O governo brasileiro está desenvolvendo um projeto inovador com o objetivo de estimular caminhoneiros e empresas do setor a substituírem o diesel por gás como combustível para suas frotas. Essa mudança, além de contribuir para a preservação ambiental, resultaria em descontos significativos nos pedágios das principais rodovias do país, que serão denominadas como “rotas azuis”. Entre as estradas que farão parte deste programa estão a Via Dutra, que conecta o Rio de Janeiro a São Paulo, a Fernão Dias, que liga São Paulo a Belo Horizonte, e a BR 163 em Mato Grosso.
Incentivos para a troca de combustíveis
O programa do governo também contempla incentivos para a adaptação de motores a gás e a troca de veículos convencionais por modelos que utilizam gás natural. No entanto, o projeto enfrenta um desafio crucial: garantir uma rede de abastecimento de gás, que inclui o biometano, um combustível renovável gerado a partir da decomposição de resíduos orgânicos.
George Santoro, secretário-executivo do Ministério dos Transportes, ressaltou que a estratégia inicial é implementar o programa pelos Pontos de Parada de Descanso (PPDs) para caminhoneiros nas rodovias. Isso já é uma obrigação prevista nas novas concessões. Santoro destacou que a instalação de postos de gás nesses locais é vital. Cito como exemplo a Via Dutra, que já conta com dois PPDs, localizados em Itatiaia (RJ) e Pindamonhangaba (SP), ambos com dutos de gás nas proximidades.
A expansão dos Pontos de Parada de Descanso
No Brasil, atualmente existem 17 PPDs em funcionamento em estradas federais e estaduais, com planos para construir mais 35 nos próximos três anos, conforme informações da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR). Esses pontos de parada surgiram como resultado da greve dos caminhoneiros em 2017 e têm serviços como banheiros, cozinhas, quartos, restaurantes e vagas para até 200 caminhões.
Segundo Marco Aurélio Barcelos, presidente da ABCR, a entidade apoia ações na área ambiental e vê o programa do governo como uma medida viável. No entanto, ele alerta que os benefícios, como os descontos nos pedágios, precisam ser discutidos cuidadosamente para evitar que outros usuários das estradas, que não utilizam gás, arcassem com os custos.
Viabilidade e desafios do programa
Barcelos afirmou: “O programa é viável e factível. No entanto, existem investimentos a serem feitos que precisam ser ponderados.” A meta do ministério é preparar a logística do abastecimento de gás ao longo de pelo menos 5 mil quilômetros de estradas nos próximos três anos. Para isso, está sendo discutida a colaboração com distribuidoras de gás, concessionárias de rodovias e fabricantes de caminhões.
Em maio, as distribuidoras deverão apresentar ao governo a lista de pontos onde será possível instalar os postos de abastecimento. Isto será parte de um trabalho de integração com as concessionárias. Além disso, os maiores fabricantes de caminhões também serão chamados a participar do projeto.
Contexto da adoção do gás como combustível
Marcelo Mendonça, diretor técnico da Associação Brasileira das Empresas Distribuidores de Gás Canalizado (Abegás), reforçou que o uso de gás em caminhões é uma prática comum em países Europeus e nos Estados Unidos, e já começa a se tornar uma realidade no Brasil. Atualmente, a frota brasileira de caminhões movidos a gás já conta com cerca de dois mil veículos, embora essa iniciativa ainda se restrinja principalmente ao setor privado. Mendonça enfatiza que a implementação de uma política pública voltada para o gás é fundamental. Existem, atualmente, 121 postos preparados para abastecimento de gás em veículos pesados no país.
Ele concluiu destacando que a ampliação do uso do gás não apenas favorece a sustentabilidade ambiental, mas também pode beneficiar a balança comercial, uma vez que o Brasil é um importador de diesel.
Esse projeto tem o potencial de transformar o setor de transporte no Brasil, reduzindo custos para os caminhoneiros e criando um ambiente mais sustentável. A expectativa é que, nos próximos anos, a transição de combustíveis contribua para um futuro mais ecológico nas estradas brasileiras.