No decorrer da visita oficial à China, a primeira-dama Janja da Silva causou repercussão ao abordar o presidente Xi Jinping sobre o TikTok. Segundo relatos da jornalista Andréia Sadi, Janja foi direta ao afirmar que a plataforma, sob controle estatal chinês, tende a favorecer discursos e movimentos de extrema direita. A intervenção dela ocorreu durante um jantar que contou com a presença de várias autoridades, tornando-se um momento carregado de simbolismo e tensão diplomática.
As declarações de Janja e a resposta de Xi Jinping
Em resposta a Janja, Xi Jinping afirmou que o Brasil estaria plenamente legitimado para regular, e até banir, o TikTok, caso assim desejasse. Essa troca de palavras chamou atenção não apenas pela ousadia da abordagem, mas também pela implicação de que um diálogo aberto sobre regulamentos digitais seria necessário entre as duas nações. Após o evento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se manifestou, afirmando que ele mesmo havia solicitado a Xi Jinping o envio de um emissário de confiança para discutir questões digitais.
Esse episódio rapidamente se tornou objeto de análise crítica entre especialistas e a opinião pública, que se dividiu entre apoiar a fala de Janja ou ver nela um erro de protocolo diplomático. Enquanto muitos concordam que a regulação das redes sociais é um tema urgente e relevante, outros expressam preocupação em relação à forma como isso pode ser abordado, especialmente em um contexto onde a censura pode se confundir com a regulação necessária.
A controvérsia sobre a regulação digital
A ideia de que a regulação das redes pode ser um caminho para censura foi pontuada por críticos, que ressaltam a complexidade do cenário atual. Com 480 milhões de dispositivos digitais em uso no Brasil, segundo a Fundação Getulio Vargas, a necessidade de estabelecer um ambiente digital mais civilizado é evidente. A relação da sociedade com as redes sociais se torna mais complicada quando se amplia a discussão sobre os limites da liberdade de expressão e a proteção contra fraudes, fake news e comportamentos de ódio.
Impactos na democracia e a voz do povo
Um aspecto importante a ser considerado é o impacto das declarações de Janja e a resposta de Lula na confiança do público. Existe um abismo entre a percepção do governo e as necessidades reais da população. Uma parte significativa da sociedade se preocupa que ações que busquem regular a internet possam, de fato, resultar em um controle que inibe a liberdade de expressão e limita o debate público. Essa é uma problemática que deve ser abordada com cautela — regular não deve ser sinônimo de censurar.
Além disso, a própria narrativa de que o Brasil estaria à mercê de forças externas ao elaborar suas leis é contestada. O país já demonstrou sua capacidade de legislar autonomamente em diversas áreas, com bons exemplos sendo a regulação das bets e a proibição do uso de celulares nas escolas. Assim, o cenário atual exige uma reflexão mais profunda sobre como o governo pode ou deve interagir com a sociedade civil na discussão da regulação digital.
O caminho adiante: diálogo e consenso
Para que o debate sobre a regulação digital avance, é crucial que haja um diálogo aberto entre os diferentes segmentos da sociedade e o governo. A regulação deve ser uma construção coletiva, que assegure proteção aos cidadãos sem comprometer a liberdade de expressão. O consenso e a participação da sociedade civil nesse processo são fundamentais para evitar que soluções apressadas resultem em medidas que limitem o debate e a diversidade de vozes, especialmente em um ano eleitoral como 2026.
Se as falas de Janja e Lula foram mal interpretadas ou se serviram para acirrar um debate legítimo, a questão fundamental permanece: como o Brasil pode encontrar seu equilíbrio na regulação do ambiente digital? Afinal, num país onde as redes sociais desempenham um papel cada vez mais central nas interações cívicas e políticas, a forma como lidamos com a regulação digital pode determinar os rumos da democracia e da liberdade de expressão nos próximos anos.
Esse incidente não apenas ilustra a fragilidade das relações entre governantes e o público, mas também destaca a necessidade urgente de um diálogo real sobre as implicações da regulação digital, ao mesmo tempo em que respeita as liberdades individuais.