O vice-prefeito de São Paulo, Ricardo Mello Araújo (PL), gerou polêmica ao culpar o padre Júlio Lancelotti pela instalação de uma nova cracolândia na capital. O episódio ocorreu na última quarta-feira(12), quando o vice-prefeito, em uma resposta a um internauta, referiu-se ao religioso durante uma conversa sobre dependentes químicos na região de Belenzinho, na Zona Leste. Araújo, que é alinhado politicamente ao ex-presidente Jair Bolsonaro, afirmou que a situação era “culpa do padre Júlio Lancelotti”.
Padre Júlio Lancelotti reage às declarações de Ricardo Mello
Nesta quinta-feira, o padre Júlio Lancelotti se manifestou sobre a declaração de Araújo e expressou perplexidade com a acusação.
“Perplexo com comentário do vice-prefeito de São Paulo que me coloca em situação de risco”, escreveu em suas redes sociais.
O religioso, conhecido por seu trabalho com a população em situação de rua e dependentes químicos, tem sido alvo de ataques por parte de políticos bolsonaristas, o que intensificou o debate sobre a responsabilidade no enfrentamento dos problemas sociais em São Paulo.
A continuação da disputa política
Araújo utilizou suas redes sociais para divulgar uma ação que visa a destruição de cortiços na região, justificando que essa medida faz parte da sua luta contra o tráfico de drogas. O vice-prefeito, que é ex-comandante da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), tem adotado uma postura agressiva em relação ao tema, buscando alinhar suas ações à narrativa bolsonarista.
Esse embate entre Mello Araújo e padre Júlio não é um episódio isolado. Desde 2024, o religioso tem enfrentado questionamentos de políticos que questionam sua atuação como filantrópico.
O vereador Rubinho Nunes (União), por exemplo, tentou aprovar CPIs na Câmara Municipal para investigar as ações do padre, afirmando que existe uma “máfia da miséria” que se beneficia da boa-fé dos cidadãos.
As tentativas de Nunes se tornaram objeto de repúdio quando ele, ao comentar suas propostas, passou a mencionar Lancelotti. Em meio a essa pressão, o próprio vereador, que havia acumulado apoio para suas propostas, enfrentou um revés ao ver alguns aliados desistirem de apoiá-lo.
A Polícia Civil, em resposta às ações do vereador, instaurou um inquérito por suposto abuso de autoridade, o que indica a gravidade das acusações feitas pelo político. “Não citei mais o padre, mas ele é associado a uma situação de irregularidade”, declarou Nunes.
Relações com a População
A situação envolvendo Júlio Lancelotti e Ricardo Mello Araújo traz à tona uma discussão mais ampla sobre as relações entre políticos e religiosos que atuam na sociedade. Enquanto Lancelotti busca oferecer suporte e assistência aos dependentes químicos e moradores de rua, Araújo defende uma abordagem mais punitiva e repressora, segundo o que suas declarações indicam.
O debate em torno desse tema reflete não apenas a luta política entre diferentes ideologias, mas também a dificuldade que a sociedade enfrenta para lidar com as questões de dependência química e a marginalização social. A resposta de Lancelotti, enfatizando sua perplexidade com as acusações, mostra que o papel do religioso vai além do assistencialismo e se defronta com um jogo político complexo.
O confronto entre a abordagem de Mello Araújo e a visão que Lancelotti defende tende a continuar. De um lado o apelo por uma abordagem mais humana e solidária, como a que Lancelotti representa, permanecem centrais na agenda urbana. Do outro, a visão mais pragmática de combate à violência do vice-prefeito de São Paulo.