No início de 2023, uma mudança significativa nas regras de importação nos Estados Unidos começou a preocupar os consumidores e as pequenas empresas. O presidente Donald Trump assinou uma ordem que eliminou o valor mínimo isento de impostos para pacotes internacionais, que anteriormente permitia a entrada de mercadorias com valor inferior a US$ 800 (cerca de R$ 4.100) sem a incidência de tarifas e trâmites alfandegários. A medida gerou descontentamento entre compradores, como a nova-jerseense Deborah Grushkin, que viu seu modo de consumo se tornar mais oneroso.
Impactos imediatos da mudança
A decisão de Trump foi motivada pela crescente quantidade de encomendas sendo enviadas ao país sem a devida taxação. Essa prática, conhecida como “de minimis”, permitia que mercadorias com baixo custo entrassem nos EUA sem muitas regulamentações. Durante uma década, essa isenção cresceu, tornando-se um facilitador de compras internacionais. De acordo com informes, em 2022, quase 1,4 bilhão de pacotes se beneficiaram dessa regra. Contudo, a mudança agora promete aumentar os preços e a escassez de produtos nas prateleiras.
Deborah, uma compradora habitual de sites como Shein, rapidamente se mobilizou para garantir itens antes que a nova regra entrasse em vigor. “Senti como se fosse meu último momento de liberdade”, comentou enquanto corria para concluir suas compras na plataforma, que oferece uma vasta gama de produtos a preços acessíveis.
Medidas semelhantes em outros países
A mudança nos EUA não acontece isoladamente. Países como Brasil e Reino Unido também estão considerando implementar políticas semelhantes devido ao crescimento desenfreado de plataformas de e-commerce. No Brasil, uma lei introduzida no ano passado taxou em 20% as compras internacionais de até US$ 50 (R$ 282), gerando controvérsia e temor entre os consumidores que costumavam se beneficiar de tarifas reduzidas.
Reações dos consumidores
No Mississippi, a aposentada Krystal DuFrene teve que alterar seus hábitos de compras, enfrentando preços que dispararam na plataforma Temu, onde costumava adquirir produtos acessíveis. “Vivi nervosamente em frente ao meu celular, cancelando pedidos porque os preços aumentaram drasticamente”, comentou. Krystal representa uma fração significativa de consumidores que se sentem diretamente impactados pela decisão, uma vez que seus orçamentos são limitados.
Parlamentares e defensores do consumidor alertam que o fim da isenção de tarifas pode sobrecarregar desproporcionalmente as famílias de baixa renda. Pesquisas indicam que essa mudança resultará em custos adicionais de pelo menos US$ 10,9 bilhões (cerca de R$ 54 bilhões), afetando principalmente minorias e grupos vulneráveis economicamente.
O futuro do comércio eletrônico em meio a mudanças
A nova regra se alinha com um impulso contínuo nas tarifas comerciais, incluindo impostos que chegam a 145% sobre produtos da China, o que inquieta tanto consumidores quanto pequenas empresas que dependem de importações. Dessa forma, a combinação de tarifas elevadas e a destituição das isenções pode significar o fechamento de mais pequenas empresas dos EUA que competem diretamente com gigantes do comércio eletrônico como Amazon e Walmart.
A Temu anunciou que se adaptará às novas regras, realizando vendas somente por meio de “vendedores locais”, o que poderá limitar o acesso direto dos consumidores a produtos importados. Isso, segundo especialistas, pode não garantir a redução de preços esperada pelos consumidores.
As interações entre políticas e comportamento do consumidor
Gee Davis, um jovem autor do Missouri, também expressou sua frustração com as mudanças, ressaltando que as novas restrições e tarifas financeiros representam uma cultura de privilégios. Para ele, é fundamental que as compras de “mimos” não sejam restritas apenas aos que possuem maior poder aquisitivo. “É injusto que as pessoas de menor renda sejam impedidas de acessar basicamente o que querem comprar”, afirmou.
Com as vozes de consumidores e pequenas empresas clamando por reformas e alarmes soando em todo o setor de comércio eletrônico, a questão se intensifica. Resta ver como a administração será capaz de controlar a aplicação das novas regras, já que os desafios logísticos das tarifas podem dificultar a implementação desejada.
Considerações finais
O fim da isenção de tarifas trouxe à tona um debate crucial sobre quem realmente arca com o custo do comércio internacional. As preocupações que se acumulam entre compradores e pequenos empresários sinalizam a necessidade premente de políticas mais equilibradas no futuro. O impacto dessas mudanças está apenas começando a se manifestar, enquanto a situação se desenrola no comércio. A continuidade desse cenário poderá definir não só os próximos passos do mercado, mas também a forma como consumidores e empresas interagem entre si.
À medida que o país navega por essas questões, a esperança de uma resolução justa emerge entre aqueles que dependem do comércio internacional para suprir suas necessidades e desejos diários.