contratos intermitentes

A modalidade de contrato intermitente vem sendo discutida como uma alternativa para o mercado de trabalho. Introduzido pela reforma trabalhista de 2017, ele permite que o trabalhador tenha um vínculo formal, mas sem garantias de jornada ou salário fixo. O empregador decide quando chama o funcionário, e os pagamentos são feitos apenas pelas horas trabalhadas. Essa modalidade, apesar de oferecer flexibilidade, é criticada por sua natureza instável e pela falta de previsibilidade nos rendimentos, colocando os trabalhadores em uma situação vulnerável.

“A precarização está associada à insegurança e à impossibilidade de garantir um rendimento adequado”, alerta a economista Alanna Santos de Oliveira, da UFU.

Os defensores do trabalho intermitente argumentam que ele pode ser vantajoso, permitindo que trabalhadores assumam múltiplos contratos. Porém, muitos trabalhadores relatam a dificuldade de se manter estáveis economicamente nessas condições, evidenciando a fragilidade dessa modalidade.

Reforma do setor de supermercados

As entidades de trabalhadores do comércio não aceitam passivamente a crescente adoção do trabalho intermitente, insistindo em alternativas que garantam melhores condições sem abrir mão de direitos trabalhistas. O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio (CNTC), Luiz Carlos Motta, defende que o fim da escala 6×1, em favor de jornadas mais equilibradas, poderia melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores. “Ao invés de explorar os funcionários, vamos transformar um setor que cresceu 6,5% ano passado”, diz Motta.

Com o crescente número de postos vagos e a resistência dos jovens em aceitar empregos que não atendam suas expectativas de dignidade e remuneração, é hora de repensar as condições de trabalho no setor de supermercados. A busca por um equilíbrio entre produtividade e a valorização do trabalhador deve ser prioridade para garantir um ambiente de trabalho saudável e justo para todos.

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