O Brasil surpreendeu os analistas ao registrar um crescimento econômico expressivo no primeiro trimestre de 2025. O motor desse avanço foi a safra recorde de grãos e a robustez da renda nacional, mesmo diante da política monetária contracionista implementada pelo Banco Central. De acordo com Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV, esses dados superaram as expectativas do mercado.
Crescimento acima do esperado
Segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), a atividade econômica cresceu 0,8% em março, contrariando as previsões de 0,5% do mercado. Esse desempenho levou a economia a um aumento de 1,3% em relação ao trimestre anterior e a um crescimento de 3,49% se comparado ao mesmo período do ano passado. Embora a safra recorde desempenhe um papel importante, outros fatores também foram decisivos para esse crescimento.
Renda e ocupação
Padovani destaca que a força da renda é um ponto crucial. “O Brasil tem um dos maiores índices de emprego, e os programas sociais estão proporcionando uma renda mais robusta para a população”, afirma. Essa situação tem atenuado os impactos da alta de juros sobre o mercado de crédito, permitindo que o consumo se mantenha relativamente forte. “Estamos vendo uma economia ativa, com um setor exportador dinâmico, o que influencia positivamente as projeções ao longo do ano”, completa.
Desafios e perspectivas futuras
Apesar dos números positivos, a expectativa de desaceleração econômica persiste. Economistas como Rafael Perez, da Suno Research, ressaltam que a resiliência observada pode não durar. “As empresas estão antecipando compras para garantir estoques, especialmente com o esperado aumento nas tarifas de importação dos Estados Unidos, o que gerou uma demanda sazonal atípica”, explica. Segundo ele, com a provável diminuição do impulso do agronegócio, as consequências da política monetária restritiva devem se manifestar com mais clareza nos próximos trimestres.
Rodolfo Margato, economista da XP, partilha uma visão similar, prevendo uma gradual desaceleração da atividade doméstica, com crescimento projetado de 2,3% para o PIB em 2025. “É essencial observarmos as variáveis que compõem esse cenário, pois a política monetária e o desempenho de setores chave podem influenciar esses números significativos”, comenta.
A importância do setor agropecuário
A alta na produção agrícola não pode ser ignorada. O PIB da agropecuária apresentaram crescimento de 1% em relação ao trimestre anterior e 6,1% na comparação com o ano anterior. Esses resultados foram fundamentais para sustentar as expetativas de crescimento, mesmo em um cenário de juros altos, que se mantém entre os mais elevados do mundo. É importante que o governo e os setores da economia se preparem para os possíveis ajustes necessários nos próximos meses, uma vez que a dinâmica econômica pode mudar rapidamente.
Nos últimos dias, diversas instituições financeiras e consultorias ajustaram suas projeções de crescimento, que antes estavam em torno de 2%, para patamares superiores. Esta revisão positiva, no entanto, deve ser acompanhada de cautela, uma vez que os dados indicam uma tendência de desaceleração. Economistas parte do cenário estão mais otimistas, mas conscientes das possíveis oscilações econômicas.
Conclusão
A economia brasileira está em um momento de transição, navegando entre desafios e oportunidades. Com uma safra recorde de grãos e fundamentos que sustentam a renda, o país tem mostrado resiliência em um ambiente desafiador, mas a dúvida permanece sobre até quando essa força econômica pode se sustentar. A atenção das autoridades econômicas estará voltada para o impacto da política monetária e a adaptação do mercado ao novo cenário econômico que se desenha.