A aprovação do ex-prefeito de Niterói, Axel Grael, para um programa de doutorado na Universidade Federal Fluminense (UFF), gerou uma onda de reações entre alunos da instituição. Grael, que governou Niterói de 2021 a 2024, foi aceito na modalidade de “doutorado direto”, uma alternativa que permite a candidatos sem mestrado ingressar sem passar pelo mesmo processo seletivo exigido para outros alunos. Essa decisão levantou questões sobre a transparência e a igualdade de oportunidades no acesso à academia.
O abaixo-assinado e as críticas dos estudantes
Estudantes elaboraram um abaixo-assinado pedindo a revisão da decisão que favoreceu Grael, afirmando que a escolha foi marcada pela falta de critérios claros de seleção. No documento, os alunos reclamam de um “princípio de igualdade” que deveria ser observado no ingresso ao doutorado. Eles destacam que a discussão durante a reunião que aprovou Grael focou mais nos benefícios que sua presença traria para a visibilidade do programa do que em seu mérito acadêmico.
Além disso, os estudantes criticam a falta de transparência na coordenação do programa. “Independentemente de quem seja o candidato ou do partido político deste, somos contrários a esta postura do corpo docente e da coordenação da Pós-Graduação que beneficia um em detrimento de outros”, afirmam no abaixo-assinado. Eles pedem que a decisão seja revista, pois acreditam que infringe os princípios de igualdade que regem as universidades públicas no Brasil.
A resposta da UFF e a posição de Grael
Em resposta às críticas, Axel Grael afirmou que prefere que a UFF e a Escola de Arquitetura e Urbanismo se manifestem sobre o assunto. Ele ressaltou que foi formalmente matriculado após cumprir todos os trâmites necessários e ter sua entrada aprovada. Por sua vez, a UFF defendeu que a entrada de Grael no doutorado direto cumpriu todas as normas estabelecidas pela Capes e seguiu os trâmites internos da universidade.
A modalidade de doutorado direto, embora existente em algumas universidades brasileiras, é uma prática que não replica o mesmo processo seletivo que outros estudantes devem seguir, como prova de títulos e entrevistas. Essa situação têm gerado debates sobre as condições de igualdade entre os alunos e a necessidade de processos transparentes na seleção de doutorandos.
O impacto das decisões na comunidade acadêmica
O caso não é isolado dentro do contexto acadêmico, pois a luta por igualdade de tratamento e pela transparência em processos seletivos é uma questão recorrente em diversas instituições de ensino superior. Segundo um dos alunos que participou da elaboração do abaixo-assinado, “não se trata de questionar a capacidade do ingressante, mas sim de garantir que todos — independentemente de origem ou influência — tenham acesso às mesmas regras”.
A justificativa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Werther Holzer, diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFF e orientador de Axel Grael, explicou que a decisão sobre o ingresso de candidatos ao doutorado cabe ao colegiado do programa. Holzer salientou que o projeto de pesquisa de Grael, que trata sobre mudanças climáticas, foi considerado relevante e avalizado como qualquer outro projeto apresentado por um candidato ao doutorado.
Apesar do apoio que Grael teve de 16 docentes do colegiado, houve duas professoras que se manifestaram contra sua aprovação, argumentando que o candidato deveria se submeter ao mesmo processo de seleção que todos os demais. A professora Fernanda Sanchez, uma das contrárias, destacou que a aprovação ocorreu após o encerramento do edital de seleção, evidenciando possíveis irregularidades no processo.
O que vem a seguir?
A discussão sobre a entrada de Axel Grael no doutorado direto da UFF não apenas destaca a situação do ex-prefeito, mas também lança uma luz sobre a necessidade de rever processos e critérios de seleção nas instituições de ensino superior brasileiras. O movimento estudantil se revela fundamental neste contexto, lutando por igualdade e transparência, valores essenciais para a justa convivência acadêmica.
Este caso segue sendo acompanhado de perto tanto por alunos quanto por autoridades da instituição, além da comunidade acadêmica em geral, que busca garantir que o ensino superior mantenha sua integridade e princípios de equidade entre os estudantes.