Uma operação da Polícia Federal revelou um esquema bilionário de fraudes no INSS envolvendo descontos indevidos em aposentadorias e pensões. Estima-se que o prejuízo aos beneficiários pode chegar a R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024. A descoberta levou à demissão do presidente do instituto e ao afastamento de servidores de alto escalão.

Propina, associações de fachada e laranjas no centro do esquema
De acordo com a PF e a Controladoria-Geral da União (CGU), o esquema envolvia propina a servidores, uso de assinaturas falsas e a criação de associações fictícias. Muitas dessas entidades eram comandadas por laranjas e chegaram a operar no mesmo endereço, como no caso de duas associações em Fortaleza (CE).
Descontos em massa sem autorização e idosos como alvos
As fraudes ocorriam por meio de descontos mensais ilegais diretamente nos benefícios de aposentados e pensionistas. Em muitos casos, as vítimas sequer sabiam que estavam “associadas”. Há registros de pessoas com filiações simultâneas e erros idênticos nas fichas, indícios claros de fraude sistêmica.
‘Careca do INSS’ é apontado como elo central da operação
O lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, é citado como o articulador da rede criminosa. Ele movimentou R$ 24,5 milhões em cinco meses e controlava diretamente diversas entidades envolvidas. Sua rede de influência incluía ex-dirigentes e familiares de servidores de alto escalão do INSS.
Escala da fraude: milhões de beneficiários afetados
Levantamentos da CGU mostram mais de 740 mil pedidos de cancelamento de descontos indevidos só no primeiro semestre de 2024. Em 95,6% dos casos, os beneficiários alegaram nunca ter autorizado os descontos. A estimativa é que 6,54 milhões de pessoas tenham sido atingidas pelo esquema.
Cidades do Nordeste concentram maior número de fraudes
Maranhão e Piauí estão entre os estados com maior incidência de descontos ilegais. Em 19 cidades, mais de 60% dos aposentados e pensionistas tiveram valores retirados de seus benefícios para associações supostamente sem vínculos reais com os filiados.
Bens de luxo e dinheiro vivo: o que foi apreendido
Na operação “Sem Desconto”, a PF apreendeu R$ 41 milhões em bens, incluindo:
- R$ 1,7 milhão em espécie;
- 61 carros de luxo avaliados em R$ 34,5 milhões;
- 141 joias;
- Obras de arte.
Municípios do Piauí
Nos 9 municípios piauienses identificados pela Controladoria-Geral da União (CGU), os índices de descontos em folha de pagamento atingiram proporções alarmantes. Em Altos, Barras, Campo Maior, Corrente, José de Freitas, Miguel Alves, Parnaíba, Picos e Teresina, mais de 60% dos aposentados e pensionistas sofreram descontos mensais relacionados a mensalidades associativas — um percentual muito acima da média nacional. A maior parte desses valores foi destinada a entidades como a Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), uma das organizações investigadas e que foi alvo de mandados de busca e apreensão na operação da Polícia Federal.