Nove meses após a queda do avião da Voepass em Vinhedo, São Paulo, que resultou na morte de 62 pessoas, familiares das vítimas criaram uma rede de apoio emocional que tem se mostrado fundamental na busca pela superação do luto. Este trágico acidente, ocorrido no dia 9 de agosto de 2024, é considerado o maior desastre aéreo do Brasil em 17 anos. O grupo, que se comunica principalmente por um aplicativo de mensagens, possibilita que os membros compartilhem experiências, troquem mensagens de conforto e mantenham viva a memória de seus entes queridos.
A importância do grupo de Whatsapp para os familiares
O grupo de Whatsapp, idealizado pela Associação de Familiares das Vítimas do Voo 2283, oferece um espaço seguro onde os parentes podem se abrir sobre suas dores e desafios. Bianca Michel Faller, advogada e tesoureira da associação, destacou a relevância do grupo: “Ali é um espaço aberto para a gente compartilhar uma frase, oração, uma música, fotos dos familiares. Esse grupo é mesmo uma rede de apoio.” Bianca, que perdeu seu tio, André Armindo Michel, no acidente, ressalta que a solidariedade entre os membros é um alicerce para enfrentar essa tristeza coletiva.
Reuniões e comunicação ativa
Além do mecanismo de apoio via Whatsapp, a associação organiza reuniões periódicas com seus associados, nas quais discutem novas estratégias e acompanham o andamento das investigações sobre o acidente. A busca por respostas também inclui solicitações à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para ter acesso aos documentos que estão sob sigilo, a fim de entender melhor as causas da tragédia.
Bianca reforça que as conversas no grupo são frequentes e ajudam todos a se sentirem acolhidos: “Temos assembleias e nossos Whatsapps à disposição de todos os familiares. Essa troca é bem ativa e existe não só entre a diretoria da associação, mas todos os familiares.”
Histórias de superação e desafios enfrentados
A viúva do copiloto do voo, Huberto de Campos Alencar, também compartilhou como a sua vida mudou drasticamente após a tragédia. Ao conversar com o g1, ela relatou o processo doloroso do luto e como teve que se adaptar financeiramente após a morte do marido, que era o provedor da família. Em busca de apoio, a viúva decidiu mudar-se de Jandira, na Grande São Paulo, para Peruíbe, onde tem um irmão que pode ajudá-la. “Fui em busca de uma rede de apoio e um custo de vida mais barato”, comentou.
A viúva, que agora precisa cuidar de seus filhos sozinha, expressou também o desejo de que a companhia aérea assumisse algumas responsabilidades, como o pagamento de despesas para terminar o túmulo do copiloto, mesmo que isso não fosse uma obrigação legal. “Eu me sentia como se estivesse pedindo um apoio que não deveria ser necessário, mas era importante para mim”, disse.
Investigação e desdobramentos legais
Enquanto a dor do luto se instala, as investigações sobre o acidente continuam. O relatório preliminar do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) revelou falhas potenciais que poderiam ter contribuído para a queda, incluindo relatos sobre a condição da tripulação e a manutenção da aeronave. Esse contexto agrava a situação, visto que muitos dos familiares das vítimas ainda aguardam respostas claras sobre o que realmente ocorreu.
Além disso, a suspensão das operações da Voepass por questões de segurança e o pedido de recuperação judicial da companhia têm gerado preocupações sobre o futuro dos processos de indenização. A associação dos familiares se mantém vigilante, buscando informações e defendendo os direitos de seus entes queridos para garantir que não fiquem sem o devido suporte financeiro.
Passos em direção à recuperação emocional
A criação dessa rede de apoio não apenas oferece conforto durante um tempo de dor, mas também estimula uma forma de solidariedade que ajuda os familiares a enfrentarem este momento tão difícil. Enquanto buscam justiça e respostas sobre o acidente, eles também aprendem a lidar com suas emoções, tornando-se um suporte essencial uns para os outros. A experiência mostra que o luto é mais fácil de suportar quando compartilhado.
À medida que o grupo continua a se reunir e a se fortalecer, os familiares das vítimas do acidente da Voepass exemplificam a resiliência do ser humano frente a tragédias coletivas, buscando, através do apoio mútuo, regenerar suas vidas após uma perda incomensurável.
Embora a dor persista, a comunidade formada ao redor dessas famílias se torna uma luz em meio à escuridão, iluminando caminhos de esperança e renovação.