No recente encontro com jornalistas na Sala Paulo VI, o Papa Leão XIV enfatizou a solidariedade da Igreja em relação aos jornalistas que se encontram presos por seu empenho em relatar a verdade. O líder religioso fez um apelo pela libertação desses profissionais, ressaltando que “a Igreja reconhece nestes testemunhos a coragem de quem defende a dignidade, a justiça e o direito dos povos a serem informados”. Segundo o Papa, apenas um povo bem informado é capaz de fazer escolhas livres, e o sofrimento desses jornalistas clama a consciência das nações e da comunidade internacional para proteger a liberdade de expressão e de imprensa.
Ameaças à liberdade de imprensa na Ucrânia
As preocupações do Papa foram fundamentadas por denunciar, através das organizações Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e Truth Hounds, uma “estratégia deliberada” da Rússia para silenciar jornalistas. Desde o início da invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, até março de 2025, mais de 30 ataques russos miraram 25 hotéis utilizados por jornalistas no país, com o intuito de calar as vozes que documentam os horrores da guerra.
Os ataques em sua maioria ocorreram à noite, período quando os hotéis estão mais cheios, e somente um deles estava, segundo as ONGs, vinculado ao exército. Entre os casos documentados, 25 jornalistas e colaboradores da mídia se viram sob bombardeios, levando a uma denúncia de possíveis crimes de guerra. O caso de Ryan Evans, conselheiro de segurança da Reuters, que foi fatalmente atingido durante um ataque em Kramatorsk, ilustra os perigos enfrentados pela imprensa em cenários de conflito.
De acordo com Pauline Maufrais, correspondente da RSF na Ucrânia, as ações russas não são aleatórias. Ela afirma que as investidas visam, propositalmente, restringir a cobertura jornalística da guerra, reduzindo assim a visibilidade dos acontecimentos e as vozes que clamam por justiça e verdade.
O impacto do Projeto Viktoriia
Em meio a essa sombria realidade, foi lançada a iniciativa internacional “Projeto Viktoriia”, liderada pelo jornal ucraniano Ukrainska Pravda. O projeto visa investigar as circunstâncias envolvendo a prisão e a morte da repórter ucraniana Viktoriia Roshchyna, que foi capturada em agosto de 2023 enquanto documentava a violência em prisões secretas. Ela tinha apenas 27 anos e seu trabalho focava em relatar a situação de milhares de ucranianos considerados opositores ao regime russo e mantidos em cativeiro.
Roshchyna foi detida em Enerhodar, próximo à usina nuclear de Zaporizhzhya, e transferida para a Rússia, onde acabou morrendo sob custódia. Somente em maio de 2024 as autoridades russas reconheceram sua prisão, e a confirmação de sua morte, ocorrida em outubro, trouxe à tona as atrocidades enfrentadas por jornalistas na linha de frente.
Seus restos mortais, devolvidos à Ucrânia em fevereiro de 2025, foram encontrados em condições brutais e indicam o nível de violência e tortura aplicados pelo regime. As informações surgidas a respeito de Roshchyna exemplificam não apenas um ataque individual à liberdade de imprensa, mas uma estratégia sistemática de silenciamento contra aqueles que buscam expor a verdade.
Com este cenário alarmante, o chamado do Papa Leão XIV à solidariedade e à proteção dos jornalistas não pode ser ignorado. À medida que a guerra na Ucrânia avança, o risco enfrentado por aqueles que relatam os fatos se intensifica. A manutenção da liberdade de expressar e informar é vital para que os povos possam continuar a fazer escolhas livres e informadas em tempos de adversidade.
As palavras do Papa e as denuncias das organizações de imprensa ressaltam a urgência de ações concretas da comunidade internacional frente a esse recém descoberto complexo de repressão à mídia, colocando a responsabilidade nas mãos de todos nós para garantir que a verdade prevaleça.