Moradores do Jardim Pantanal, na Zona Leste de São Paulo, estão lidando com incertezas e inundações recorrentes. Em um movimento que tem gerado controvérsia e preocupação, a Prefeitura de São Paulo anunciou que mais de 4.300 casas na região serão demolidas até 2029, com as primeiras demolições programadas para começar em julho.
O impacto das remoções
Desde o anúncio realizado pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB), em 7 de maio, muitos residentes expressaram surpresa e apreensão. Diversas famílias alegam que não foram informadas adequadamente sobre as remoções e estão preocupadas com a falta de informações sobre a realocação de suas casas. Erenita Maria da Silva, aposentada e moradora do bairro, resumiu o sentimento de muitos ao dizer: “Estão querendo tirar a gente, não sei para onde, mas fazer o quê, né?”
A medida foi proposta em resposta aos problemas de alagamentos que afligem o Jardim Pantanal há mais de 30 anos. A prefeitura planeja construir uma barreira de contenção ao longo de comunidades já vulneráveis à cheia do rio Tietê, com um custo estimado de R$ 32 milhões.
Situação alarmante
A comunidade, composta por aproximadamente nove bairros, tem enfrentado inundações severas nos últimos dias. No início de fevereiro, por exemplo, os moradores enfrentaram o terceiro dia seguido de bairros alagados, que resultaram em centenas de pessoas desalojadas.
A maior parte das remoções se concentrará no Jardim São Martinho, onde cerca de 2.600 demolições estão previstas. Muitas dessas residências abrigam não apenas uma, mas várias famílias. Jordânia Marques da Silva, uma moradora que vive com oito parentes, comentou que só tomou conhecimento de que sua casa estava no plano de demolições um dia antes do anúncio da reportagem.
Respostas da Prefeitura
A Prefeitura de São Paulo, em resposta a críticas, afirmou que as alegações de desconhecimento por parte da comunidade são descabidas e que o prefeito já havia discutido a questão das remoções em fevereiro. Embora tenha prometido realizar audiências públicas para debater as medidas e ouvir a comunidade, muitos moradores e lideranças comunitárias afirmam que não foram envolvidos no processo.
O planejamento da abordagem em múltiplas fases visa não apenas a remoção de residências, mas também a construção de um gabião de contenção, que funcionará como uma barreira física para impedir futuras ocupações irregulares na região. A operação de demolição começará em julho e se estenderá até 2029, dividida em três fases principais, conforme detalhado pelo prefeito Nunes.
Atendimento às famílias afetadas
O prefeito garantiu que todas as famílias afetadas pelo projeto terão atendimento habitacional, com opções que incluem indenização, auxílio-aluguel e o fornecimento de novas moradias por meio da Secretaria Municipal da Habitação e outros órgãos estaduais.
Essas declarações vêm à tona em um contexto em que os moradores do Jardim Pantanal estão cada vez mais exaustos pelas constantes enchentes. As fortes chuvas que ocorreram no início de 2025 deixaram muitas ruas da região submersas durante dias, causando prejuízos substanciais e reabrindo debates sobre soluções permanentes para a vulnerabilidade da área.
Histórico de alagamentos e ocupações
Desde os anos 80, a região do Jardim Pantanal tem enfrentado enchentes devastadoras. Apesar de ser designada como uma Área de Proteção Ambiental (APA), a ocupação irregular se intensificou ao longo dos anos, transformando a região em um reduto de várias famílias.
O histórico de alagamentos na área é alarmante, com registros de inundações que duraram até 20 dias. A administração anterior também implementou barreiras e investimentos significativos em infraestrutura, mas muitos moradores ainda sentem que as soluções são paliativas e não resolvem os problemas estruturais da região.
O debate sobre como lidar com a situação no Jardim Pantanal esbarra na necessidade de um planejamento urbano que priorize não apenas a contenção de cheias, mas também o bem-estar das famílias que habitam a região. O futuro dos moradores permanece em grande incerteza, e a luta das lideranças comunitárias terá um papel crucial para garantir que suas vozes sejam ouvidas e que suas necessidades sejam atendidas. A série de reportagens sobre a fragilidade das condições de vida no Jardim Pantanal continuará, buscando dar visibilidade às histórias e desafios enfrentados pelos residentes.