A decisão da Secretaria de Comunicação do Rio Grande do Sul de produzir um documentário sobre as enchentes que atingiram o estado no ano passado gerou novas tensões entre o governador Eduardo Leite (PSD) e o Partido dos Trabalhadores (PT). Como antecipado pela colunista Bela Megale, o partido acionou a Justiça, alegando que o governador estaria utilizando recursos da reconstrução para fins de autopromoção, com possíveis interesses nas eleições de 2026. Essa ação vem reacender um embate político que já está em curso desde a calamidade, refletindo as divergências que marcam a relação entre o governo e a oposição.
O papel do PT na disputa política
Após o ingresso da ação no Tribunal de Justiça do RS, o deputado federal e ex-ministro da Secretaria Extraordinária da Presidência da República para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta, assumiu um papel de destaque na repercussão do caso. O deputado também acionou o Ministério Público pelo mesmo motivo, intensificando um desgaste político que já vinha se formando. Pimenta tem classificado a iniciativa como um “escândalo”.
Reações de Eduardo Leite
Em resposta às acusações, Eduardo Leite expressou estar “absolutamente tranquilo” em relação ao conteúdo e à legalidade do documentário. “Foi uma iniciativa da Secretaria de Comunicação para apresentar o que foi desenvolvido pelo governo no enfrentamento da calamidade”, afirmou. O governador enfatizou que “nenhum recurso da reconstrução foi utilizado” na produção do material, que, segundo ele, foi elaborado por servidores do departamento de jornalismo da Secom.
Verbas e a verdade sobre os recursos utilizados
Em nota oficial, o governo do estado reforçou a fala do governador, garantindo que as verbas destinadas à reconstrução não foram aplicadas na produção do documentário. Segundo a Secretaria de Comunicação, os R$ 28 milhões mencionados por Pimenta referem-se a uma campanha de retomada do turismo no estado, e não ao documentário. A pasta esclareceu que os recursos utilizados foram oriundos do próprio orçamento da Secom.
Desgastes e embates recentes
A disputa entre Leite e o PT não é recente. Desde dezembro, a bancada petista e o governador têm se atacado publicamente, especialmente sobre o legado da reconstrução. No último mês, ao se completar um ano das chuvas, parlamentares do PT acusaram o governo estadual de demoras na apresentação de projetos de obras de contenção ao governo federal. Leite rebateu essas críticas, chamando-as de “ataque desonesto”. Em dezembro, deputados do PT chegaram a declarar que, após a tragédia, o verdadeiro responsável por governar o estado teria sido o presidente Lula.
As controvérsias também são alimentadas por questões sobre a aplicação de recursos públicos. Durante a calamidade, já havia atritos entre Leite e Pimenta sobre a gestão da reconstrução, com divergências sobre as melhores estratégias para ajudar as vítimas. Pimenta havia defendido a proposta de repasse direto de recursos às vítimas, enquanto Leite priorizou a construção de cidades provisórias para abrigar os desabrigados.
Considerações finais
O documentário que aborda as enchentes no Rio Grande do Sul conquistou uma relevância não apenas por seu conteúdo, mas também por suas implicações políticas. A forma como Eduardo Leite e o PT lidam com essas questões pode influenciar consideravelmente o cenário político nos próximos meses, especialmente à medida que as eleições de 2026 se aproximam. Enquanto o governador defende sua iniciativa como um instrumento de transparência e prestação de contas, o PT vê nisso uma oportunidade de criticar a gestão Leite e reforçar sua narrativa sobre os desafios enfrentados pela população gaúcha. Neste ambiente tenso, resta saber como essa disputa se desdobrará e quais serão seus reflexos para a sociedade.