A Federação Internacional de Vôlei (FIVB) deu um passo significativo rumo à igualdade de gênero ao estabelecer novas diretrizes que obrigam as seleções femininas de vôlei a incluir pelo menos uma mulher na comissão técnica a partir da Liga das Nações de 2026. Essa mudança é um marco importante, pois busca equilibrar a representação das mulheres em um campo tradicionalmente dominado por homens. José Roberto Guimarães, treinador da seleção brasileira feminina, terá que se adaptar a essa nova regra e escolher uma parceira para o ciclo olímpico que culminará em Los Angeles 2028.
Importância da inclusão feminina nas comissões técnicas
José Roberto Guimarães, que também é coordenador de seleções femininas, comentou sobre a necessidade de preparar treinadoras para o futuro. “Em todas as comissões técnicas das nossas categorias de base temos pelo menos uma assistente mulher. Começa assim, como eu comecei”, afirmou ele, reafirmando o compromisso com a formação de mulheres no esporte.
A inclusão de figuras como Fofão, campeã olímpica, ao lado de Guimarães é uma possibilidade considerada. Fofão foi uma das pioneiras na modalidade, exercendo a função de treinadora da seleção sub-17 e conquistando respeito e reconhecimento no meio esportivo. “Ela achou que a carga é muito grande. Quem sabe como assistente?”, disse Guimarães, destacando a jornada desafiadora que as mulheres enfrentam nas posições de liderança.
Desafios enfrentados por treinadoras no esporte
Estudos recentes apresentados pela FIVB apontam que, em 2022, apenas 9% dos treinadores no Campeonato Mundial Feminino eram mulheres. A situação global é preocupante: durante as Olimpíadas de Tóquio 2020, apenas 11% dos treinadores ou assistentes nos Jogos eram mulheres. Para Paris 2024, constatou-se um leve aumento, com 13% de mulheres entre 84 treinadores, sendo a ginástica a modalidade que mais contribuiu para essa estatística.
Thatiana Freire, autora de uma tese sobre o papel das treinadoras, ressalta que a luta por equidade de gênero no esporte é um processo contínuo. “As mudanças são lentas. É um processo complicado, mas precisamos seguir em frente”, disse ela, enfatizando a necessidade de um sistema de apoio amplo para as mulheres que aspiram a posições de destaque no esporte.
Programas de mentorias e iniciativas de inclusão
Iniciativas como o programa de mentoria MIRA, desenvolvido em parceria entre o Comitê Olímpico do Brasil (COB) e a Unicamp, estão surgindo para apoiar treinadoras em formação e ajudá-las a superar barreiras. O programa acompanha treinadoras em transição de carreira e fornece uma rede de suporte robusta. “É uma abordagem profissional que busca dar oportunidades adequadas para desenvolver líderes no esporte”, destacou Larissa Galatti, uma das orientadoras do programa.
O envolvimento da Unicamp e do COB em ampliar a presença feminina no esporte é um sinal positivo. Maria Portela e Gabrielle Moraes, as duas treinadoras que se destacam nas seleções de judô e ginástica rítmica, ilustram o potencial feminino nas comissões técnicas. “É nosso dever permitir que mais mulheres se desenvolvam e que suas vozes sejam ouvidas”, afirmou Taciana Pinto, gerente de Esporte do COB.
Expectativas futuras e regulamentações
Além disso, Taciana mencionou que a partir deste ano, confederações olímpicas deverão garantir que 30% de suas comissões técnicas sejam compostas por mulheres em competições internacionais. Essa nova regra debutará nos Jogos Pan-americanos Júnior e se estenderá para os Jogos Sul-Americanos do próximo ano. “A ideia é criar um processo gradual que permita que mais treinadoras adquiram experiência internacional”, explicou.
A mudança na FIVB e as iniciativas locais no Brasil são passos importantes, mas ainda há um longo caminho a percorrer. Aumentar a participação feminina não apenas nas quadras, mas também nos bastidores, é essencial para um futuro mais equitativo no esporte. O reconhecimento de que as mulheres têm um papel significativo na formação de atletas e nas gestões é um indicativo de transformação que a sociedade espera ver, refletindo uma organização mais justa e inclusiva.
O futuro promete ser mais inclusive, desde que se mantenham as iniciativas e se potencialize o papel das mulheres no esporte. Que venham mais treinadoras, representando a força e a capacidade feminina a cada competição.