Na última sexta-feira, o cardeal Dom Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus, concedeu uma entrevista ao Vatican News onde abordou suas impressões sobre o Conclave que elegeu o Papa Leão XIV e as esperanças que este novo pontificado traz para a Amazônia. A conversa foi marcada por reflexões profundas sobre a importância de uma Igreja mais próxima dos pobres e da realidade amazônica.
Uma experiência profunda no Conclave
Dom Leonardo descreveu sua participação no Conclave como uma “experiência belíssima e profundamente eclesial”. Ele relembrou o momento em que os cardeais entraram na Capela Sistina cantando a Ladainha de Todos os Santos e invocando o Espírito Santo com o Veni Creator Spiritus. “Estávamos não apenas escolhendo um homem, mas discernindo juntos quem seria o Sucessor de Pedro”, explicou.
O cardeal também enfatizou o clima espiritual que envolveu o Conclave: “Jamais esquecerei aquele instante. Um silêncio profundo, uma liturgia intensa, uma harmonia que superava qualquer diferença. Éramos muitos, mas ali, éramos um só coração.” Essas palavras refletem a união sentida entre os membros da Igreja durante o processo de escolha do novo Papa.
Amazônia: um olhar esperançoso e transformador
Em relação às expectativas para a Amazônia sob o novo pontificado, Dom Leonardo foi enfático: “Quem vive entre os pobres não é mais o mesmo. Os pobres nos ensinam, alargam o nosso coração.” Segundo ele, o Papa Leão XIV carrega uma experiência profunda com os “pequenos do Reino”, o que molda sua visão pastoral e fortalece a caminhada da Amazônia.
Além disso, o arcebispo expressou confiança na continuidade do caminho sinodal proposto pelo Papa Francisco. Ele destacou que Leão XIV já demonstrou compromisso com uma Igreja sinodal e missionária, que possui um olhar profundamente social e evangelizador: “A Amazônia — com toda a sua riqueza espiritual, cultural e humana — encontrará nele um pastor próximo, sensível e profético.”
Os sonhos de Dom Leonardo para a Amazônia
Ao ser questionado sobre seu sonho para a Amazônia, o cardeal falou com ternura e convicção: “O nosso sonho é aquele que compartilhamos há mais de 50 anos: ser uma Igreja profundamente encarnada, comprometida com a realidade do povo e alegre em anunciar o Reino de Deus.” Ele exemplificou isso através das assembleias no Regional Norte 1, que reúnem bispos, padres, diáconos, leigos e representantes indígenas, todos buscando um mesmo ideal de uma Igreja viva e presente.
Dom Leonardo compartilhou também um desejo profundo: que todas as comunidades possam celebrar mais vezes a Eucaristia. “Esse sonho eu carrego desde que fui nomeado bispo pela primeira vez, para São Félix do Araguaia”, comentou. Ele recordou um momento de apreensão ao receber a missão de levar a Eucaristia a todas as comunidades em uma vasta região onde havia apenas cinco padres para 150 mil km².
O cardeal se confortou com um texto de São Jerônimo, que afirma: “a Palavra também é Corpo e Sangue do Senhor”. Ele enfatizou que “muitas comunidades vivem da Palavra, mas — como diz São Tomás — é pela Palavra que o Senhor se faz Pão. E esse pão, as comunidades desejam. Elas têm direito ao Pão descido do céu.” Essa declaração evidencia a urgência que ele vê na pastoral da Eucaristia nas comunidades amazônicas.
Finalizando a entrevista, Dom Leonardo fez um apelo à reflexão sobre a questão dos ministérios na Igreja: “Rezamos muito pelas vocações. Trabalhamos para isso. Mas também chegará o momento em que a Igreja precisará repensar a questão dos ministérios, para que o Pão da Vida alcance todos os que o esperam.”
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