O Brasil vem desperdiçando a chance de se tornar um país mais conhecido entre os chineses devido à falta de iniciativas voltadas para a interação cultural. Segundo Daniel Veras, professor da pós-graduação em China Contemporânea na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, o foco excessivo nas relações comerciais e políticas tem deixado de lado aspectos culturais fundamentais. Em um mundo cada vez mais globalizado, a comunicação intercultural é vital para o fortalecimento de laços entre nações.
A importância da comunicação intercultural
Veras destaca que os desafios culturais podem ser um obstáculo para os negócios entre empresas chinesas e ocidentais. Um dos conceitos-chave em negociações na China é o guanxi, que se refere à importância das relações interpessoais no ambiente de trabalho. Essa prática é frequentemente mal compreendida por empresários brasileiros, resultando em dificuldades na adaptação e entendimento do mercado chinês. Embora as empresas chinesas tenham se esforçado para preparar seus profissionais para essa comunicação, os brasileiros ainda enfrentam um alto índice de rotatividade e adaptação.
Experiência na China e interesse pelo Brasil
Durante sua estadia na China, Veras observou que o interesse dos estudantes chineses pelo Brasil variava ao longo dos anos. Em 2006, ao lecionar para crianças em Xiantao, ele percebeu que o futebol era um grande atrativo. Entre 2007 e 2009, o enfoque mudava para questões políticas e de relações internacionais, conforme os estudantes buscavam entender melhor o Brasil no contexto da cooperação internacional.
Educação e cultura na relação Brasil-China
A interação institucional entre Brasil e China está crescendo, com 55 universidades chinesas oferecendo cursos de português. Contudo, o investimento brasileiro em iniciativas semelhantes é escasso. A motivação para o aprendizado de português na China, curiosamente, muitas vezes está mais ligada a países africanos de língua portuguesa, como Angola, do que ao Brasil em si.
Além disso, a participação brasileira em intercâmbios culturais e educacionais com a China ainda é tímida. Veras afirma que é necessário superar a abordagem puramente comercial e fortalecer o intercâmbio cultural. Para isso, é fundamental formar profissionais que compreendam a China e que dominem a língua e a cultura local.
Reconhecimento cultural do Brasil
Apesar das dificuldades, o Brasil tem se esforçado para se tornar mais conhecido na China. Elementos como futebol, carnaval, samba e churrasco se destacam, mas a literatura brasileira também tem ganhado espaço. Desde a década de 1950, obras de Jorge Amado são traduzidas para o chinês, e títulos como “Meu pé de laranja lima” de José Mauro de Vasconcelos estão sendo incorporados ao currículo escolar na China.
Entretanto, a projeção cultural não se limita à literatura. A exibição de filmes brasileiros, como “Estrada da vida”, causando estrondos na audiência, ilustra o interesse crescente pelo Brasil. A participação no Festival de Cinema de Beijing também demonstra que a cultura brasileira ainda possui um apelo significativo.
Desafios enfrentados e possíveis soluções
O choque cultural persiste, e a interação entre trabalhadores brasileiros e chineses nem sempre é fácil. Mais de 30% dos empregados brasileiros deixavam suas funções em empresas chinesas dentro de um ano, de acordo com um estudo de 2011. A elevada rotatividade é impulsionada por diferenças nas expectativas culturais e estilos de trabalho, além do horário de trabalho que muitas vezes se estende para além do esperado.
Mudar essa dinâmica requer mais do que um simples intercâmbio de informações. É fundamental que as empresas chinesas promovam treinamentos interculturais para facilitar a adaptação dos trabalhadores brasileiros. Com um entendimento mais profundo das diferenças culturais, tanto brasileiros quanto chineses podem trabalhar juntos para fortalecer suas parcerias.
Conclusão
O Brasil tem um enorme espaço para crescer nas relações com a China, especialmente por meio da promoção da cultura e da educação. Investir em comunicação intercultural e reforçar a presença cultural brasileira no país asiático pode garantir que o Brasil não apenas se torne mais conhecido, mas também que estabeleça relações mais sólidas, que vão além do comércio, levando a um futuro de cooperação e respeito mútuo.
O reflexo dessa necessidade de adaptação e aprendizagem mútua se torna evidente à medida que o Brasil busca um papel mais significativo no cenário internacional. Através da cultura e da educação, o país tem a oportunidade de moldar a sua imagem e conquistar o seu espaço nas relações globais.