A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) divulgou uma nota técnica nesta quinta-feira em que aponta risco às exportações do agronegócio brasileiro após a imposição de uma tarifa extra de 10% pelos Estados Unidos. O novo pacote tarifário, assinado por ordem executiva do presidente Donald Trump, entra em vigor no dia 5 de abril e mira produtos de diversos países. No caso do Brasil, o impacto é considerado preocupante porque muitos dos produtos exportados têm o mercado americano como principal destino. Ou seja, a dependência dos EUA é alta, e redirecionar essas vendas para outros países pode ser difícil.
Impacto das novas tarifas nas exportações brasileiras
Para a CNA, o impacto será “crítico” ou “alto” para ao menos 19 produtos agropecuários, incluindo o sebo bovino e a madeira perfilada, que têm a maior parte de suas exportações destinadas ao mercado dos Estados Unidos. O sebo bovino, por exemplo, tem quase 88% das exportações voltadas aos EUA, enquanto a madeira perfilada conta com 75% da demanda concentrada naquele mercado.
“Antes do anúncio da medida, os produtos do agronegócio brasileiro contavam com alíquotas nominais médias de 3,9% do valor do produto. Com o acréscimo linear, estas taxas passarão a 13,9%, afetando a competitividade de artigos brasileiros”, disse a nota. Apesar do acréscimo, segundo a CNA, o Brasil estará em uma posição melhor em comparação a outros mercados que receberão taxas ainda maiores, como a União Europeia, com sobretaxas de 20%.
Produtos do agronegócio brasileiro mais afetados pela tarifa
Dentre os produtos que sentirão o impacto, destacam-se aqueles em que o Brasil domina o mercado americano, como suco de laranja, etanol e carne bovina processada. O suco de laranja resfriado, por exemplo, teve uma compra superior a 1 bilhão de litros pelos EUA em 2023. Com a nova tarifa, a alíquota passará de 5,9% para 15,9%, levando a CNA a estimar que o volume exportado pode despencar para 261 milhões de litros por ano, uma queda de mais de 70%.
Nos casos em que os produtos brasileiros competem diretamente com a produção local americana — como carne, açúcar e etanol —, o efeito da tarifa tende a ser ainda mais forte. Isso pode representar uma desvantagem significativa para os produtos brasileiros, que terão que lutar contra a proteção das indústrias locais nos EUA.
Recomendações da CNA e futuro das relações comerciais
Apesar de alertar sobre o impacto das novas tarifas, a CNA recomenda a manutenção da via diplomática como estratégia e evita retaliações imediatas. A entidade recorda que o Brasil aprovou recentemente o PL da Reciprocidade, que autoriza medidas de proteção contra barreiras comerciais unilaterais. No entanto, essas medidas só devem ser implementadas após o esgotamento das negociações com os Estados Unidos.
A situação desafia o agronegócio brasileiro a repensar suas estratégias nos EUA. O forte vínculo de dependência com o mercado americano pode se tornar um desafio crítico para os exportadores, que terão que buscar alternativas para minimizar os efeitos dessa tarifa extra. A recuperação será não apenas uma questão de adaptação, mas também de reinvenção para muitos dentro do setor, ressaltando a importância de se diversificar mercados e produtos para diminuir a vulnerabilidade nas relações comerciais internacionais.
O futuro do agronegócio brasileiro nos EUA poderá depender não apenas da habilidade de resposta às novas tarifas, mas também da capacidade de construir relações comerciais sustentáveis e mais resilientes em um cenário global em constante mudança.
Enquanto o setor aguarda definições e impactos concretos, a atenção se volta para como o governo brasileiro poderá articular estratégias para proteger os interesses do agronegócio em um dos maiores mercados consumidores do mundo.