As negociações para a formação de uma federação entre o PSB (Partido Socialista Brasileiro) e o Cidadania têm avançado nos bastidores e podem resultar em uma aliança formalizada já em julho deste ano. Os presidentes nacionais das siglas, Carlos Siqueira (PSB) e Comte Bittencourt (Cidadania), realizaram encontros recentes que indicam um caminho positivo para essa união. Interlocutores de ambos os lados afirmam que a proposta é vista com bons olhos, trazendo a esperança de estabilidade e força nas próximas eleições, especialmente em 2026.
Expectativas e movimentações
A expectativa é que o Cidadania aprove uma resolução interna ainda em junho, viabilizando a formalização da federação no mês seguinte. Em entrevista ao GLOBO, Comte Bittencourt destacou que o partido ainda está em fase de debates internos, mas elogiou o PSB, afirmando: “O PSB é um partido do nosso campo político, próximo à nossa história, e é natural que atraia a simpatia dos nossos companheiros. Estive algumas vezes com Carlos Siqueira. Ainda há um processo em andamento, seguimos debatendo internamente e até julho devemos definir como vamos construir esse cenário para 2026 e o pós-2026.”
Apesar da aproximação, Bittencourt demonstrou certa cautela quanto ao novo arranjo político. O Cidadania rompeu recentemente com o PSDB, com quem estava federado desde 2022. Embora o rompimento político tenha ocorrido, o vínculo legal será mantido até abril de 2026, como exige a legislação. Os tucanos, por sua vez, estão caminhando para uma fusão com o Podemos, modelo que foi rejeitado pelo Cidadania, levando à necessidade de refletir muito sobre a próxima movimentação.
A participação de Bittencourt nas discussões é marcada por um olhar crítico: “Ainda é um momento de muito debate. É preciso cautela, porque a primeira experiência não foi positiva, não houve liga política.” Essa declaração revela os desafios que as federações partidárias têm enfrentado no Brasil, refletindo a complexidade do cenário atual.
Mudanças no PSB e diálogos com outras siglas
O PSB, por sua vez, passará por uma mudança de comando no final deste mês, durante o Congresso Nacional do partido, onde o prefeito de Recife, João Campos, é o único nome cotado para suceder Carlos Siqueira. Nesse contexto, é possível que a legenda passe por mudanças, incluindo uma possível alteração de seu nome de Partido Socialista Brasileiro para Partido Social Brasileiro.
Ambos os partidos também estão mantendo diálogos com outras siglas da centro-esquerda, como a Rede e o Solidariedade. A Rede, assim como o Cidadania, viveu uma experiência de federação com o PSOL que não alcançou os resultados esperados, o que demanda uma reflexão quanto às alianças futuras, especialmente em um cenário eleitoral já marcado por insatisfações nas federações formadas em 2022.
Nos últimos dois anos, os períodos eleitorais alimentaram as insatisfações de partidos que formaram federações em 2022. Contudo, há movimentações no mesmo sentido para 2026 — recentemente, União Brasil e PP formalizaram uma aliança, mostrando que, apesar das dificuldades, as articulações políticas continuam em pauta.
A lei que permite federações partidárias, aprovada em 2021, exige que os partidos atuem juntos por pelo menos quatro anos, funcionando como uma só legenda. Contudo, as experiências até aqui têm gerado frustrações, com várias alianças enfrentando tensões e ameaçando rompimentos em 2026. Exemplos como a federação formada por PT, PV e PCdoB mostraram que as desavenças são comuns, com ressentimentos em capitais importantes e uma necessidade de reavaliação das estratégias.
Cenário de insatisfações nas federações
Um cenário de insatisfações permeia diversas federações, sendo a do PT um exemplo claro. O partido tem avaliado que a federação engessou suas alianças e teme que a manutenção do arranjo atual com PV e PCdoB dificulte futuras composições com partidos do Centrão, o que é crucial para as disputas por cargos importantes nas eleições vindouras.
O PV, por sua vez, tem responsabilizado o PT pela perda de espaço no cenário político, com uma redução expressiva no número de prefeituras sob sua administração. A vice-presidente nacional do partido, Teresa Brito, chegou a acusar o PT de autoritarismo na montagem das chapas eleitorais. Já o PCdoB, embora tenha tido menos conflitos com o PT, também apresentou divergências, como em Aracaju, mantendo um clima de incertezas sobre a continuidade da federação.
A federação entre PSOL e Rede também enfrenta conflitos, evidenciando que as tensões políticas estão longe de serem resolvidas e que, com a proximidade das eleições, os partidos necessitarão de um esforço colaborativo evidente para permanecerem relevantes no cenário político brasileiro.
As movimentações entre PSB e Cidadania e seus diálogos com outras legendas da centro-esquerda indicam que, além de buscar alianças, os partidos estão cientes da necessidade de adaptação e resposta às demandas da sociedade, a fim de formar uma frente que represente efetivamente seus eleitores nas disputas que se aproximam.