Brasília – A presidente nacional do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) foi anunciada nesta sexta-feira (28) como a nova ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), pasta responsável pela articulação política do governo Lula. A nomeação, no entanto, ocorre sob forte desconfiança do Congresso, especialmente do Centrão, devido ao histórico de embates da petista com o Legislativo.
Gleisi assume o cargo em um momento de tensão, após críticas contundentes ao Parlamento, no qual acusou congressistas de agir com “ganância” sobre os recursos do Orçamento e de impor uma “faca no pescoço” do governo ao pressionar contra o veto de Lula a emendas parlamentares.
Histórico de embates e críticas ao Congresso
As declarações de Gleisi contra o Congresso não são recentes. Em janeiro de 2024, quando Lula enfrentava pressões para liberar mais recursos de emendas parlamentares, a deputada afirmou que o Legislativo estava impondo “chantagem” ao governo.
No dia 26 de janeiro de 2024, a petista usou as redes sociais para reforçar o tom crítico:
Congresso já vai ficar com R$ 47 bilhões do Orçamento por conta de emendas e ainda exige mais R$ 5bi! É muita ganância pelos recursos que deviam servir ao país como um todo. Isso já não é mais política. É faca no pescoço!
As falas ampliaram o desgaste com parlamentares, que interpretaram as críticas como uma demonização da prática de negociação de emendas—fundamental para o funcionamento da governabilidade no presidencialismo brasileiro.
Congresso reage com desconfiança à nomeação de Gleisi
A indicação de Gleisi não foi bem recebida por setores do Congresso. Integrantes do Centrão, principal bloco de apoio do governo no Legislativo, avaliam que a petista terá dificuldades para reconstruir pontes.
A relação entre o governo e os parlamentares já vinha desgastada desde a decisão de Lula de vetar parcialmente emendas de comissão, mecanismo pelo qual o Congresso tem autonomia para decidir o destino de recursos do Orçamento sem a intermediação do Executivo.
Segundo interlocutores do Planalto, a nomeação pode gerar retaliações, dificultando a aprovação de projetos do governo. Entre os temas que podem ser afetados estão a reforma tributária e o marco das garantias, ambos considerados prioritários para o segundo ano de gestão de Lula.
Aposta de Lula é um risco calculado ou erro estratégico?
A escolha de Gleisi para a articulação política sinaliza uma prioridade do presidente pelo alinhamento ideológico dentro do governo, em detrimento de concessões ao Congresso. O entendimento no Planalto é que o Centrão já possui influência suficiente sobre o governo, e que manter a SRI sob controle do PT reforça a coesão política do núcleo palaciano.
“Isso já não é mais política. É faca no pescoço!”, Gleisi em janeiro de 2024
No entanto, há dúvidas sobre até que ponto essa estratégia pode ser sustentada. Ao escolher Gleisi, Lula ignora alertas de aliados sobre a necessidade de um perfil mais conciliador para o cargo. Além disso, a resistência do Congresso pode levar a atritos que dificultem a execução da agenda governista.
O que está em jogo? Implicações políticas da nomeação
Os desafios de Gleisi à frente da SRI envolvem não apenas destravar negociações com o Congresso, mas também reverter a percepção de que o governo trata os parlamentares como adversários.
Entre as questões centrais que estarão sob sua responsabilidade estão:
✅ Conduzir o diálogo para garantir aprovação de projetos prioritários, como a reforma tributária e o marco das garantias.
✅ Administrar a relação com o Centrão, evitando novos embates que possam prejudicar o governo.
✅ Negociar a destinação do Orçamento de 2025, garantindo recursos para programas sociais sem gerar novos impasses com o Legislativo.
Por que as emendas parlamentares são motivo de tensão?
As emendas parlamentares são instrumentos pelos quais deputados e senadores destinam recursos do Orçamento para obras e projetos em suas bases eleitorais. Tradicionalmente, elas são uma moeda de troca na relação entre o Executivo e o Legislativo.
A disputa sobre o controle dessas emendas tem sido um dos principais focos de atrito entre Lula e o Congresso desde o início do governo. O veto parcial de Lula a emendas de comissão, que concentram valores expressivos, aumentou a insatisfação dos parlamentares, tornando mais difícil a negociação de projetos do governo.
A nomeação de Gleisi Hoffmann pode colocar o governo em um embate direto com o Congresso. Resta saber se a petista conseguirá reverter a resistência dos parlamentares ou se a escolha de Lula acabará agravando ainda mais a crise política.
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