Na última segunda-feira (19), durante a 12ª Conferência Anual de Macroeconomia do Brasil, promovida pelo Banco Goldman Sachs em São Paulo, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que a manutenção das taxas de juros em níveis elevados, conhecidos como “mais restritivos” na terminologia econômica, é uma medida sensata para conter a inflação e assegurar um crescimento econômico sustentável.
Decisões recentes sobre a taxa Selic
Na semana retrasada, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa Selic para 14,75% ao ano, o maior patamar em quase duas décadas. O mercado financeiro acredita que esta poderá ser a última alta dos juros deste ano, prevendo cortes apenas a partir de 2026. Galípolo destacou que a discussão sobre a duração dessa taxa elevada se torna mais relevante à medida que o país se aproxima de diferentes cenários inflacionários.
“É normal que comece um pouco a discussão sobre o prazo de manutenção da taxa de juros em um patamar restritivo, porque nesse nível que a gente está começa a ter peso maior o período que você permanece do que essa calibragem na questão da convergência para a inflação”, explicou Galipolo.
Desaceleração da economia e inflação
O Banco Central tem sido claro ao afirmar que uma desaceleração do crescimento econômico é uma peça fundamental na estratégia para controlar a inflação no Brasil. Galípolo afirmou que, embora existam sinais de desaceleração, é crucial manter a vigilância sobre os preços. Com uma projeção de crescimento do PIB em 1,9% para este ano e uma expectativa de 2,02% para 2025, o foco do BC parece estar em garantir a estabilidade econômica a longo prazo.
A ata mais recente da reunião do Copom revelou que o “hiato do produto” permanece positivo, indicando que a economia está operando acima de seu potencial sem pressões inflacionárias significativas. No entanto, a instituição já reconhece que os juros altos têm contribuído para uma desaceleração das atividades econômicas, o que pode impactar diretamente na geração de empregos nos próximos meses.
Como o Banco Central atua na definição dos juros?
A taxa básica de juros é a principal ferramenta do Banco Central para controlar a inflação, especialmente em um cenário onde os efeitos sobre a população de baixa renda são mais pronunciados. O BC opera com um sistema de metas que determina seus posicionamentos; caso as projeções inflacionárias estejam alinhadas às metas, os juros podem ser reduzidos, mas se acima, tendem a manter ou até elevar a taxa Selic.
As mudanças na taxa Selic levam em média de seis a dezoito meses para impactar totalmente a economia. Desde o início de 2025, com a implementação do novo sistema de metas contínuas, o objetivo de 3% de inflação será considerado cumprido se a inflação oscilar entre 1,5% e 4,5%. Atualmente, o BC já está projetando a meta visando o segundo semestre de 2026.
Entretanto, o cenário é desafiador, já que as projeções do mercado para a inflação oficial nos próximos anos estão acima da meta central de 3%. Para 2025, a previsão é de 5,5%, e essa tendência de inflação elevada tem gerado preocupações sobre a possibilidade de descumprimento das metas estabelecidas pelo Banco Central.
Perspectivas e desafios futuros
O trabalho do Banco Central apresenta desafios consideráveis. Com a inflação se mantendo acima do teto de 4,5%, a instituição admitiu recentemente que a meta de inflação pode ser descumprida, o que levanta questionamentos sobre a eficácia das atuais políticas monetárias. Galípolo enfatizou a importância de acompanhar de perto as condições do mercado e as expectativas de inflação, reafirmando que a manutenção de juros elevados será necessária por um período mais prolongado do que o habitual.
À medida que o Brasil navega por tempos econômicos inciertos, as estratégias do Banco Central para conter a inflação e promover um crescimento econômico sólido serão cruciais para o bem-estar da população e para a estabilidade do país.