Jun Taichi, 48 anos, natural do Rio de Janeiro, é um exemplo perfeito de como o amor e a cultura podem se entrelaçar e fortalecer laços. Ele cresceu em uma tradicional família japonesa ligada à gastronomia, com o pai criando a primeira churrascaria brasileira no Japão. Hoje, Taichi vive em Xangai e é um empresário respeitado no setor de alimentação. Sua história é apenas uma das muitas que ilustram como casais binacionais estão construindo suas vidas na China, enfrentando desafios e celebrando a diversidade cultural.
Uma jornada através do paladar
Taichi chegou a Xangai em 1998 com a missão de abrir a primeira churrascaria brasileira na cidade, a Latina Brazilian Steakhouse. Ao refletir sobre sua decisão, ele diz que a cultura de refeições compartilhadas na China se alinha perfeitamente ao estilo de rodízio das churrascarias brasileiras. “Xangai me conquistou pelo dinamismo e pela fusão entre modernidade e tradição chinesa”, relembra ele, tornando a cidade o cenário ideal para seu sonho culinário.
Atualmente, Taichi gerencia uma rede de 25 restaurantes e emprega 800 colaboradores em grandes cidades chinesas, como Pequim e Shenzhen. Ele encontrou não só sucesso profissional, mas também o amor, casando-se com uma chinesa e criando sua família em Xangai. “Há diferenças culturais marcantes em nosso dia a dia”, diz Taichi. Ele destaca que, enquanto os brasileiros são mais espontâneos e emocionais, os chineses se mostram mais pragmáticos e voltados para o coletivo.
Desafios e aprendizados nas relações multiculturais
Essas diferenças culturais não são apenas reflexos de suas nacionalidades, mas se manifestam em suas interações diárias. Jun Taichi menciona que, embora haja choques culturais, eles também geram debates construtivos entre ele e sua esposa. “Essas discussões nos ajudam a compreender melhor as nuances de cada cultura e fortalecer nosso vínculo”, afirma.
Gilson da Rosa, um tradutor gaúcho de 52 anos que vive na China desde 2006 e também é casado com uma chinesa, compartilha experiências semelhantes. Para Gilson, os maiores estranhamentos não estão só em seu casamento, mas em aspectos mais amplos da cultura chinesa, como o hábito de comer com a boca aberta. “Entendi que isso faz parte da cultura deles, pois acredita-se que dá mais sabor à comida. Procurei entender sem julgar”, explica.
Comunicação e mal-entendidos
Um dos principais desafios que casais binacionais enfrentam é a comunicação, que pode se tornar complexa devido às diferenças culturais e linguísticas. Gilson, que começou a aprender mandarim em 1997, ainda usa o inglês com certa frequência, pois a língua nativa de sua esposa é o cantonês. Ele ressalta que, mesmo quando todos falam a mesma língua, as diferenças culturais ainda podem gerar mal-entendidos.
“Em uma reunião familiar, uma prima da minha esposa me disse: ‘Você ainda está gordo’. Achei isso engraçado, porque na cultura brasileira isso seria considerado falta de educação”, conta ele, rindo da situação. Este tipo de franqueza é comum na China, o que pode deixar os estrangeiros desconcertados.
A convivência e o respeito mútuo
Apesar dos desafios, tanto Taichi quanto Gilson ressaltam a importância do respeito mútuo em seus relacionamentos. “Às vezes, as diferenças causam discussões, mas logo percebemos que isso não impede nossa felicidade juntos”, diz Gilson. O casal, que administra uma empresa de turismo, é um exemplo de como o amor e a comunicação são fundamentais para superar barreiras culturais.
Um aspecto que incomodou Gilson foi a quantidade de comida comprada para comemorações na cultura chinesa, levando ao desperdício. “Eu discuti isso com minha esposa, mas a verdade é que não vou mudar a cultura dela, então acabo relevando”, compartilha, mostrando como a aceitação é uma chave na convivência com as diferenças culturais.
Como Taichi e Gilson, muitos casais brindam as experiências de amor, aprendizado e respeito, mostrando que, apesar das diferenças, é possível construir laços significativos e duradouros entre culturas distintas.
Essas histórias de casais binacionais não apenas iluminam os desafios de viver em uma sociedade tão diversa, mas também destacam os belos resultados de um amor que transcende fronteiras, provando que a convivência entre culturas é não só possível, mas enriquecedora.