No cenário atual do futebol, onde várias opções de assistir a uma partida estão disponíveis, surge um modelo inovador que vem conquistando os corações dos torcedores, especialmente os mais jovens. Desde a pandemia de Covid-19 em 2020, os vídeos de reações, ou “reacts”, têm proliferado nas redes sociais, trazendo um novo jeito de experienciar as emoções das partidas.
A origem dos reacts no Brasil
Durante o isolamento social, em 2021, Renan Soares, um empresário apaixonado pelo Flamengo, decidiu criar o canal “TV Rubro-Negra React” em parceria com seu irmão, Matheus Soares. O objetivo era simples: compartilhar suas reações enquanto assistia aos jogos do Flamengo, incluindo aquelas situações em que torcia contra os rivais. Renan explica:
— A gráfica em que eu trabalhava faliu na pandemia e meu irmão foi mandado embora na mesma semana. Tentamos várias coisas até que ele me trouxe a ideia de criarmos um canal no YouTube. Eu estava desempregado, procurando uma fonte para ganhar dinheiro, e comecei. Vou assistindo ao jogo do meu jeito mesmo, sem encenar, sem nada.
A popularidade crescente dos vídeos de reação
O sucesso do canal “TV Rubro-Negra React” foi imediato. Renan rapidamente começou a ser reconhecido por torcedores nas ruas, com fãs pedindo fotos com ele. Mas nem tudo são flores; a pressão das redes sociais pode ser intensa. Renan conta sobre uma experiência negativa:
— No começo, teve um jogo que fiz do Atlético-MG, torcendo contra, mas ele ganhou e eu fiquei muito puto. Logo depois, torcedores do Galo começaram a me ameaçar e fiquei com medo de continuar com os reacts de rivais.
Como funciona o processo de criação dos reacts
A produção dos vídeos é bastante simples. Renan liga a câmera de seu celular, reage ao jogo em tempo real e, em seguida, edita as melhores partes para compartilhar com seus 100 mil inscritos no YouTube. Essa abordagem é diferente da de outros criadores de conteúdo, como André Luiz, conhecido como Dezão, que transmite suas reações ao vivo durante as partidas do Fluminense, buscando uma conexão imediata com os torcedores.
Os diferentes públicos dos canais de reação
Dezão, que possui 196 mil inscritos, compartilha a sua visão sobre seu público:
— Acho que o público que torce para o Fluminense está ali para poder reagir junto comigo, para poder comentar, desabafar, talvez se sentir representado num momento ruim. O torcedor rival quer me ver puto, chateado, com raiva, gritando. Então, ele vem para se divertir na derrota do Fluminense.
Por outro lado, a influenciadora Fernanda Gervásio, que mora em Brasília e torce pelo Vasco, utiliza os vídeos para interagir com fãs que, como ela, não conseguem ir aos jogos:
— Eu vi esse meio deste modo: ‘Ah, eu não tô no estádio vendo o jogo? Então, eu vou fazer dentro de casa’, para pegar também essas pessoas que torcem para o Vasco e não são do Rio para se conectarem comigo.
A atração dos vídeos de reacción
A resposta sobre o que torna esses vídeos tão atraentes para os espectadores é semelhante entre os criadores de conteúdo. Torcedores rivais assistem às reações para se divertir com as derrotas, enquanto torcedores do clube se identificam com suas emoções e até com críticas a jogadores específicos. Este fenômeno revela uma relação única entre os torcedores e a maneira como eles se conectam em tempos de futebol virtual.
Os desafios e a monetização das reações
Porém, a produção de conteúdo não é simples. Muitos criadores enfrentam uma rotina cansativa com a frequência dos jogos, e nem todos conseguem monetizar seus canais. Fernanda, por exemplo, não ganha dinheiro com suas reações, mas acredita que sua presença nas redes sociais é importante para fomentar a comunidade. Em contrapartida, Renan e Dezão conseguiram transformar seus canais em fontes de renda, com Renan até abrindo uma empresa em parceria com seu irmão.
Assim, os reacts de torcedores configuram um novo jeito de vivenciar o futebol, unindo entretenimento, emoção e uma interatividade jamais vista antes. À medida que esses vídeos se popularizam, eles redefinem o espaço das torcidas no cenário esportivo brasileiro.
