Em 24 de abril, enquanto dignos guindastes se erguiam imponentes no Porto de Long Beach, estivadores começaram o descarregamento do OOCL Violet, um colossal navio cargueiro. Sua carga, composta por milhares de contêineres, trazia mercadorias diversas, destinadas aos Estados Unidos, mas agora sob a sombra das novas tarifas impostas pela guerra comercial iniciada pelo presidente Donald Trump contra a China.
As novas tarifas e suas implicações
O OOCL Violet foi um dos primeiros navios a navegar na nova realidade econômica, enfrentando uma taxa de 145% sobre quase metade de sua carga proveniente da China. Esse recente aumento tarifário, que surgiu como um desdobramento da escalada tensa nas relações comerciais entre os dois países, foi anunciado em 2 de abril, apenas algumas semanas antes da chegada do navio à Califórnia. Com uma carga avaliada em aproximadamente US$ 564 milhões (cerca de R$ 3,23 bilhões), estima-se que cerca de 40% desse valor já estivesse sujeito à nova tarifa antes mesmo de chegar ao destino.
A pressão sobre importadores
De acordo com análises da Bloomberg, as empresas importadoras nos EUA enfrentarão custos adicionais de pelo menos US$ 417 milhões (aproximadamente R$ 2,39 bilhões). Tino Muratore, gerente geral da Worldlawn Power Equipment, expressou sua preocupação: “Está definitivamente afetando os negócios. Não sabemos se isso é permanente ou temporário… estamos todos meio no escuro, buscando outras opções.” O impacto não se limita apenas a números; famílias e consumidores poderão sentir o peso dessas tarifas nos preços finais.
Uma carga diversificada com custos elevados
A carga a bordo do Violet não é apenas composta por eletrônicos ou artigos de luxo; o navio trouxe uma variedade de bens de consumo e suprimentos industriais, incluindo peixes, tênis, empilhadeiras e até mesmo luvas médicas de látex. Essa diversidade reflete o impacto abrangente da guerra comercial, prejudicando tanto o comércio americano quanto a economia global.
Dilemas na cadeia de suprimento
Os efeitos das novas tarifas são complexos, envolvendo uma série de fatores como o tipo de produto, local de origem e data de embarque. A carga do Violet começou a ser carregada em Dalian, na China, enquanto os produtos chineses estavam sob uma tarifa de 20% devido à preocupação de Trump com a crise do fentanil. No entanto, à medida que o navio se preparava para deixar Xangai, um novo aumento tarifário elevou as taxas para impressionantes 145%.
Expectativas e preocupações futuras
O impacto imediato dessas tarifas pode gerar bilhões de dólares em receita para o Tesouro dos EUA. Contudo, também pode significar um peso crescente sobre os importadores americanos, que poderão repassar esses custos para os consumidores no futuro. No entanto, o aumento no número de navios cargueiros indo da China para os EUA já começa a cair, mostrando sinais de que essa perspectiva de receitas pode ser apenas temporária.
O Porto de Long Beach, por exemplo, projeta uma redução de cerca de 40% nas escalas de navios e no volume de importações entre meados de abril e maio. Isso indica um atraso típico na cadeia de suprimentos, onde as alterações tarifárias se reflete na economia global. Na sexta-feira, a China também divulgará novos dados sobre seu comércio exterior, que devem dar uma visão mais abrangente da reação dos importadores americanos às tarifas elevadas.
Um futuro incerto para negócios americanos
Para empresas como a Arctic Fisheries, a situação se torna ainda mais desafiadora. O presidente da empresa expressou a necessidade de contrair empréstimos para cobrir os custos das tarifas, mesmo antes de receber a fatura oficial. Além disso, contratos de preço fixo existentes limitam a capacidade das empresas de repassar esses custos aos clientes.
Além disso, a pressão que a política comercial de Trump exerce sobre os negócios americanos pode ameaçar a sobrevivência de muitas empresas, principalmente aquelas que já enfrentaram dificuldades devido à pandemia e à guerra entre Rússia e Ucrânia. Segundo especialistas, muitos negócios podem não conseguir se recuperar dessas pressões econômicas.
Embora a Casa Branca afirme que suas políticas estão estabelecendo uma base sólida para a recuperação a longo prazo, as preocupações sobre os custos adicionais e seu impacto nas empresas não podem ser ignoradas. As tarifas de 145% sobre produtos chineses, que entraram em vigor em 10 de abril, poderão ter repercussões duradouras para a economia dos EUA e suas relações comerciais com a China.
A guerra comercial desencadeada por Trump continua a mostrar suas consequências, não apenas nas cifras, mas nas vidas das pessoas e estratégias das empresas. As menções de recessão começam a surgir, e a luta por restauração econômica se transforma em uma corrida contra o tempo para muitas empresas que tentam manter-se à tona em meio ao turbilhão comercial.