A China deu um passo significativo na escalada da guerra comercial com os Estados Unidos, anunciando nesta terça-feira a implementação de tarifas adicionais que variam de 10% a 15% sobre diversas importações de alimentos, incluindo soja, trigo e frango. Essa decisão surge em decorrência do aumento das tarifas gerais impostas pelo governo Trump sobre as exportações chinesas, que foi dobrado. A China impõe tarifas adicionais que iniciarão sua vigência em 10 de março.
Impacto das tarifas chinesas nas exportações agrícolas dos EUA
O Ministério das Finanças chinês comunicou que importações como frango, trigo, milho e algodão terão uma tarifa adicional de 15%. Outras categorias, incluindo soja, carne suína, carne bovina, produtos aquáticos, frutas, vegetais e laticínios, enfrentarão um acréscimo de 10% nas tarifas. Essa resposta já levanta preocupações entre os agricultores americanos, especialmente considerando que muitos deles estão prestes a iniciar o plantio da safra da próxima temporada.
A soja é particularmente relevante nesse cenário, representando uma das mais importantes exportações dos EUA para a China, com quase 50% das vendas norte-americanas desse produto destinadas ao país asiático no último ano. A expectativa é que a imposição dessas tarifas impacte diretamente os preços e a viabilidade das exportações agrícolas dos EUA.
Razões por trás da retaliação chinesa
A medida tomada pela China posiciona-se como uma resposta calculada às ações da administração Trump. De acordo com Henry Gao, professor de direito na Singapore Management University, a resposta da China até o momento tem sido “comedida e proporcional”, refletindo uma estratégia de evitar a escalada da tensão entre as duas potências. A urgência nas negociações é acentuada pelo fato de que uma revisão das conformidades chinesas em relação ao primeiro acordo comercial está prevista para abril.
Além das tarifas alimentares, Pequim também anunciou medidas adicionais, incluindo a inclusão de empresas de defesa dos EUA em uma lista de entidades não confiáveis. Essas medidas dificultarão a aquisição de peças e equipamentos essenciais por parte das empresas impactadas, o que poderá resultar em efeitos cascata nas cadeias de produção e fornecimento.
A situação econômica da China
Estas novas tarifas ocorrem em um momento crítico, logo antes da maior reunião política do governo chinês do ano, onde serão anunciadas políticas econômicas para 2025. A expectativa é de que o governo busque estimular o consumo interno para compensar eventuais perdas nas exportações. A complexidade desse cenário sugere que a China não está apenas respondendo a tarifas norte-americanas, mas também adaptando sua estratégia econômica a um ambiente global em mudança.
A resposta da China até agora tem sido mais contida em comparação com a primeira guerra comercial entre os dois países, ocorrida entre 2018 e 2019, quando as tarifas americanas foram significativamente mais pesadas, levando a uma drástica diminuição das exportações de soja — que chegaram a cair quase 80% nesse período, favorecendo o Brasil na captura desse mercado.
A guerra comercial
Com as tensões comerciais se intensificando, a situação permanece volátil. Os EUA planejam novas tarifas sobre todas as importações de metal na próxima semana e estão elaborando medidas adicionais que podem ser apresentadas em abril, visando a redução do déficit comercial americano. Para muitos economistas, essas ações, se não geridas adequadamente, podem aprofundar a incerteza econômica global.
“As medidas até agora são relativamente moderadas,” comenta Lynn Song, economista-chefe para a Grande China no ING Bank. Ela destaca que a atual retaliação da China indica uma postura de paciência por parte do governo chinês, que evita “virar a mesa” apesar das crescentes tensões.
À medida que os dois países seguem nesse embate, as consequências das tarifas e outras medidas retaliatórias são amplamente antecipadas, tanto para os mercados globais quanto para os consumidores, que podem enfrentar custos crescentes. Sendo assim, o desenrolar dessa relação comercial será crucial para os próximos meses.
Com a incerteza pairando sobre as negociações, resta saber como será o impacto real dessas tarifas tanto nos mercados americano quanto chinês, e qual será o próximo movimento estratégico de ambos os lados.