Nos últimos anos, o tema das privatizações tem gerado intensas discussões no Brasil, especialmente em relação às empresas estatais. A questão central que emerge deste debate é: o governo realmente precisa manter uma empresa de correios na era digital? Os Correios, como a única instituição que alcança todos os municípios brasileiros, são frequentemente vistos como vitais para garantir a conexão em todo o país. No entanto, essa necessidade pode ser abordada com uma boa regulação, conforme experiências passadas já demonstraram.
Um olhar sobre a regulação e a eficiência
À medida que o Brasil avança para uma era de maior conectividade, a privatização das estatais, como a Telebras, serve como um exemplo importante. Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, a implementação de uma regulação adequada resultou em aumento da cobertura telefônica e redução de custos. A privatização da telefonia não apenas melhorou o acesso à comunicação, mas também trouxe uma nova fase de crescimento e inovação no setor. Assim, a preocupação de que empresas privadas poderiam deixar áreas menos rentáveis desassistidas foi superada por uma visão regulatória eficiente.
O papel do governo, portanto, não deve ser apenas o de vender empresas, mas sim o de assegurar que qualquer privatização feita seja acompanhada de um plano robusto de regulação, que garanta que todos os brasileiros tenham acesso aos serviços essenciais, independentemente de sua localização geográfica.
A prática da privatização no contexto atual
O governo atual, por sua vez, parece ver a privatização através de um viés ideológico, em vez de um prisma analítico e pragmático. O ex-presidente Jair Bolsonaro prometeu privatizar diversas estatais, inclusive a Petrobras, mas não cumpriu suas promessas. A privatização da Eletrobras, embora realizada, ocorreu em um cenário complexo, incluindo diversos “jabutis” que oneraram os consumidores e complicaram o acesso à energia elétrica.
Esse panorama evidencia que a privatização não pode ser feita apenas por motivos ideológicos—ela deve ser guiada por um propósito claro de eficiência. Um debate desprovido de pragmatismo pode levar a decisões apressadas que não trazem os resultados esperados.
O cenário econômico das estatais e a busca por soluções pragmáticas
Hoje, o déficit nas estatais é um desafio significativo, especialmente nas áreas de correios e energia. As perdas financeiras observadas nos Correios, que alcançaram R$ 26 bilhões em 2024, foram ampliadas pela falta de investimentos e pela gestão inadequada, que, segundo críticos, visavam apenas deteriorar a empresa para facilitar a venda. Esse cenário levanta uma preocupação válida: será que a solução é vender, ou seria melhor reformular a gestão e a estratégia da empresa?
Assim, a privatização deve ser encarada como uma estratégia a ser bem elaborada e contextualizada. A manutenção de estatais não pode ocorrer apenas por ideologia, assim como a venda indiscriminada não deve ser vista como uma solução mágica para problemas estruturais.
Conclusão: um caminho do meio
Em última análise, o debate sobre a privatização das estatais no Brasil deve buscar um equilíbrio. Vender tudo não é a resposta para os problemas financeiros, assim como manter todas as estatais sem questionamento também pode ser oneroso para a sociedade. O ideal é uma análise rigorosa de cada caso, considerando tanto os números quanto o impacto social de cada decisão. O futuro das estatais brasileiras deve ser pautado por decisões pragmáticas, que levem em conta as necessidades reais da população e busquem, acima de tudo, a eficiência na gestão pública.