O cardeal Joseph Coutts, arcebispo emérito de Karachi, lançou um apelo fervoroso pela paz entre a Índia e o Paquistão. Em uma entrevista à Agência Fides, ele enfatizou a necessidade de redescobrir as bases da fraternidade entre os povos que têm uma história comum. A disputa pela região da Caxemira, marcada por tensões políticas e conflitos históricos, é um reflexo de uma complexa teia de relações que remonta à independência do Império Britânico.
Raízes históricas do conflito da Caxemira
Durante a época da independência, a população da Caxemira, predominantemente muçulmana, não desejava integrar-se à Índia. “Naquela época, dizia-se que os cidadãos podiam escolher: se muçulmanos, fazer parte do Paquistão; se hindus, ser cidadãos da Índia. Mas para a Caxemira não foi assim”, relembrou Coutts. A decisão do rajá da Caxemira de se unir à Índia, desconsiderando a vontade da população local, gerou uma rivalidade que persiste até os dias atuais. O cardeal adverte que o conflito não deve ser visto apenas sob a ótica política, mas também como uma questão que toca a vida e as relações interpessoais.
A urgência da mensagem de paz
Coutts destacou a urgência de construir uma cultura de paz e perdão em meio às disputas. “Nós, como cidadãos e como comunidades religiosas na Índia e no Paquistão, podemos promover, e nos empenharemos nisso, uma cultura de paz”, disse ele. Para o cardeal, é essencial que líderes políticos de ambas as nações se reúnam para discutir um acordo que não apenas abaixe as armas, mas também promova o entendimento e o respeito mútuo.
“Nós somos chamados a viver juntos como bons vizinhos”, defendeu o cardeal, ressaltando a necessidade de superar as divisões que o nacionalismo exacerbado criou ao longo dos anos. Ele citou figuras históricas como Mohammad Ali Jinnah, Mohandas Gandhi e Jawaharlal Nehru, que sonharam com duas nações irmãs, convivendo lado a lado em paz.
Chamado à reconciliação e harmonia
O apelo do cardeal não é apenas para que se busque a paz, mas que as comunidades se mobilizem em prol da harmonia. Seu lema episcopal “Harmonia” resume sua visão de que é possível cultivar relações de benevolência, tanto internamente, dentro do Paquistão, quanto em relação a seus vizinhos indianos. “Nossa esperança é que possamos construir pontes, apertar as mãos e nos reconciliar”, concluiu Coutts.
A mensagem do cardeal ecoa o espírito de Gandhi, que sempre pregou a unidade e a paz entre as diferentes comunidades, lembrando que, apesar das diferenças religiosas e políticas, todos compartilham uma herança comum. Coutts observou que “não podemos esquecer que, por dois mil anos, vivemos juntos como um só povo; somos todos filhos da mesma mãe”.
O futuro da amizade indo-paquistanesa
Enquanto os governantes continuam a se culpar mutuamente e perpetuar um ciclo de hostilidades, Coutts insiste que o momento de transformação é agora. Em meio a um cenário global que clama por paz e entendimento, a mensagem de Coutts é um lembrete poderoso de que a amizade e a compreensão mútua são essenciais para um futuro mais justo e tranquilo para ambos os povos. “A questão da Caxemira é política”, conclui ele, “mas o que precisamos é de um diálogo que priorize a vida e o bem-estar das pessoas”.
O clamor do cardeal por paz e reconciliação se torna não apenas relevante, mas uma urgência moral, numa época em que a divisão e a rivalidade parecem ser a norma. Ele apela à humanidade compartilhada de ambos os países, lembrando que, independentemente das fronteiras traçadas, o verdadeiro laço é o da fraternidade e do entendimento.