Em meio a uma nova onda de mobilização promovida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, a Câmara dos Deputados enfrenta forte pressão para pautar um projeto de anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. Apesar disso, o ambiente político dentro do Congresso continua desfavorável à proposta, com líderes partidários indicando que não há disposição para avançar com o tema.
A manifestação mais recente ocorreu no último sábado (6), na Avenida Paulista, em São Paulo, reunindo apoiadores de Bolsonaro e ao menos sete governadores aliados. Durante o ato, o pastor Silas Malafaia dirigiu duras críticas ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), acusando-o de “engavetar” a proposta de anistia.
Parlamentares afirmam que não há clima para anistia
Líderes de diversas siglas, como PT, PDT e PSB, afirmam que não há clima político para aprovar a anistia aos réus dos ataques às instituições em 2023. O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), foi categórico: “Essa pressão pública é uma tática de desespero. Não vamos anistiar quem tentou destruir a democracia”.
Aliados de Hugo Motta afirmam que a decisão de não pautar o projeto se baseia na necessidade de preservar o equilíbrio entre os poderes Legislativo e Judiciário, e evitar rupturas institucionais.
Bolsonarismo pressiona e ameaça atos em redutos de parlamentares
O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), anunciou que o partido considera organizar atos no estado de Hugo Motta, na tentativa de aumentar a pressão sobre o presidente da Casa.
A estratégia, no entanto, é vista com cautela por analistas políticos, que alertam para o risco de isolamento da pauta no Parlamento. “Atos de rua podem mobilizar a base mais radical, mas não necessariamente alteram a correlação de forças dentro do Congresso”, avalia a cientista política Juliana Marins.
Impasse revela divisão dentro do Congresso e impacto eleitoral
A resistência da Câmara em abraçar o projeto de anistia revela o impasse entre os interesses da base bolsonarista e a maioria dos partidos do centro e da esquerda. Parlamentares temem o custo político de se associarem a uma iniciativa que pode ser vista como tentativa de apagar crimes contra o Estado Democrático de Direito.
A divisão interna também expõe os desafios do bolsonarismo em formar maioria parlamentar para avançar com pautas sensíveis, mesmo em ano pré-eleitoral.
A tramitação da proposta de anistia depende diretamente da vontade do presidente da Câmara. Até o momento, Hugo Motta mantém sua posição de não incluir o tema na pauta. Enquanto isso, os defensores da anistia devem continuar apostando na mobilização popular e em pressões públicas como estratégia de convencimento.