Desde o início do governo Lula em 2023, o senador Davi Alcolumbre (União-AP) tem se destacado como uma figura chave na articulação política do Brasil. Sua relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem se estreitado e, com isso, sua influência no governo crescido significativamente, tornando-se um interlocutor importante em meio a um Congresso cheio de desafios e demandas.
A previsibilidade de Alcolumbre
Durante a transição de governo no final de 2022, Alcolumbre já havia previsto que sua posição no Senado seria essencial para o presidente. Essa previsão se concretizou após um cenário político conturbado, marcado por tentativas da oposição de desestabilizar o governo, especialmente com investigações sobre fraudes no INSS e o projeto de anistia a golpistas do 8 de janeiro, que coloca pressão sobre o Palácio do Planalto. O papel de Alcolumbre como presidente do Senado se mostra cada vez mais relevante, com sua capacidade de negociação tornando-se crucial para a estabilidade do governo Lula.
Colaboração mútua
A relação entre Lula e Alcolumbre é descrita como uma “colaboração” que visa benefícios mútuos. Enquanto o presidente busca apoio em um Congresso frequentemente volátil, o senador se beneficia ao posicionar apadrinhados em diversas esferas do governo, assegurando assim sua influência e prestígio. Recentemente, antes de uma viagem à Rússia, Alcolumbre enviou uma mensagem clara a líderes da oposição, indicando que conseguir aprovar uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para investigar fraudes seria difícil naquele momento, o que levou a oposição a adiar suas estratégias.
Intermediações políticas e articulações
Além de conquistar aliados e neutralizar adversários, Davi Alcolumbre também tem atuado de forma decisiva nas questões relacionadas à anistia dos envolvidos nos eventos de 8 de janeiro. Sua habilidade em costurar acordos, mesmo diante de pressões, lhe conferiu um espaço privilegiado. Embora a oposição tenha tentado aprovar uma manobra que beneficiaria o ex-presidente Jair Bolsonaro, Alcolumbre foi fundamental em negociar uma solução intermediária.
Tal postura não só agradou ao Planalto, como também o tornou imprescindível para a aprovação de pautas de interesse governamental. Recentemente, a troca de ministérios, especialmente no Ministério das Comunicações, evidenciou a influência de Alcolumbre no governo, com indicações que refletem sua capacidade de gerar consensos.
Desafios na relação com o governo
No entanto, Alcolumbre não está isento de desafios. Sua crítica à nomeação de Ricardo Saadi para o comando do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) ilustra seu desejo de manter controle sobre indicados de sua confiança para cargos estratégicos. Esse impasse tem sido discutido diretamente com Lula, que tenta equilibrar a relação com um aliado forte, mas por vezes exigente.
A pressão também tem sido visível em outras áreas, como no Ministério de Minas e Energia, onde Alcolumbre busca a remoção do ministro Alexandre Silveira, considerado inadequado em suas práticas. Apesar de Lula tentar promover a reconciliação entre os diversos atores políticos, é aparente que a relação do presidente com Alcolumbre exige nuances que complicam ainda mais a dinâmica no Congresso.
Um novo estilo de liderança
Davi Alcolumbre chegou ao Senado em um momento de transição e, a partir de então, tem conseguido consolidar sua imagem como um político de diálogo e construção de consensos. Comparado ao seu antecessor na presidência do Senado, Rodrigo Pacheco, Alcolumbre é visto como mais acessível e brincalhão, características que conquistam aliados e facilitam uma comunicação mais fluida com Lula.
Um episódio que exemplifica essa relação foi durante uma viagem ao Japão, onde Alcolumbre surpreendeu Lula com uma caixinha de som para animar a comitiva, refletindo a conexão mais leve e informal que estabeleceu com o presidente. Com esse estilo, Alcolumbre aguarda colher frutos de sua influência crescente, tanto na esfera legislativa quanto na administração pública.
Olhando para o futuro
Com a crescente pressão da oposição e a necessidade de atender a uma base aliada frágil, Davi Alcolumbre se mostra uma figura essencial no futuro do governo Lula. Sua capacidade de envolver aliados e gerenciar conflitos partidários será determinante em um cenário político cada vez mais adverso. À medida que novas questões surgem, como a exploração de petróleo na Margem Equatorial e a modernização das infraestruturas do país, a habilidade de Alcolumbre em mediar interesses diferentes se apresentará como um ativo valioso para o governo.
As próximas movimentações políticas que Alcolumbre e Lula empreenderão no Congresso serão observadas atentamente, e a habilidade do senador de construir consensos pode ser o diferencial em um contexto onde as tensões políticas estão em alta. Da quietude da Esplanada dos Ministérios aos corredores do Congresso, Alcolumbre terá um papel central na articulação das políticas que moldarão o Brasil nos próximos anos.
