Morreu neste domingo (13), em Lima, o escritor peruano Mario Vargas Llosa, aos 89 anos. Prêmio Nobel de Literatura de 2010 e último grande nome do “boom” latino-americano, Vargas Llosa deixa um legado literário universal e uma trajetória marcada por engajamento político e prestígio internacional.
Adeus a um mestre das letras
A morte de Mario Vargas Llosa encerra uma era na literatura latino-americana. A informação foi divulgada pela família do autor nas redes sociais. Segundo o comunicado, ele faleceu pacificamente em casa, cercado por familiares, e será cremado conforme seu desejo, sem cerimônia pública.
Considerado um dos principais escritores em língua espanhola do século 20, Vargas Llosa foi o último sobrevivente da geração que revolucionou a literatura da América Latina nas décadas de 1960 e 1970, ao lado de nomes como Gabriel García Márquez, Julio Cortázar e Carlos Fuentes.
Uma obra que mapeou o poder
Vargas Llosa ganhou o Nobel de Literatura por sua “cartografia das estruturas de poder” e sua abordagem da “resistência, rebelião e derrota do indivíduo”. Autor de mais de 30 romances, entre eles Batismo de fogo, Conversa na catedral, Pantaleão e as Visitadoras e A guerra do fim do mundo, escreveu sobre ditaduras, paixões humanas e crises sociais com precisão e vigor narrativo.
Foi o primeiro autor a integrar a Academia Francesa de Letras sem ter obras escritas originalmente em francês.
Reconhecimento global e reações
Governos e instituições de todo o mundo lamentaram a morte do escritor. O Peru decretou luto nacional em 14 de abril. A França, a Espanha, os Estados Unidos e outros países destacaram seu legado literário. A Fundação Gabo, criada por Gabriel García Márquez, também prestou homenagem.
“O Olimpo das letras universais abriu suas portas para ele”, afirmou a Casa Real da Espanha. Emmanuel Macron descreveu Vargas Llosa como alguém que “opôs a liberdade ao fanatismo”.
Uma vida de literatura e política
Nascido em Arequipa, no Peru, em 1936, Vargas Llosa enfrentou resistência familiar ao escolher a literatura como profissão. Foi jornalista, ativista político e, em 1990, candidato à presidência do Peru, sendo derrotado por Alberto Fujimori.
Nos últimos anos, assumiu posições políticas conservadoras e defendeu nomes como Keiko Fujimori e Jair Bolsonaro. Mesmo assim, manteve uma vida de produção intelectual intensa até os últimos meses.
Vida pessoal e legado duradouro de Mario Vargas Llosa
Vargas Llosa foi casado duas vezes, viveu em diversos países e manteve uma vida pública ativa. O episódio do rompimento com Gabriel García Márquez — com quem manteve uma amizade próxima até um famoso desentendimento — segue cercado de mistério.
Vasta produção literária e influência que atravessa fronteiras, estilos e ideologias.
Sua trajetória também foi marcada por uma inquietação intelectual que o levou a transitar entre diferentes campos da cultura. Vargas Llosa foi professor em universidades prestigiadas na Europa e nos Estados Unidos, além de ter sido presidente da associação internacional de escritores PEN. Seus ensaios são referência nos estudos sobre literatura e política na América Latina, e sua habilidade de articular análise crítica com narrativa literária lhe rendeu reconhecimento não apenas como romancista, mas também como pensador público influente.
Ao longo de sua carreira, o autor construiu uma obra multifacetada, movida por um profundo compromisso com a liberdade individual e o papel da literatura na transformação social. Seu legado permanece vivo tanto nos clássicos que escreveu quanto na sua incansável defesa da democracia e do pensamento crítico. Mario Vargas Llosa foi mais que um escritor premiado — foi um intelectual essencial para compreender a complexa identidade latino-americana do século XX e início do XXI.
Entre suas obras mais marcantes também estão Pantaleão e as Visitadoras (1973), uma sátira sobre moralidade e hipocrisia ambientada na selva amazônica; Elogio da Madrasta (1988) e Os Cadernos de Dom Rigoberto (1997), que exploram o erotismo com sofisticação literária; além de Travessuras da Menina Má (2006), um romance melancólico e cosmopolita sobre um amor obsessivo que atravessa décadas e continentes. Cada livro revela uma faceta diferente de Vargas Llosa, evidenciando sua capacidade de reinventar a si mesmo como contador de histórias, sempre atento às transformações da sociedade e à complexidade da condição humana.