A imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta um processo de derretimento progressivo em seu terceiro mandato, algo que se confirma não apenas pelos indicadores de desaprovação nas principais capitais do Sudeste, mas também pela perda de popularidade em seu outrora inquestionável reduto do Nordeste. Essa conjuntura revela problemas de ordem estrutural e de competência política que, em vez de serem solucionados com ações efetivas, vêm sendo postergados por um governo que parece cada vez mais desconectado da realidade socioeconômica do país.
Historicamente, o Nordeste concedeu a Lula e ao Partido dos Trabalhadores (PT) amplas margens de vitória em pleitos eleitorais, em grande parte graças ao impacto de políticas sociais como o Bolsa Família. No entanto, os dados recentes de pesquisas como Datafolha e Ipec indicam que a aprovação presidencial despencou em estados-chave, a exemplo da Bahia (57% de rejeição) e Pernambuco (55%).
Trata-se de um sinal claro de que as populações locais estão insatisfeitas com a qualidade dos serviços públicos, o aumento do desemprego, a alta da inflação e a redução ou adequação de programas de transferência de renda.
A pasta do Desenvolvimento Social, sob a responsabilidade de Wellington Dias, torna-se o epicentro das frustrações populares, pois o Bolsa Família vem sendo gradualmente remodelado, enfrentando dificuldades de financiamento e de alcance.
O que chama a atenção neste cenário é a aparente falta de timing do governo para agir de modo a conter a deterioração da sua imagem. Em meio à turbulência econômica, Lula não conseguiu apresentar respostas estruturantes, limitando-se a promessas genéricas de retomada do crescimento e a iniciativas de investimento em infraestrutura que, apesar de louváveis, batem de frente com a realidade do aperto fiscal.
Nesse ínterim, a pressão sobre Wellington Dias aumenta. O ministro, que deveria servir como figura central para reverter a insatisfação no Nordeste, passa agora a carregar o estigma de um fracasso gerencial, abrindo espaço para a cizânia na base aliada. Caso não haja mudanças profundas, Dias pode virar o elo mais fraco a ser substituído, numa manobra típica para estancar a sangria política e proteger o presidente e sua cúpula.
Tal risco se acentua quando lembramos a relevância dos aliados regionais do PT, como MDB e PDT, que começam a sinalizar impaciência diante do quadro de estagnação. À medida que prefeitos e governadores nordestinos notam a crescente insatisfação popular, torna-se cada vez mais provável uma migração de apoios para legendas de centro ou direita, em especial aquelas ligadas ao bolsonarismo.
A perda de controle do eleitorado nordestino representaria um golpe duríssimo ao PT, já que a região sempre funcionou como um contrapeso fundamental para equilibrar a rejeição que Lula e o partido enfrentam em outros estados, notadamente no Sudeste.
A pergunta que se impõe é: como estancar essa queda de popularidade antes que ela se torne irreversível? Observa-se, por um lado, uma possível guinada no discurso econômico do governo, que pode recorrer a um novo pacote de investimentos. Porém, sem espaço fiscal consistente, a manobra pode muito bem resultar em promessas vazias ou projetos inexequíveis no médio prazo. Por outro lado, a eventual substituição de Wellington Dias no Ministério do Desenvolvimento Social seria uma tentativa de alçar um novo nome capaz de reaver a confiança do eleitorado. Contudo, a mudança isolada de um ministro não resolverá as fragilidades estruturais da atual gestão e corre o risco de se configurar como um mero artifício para conter danos.
O fato é que o Nordeste não parece mais inclinado a conceder ao presidente Lula o benefício da dúvida. As dificuldades econômicas persistem, e a percepção de que a agenda social perdeu força aumenta a cada dia. Nesse vácuo, a oposição de direita está atenta e pronta para explorar as falhas governamentais, oferecendo discursos simplificados, porém sedutores para parcelas desencantadas da população.
Se Lula não reorientar de forma urgente e eficaz as prioridades do governo, é provável que, pela primeira vez em muitos anos, uma ampla parcela do eleitorado nordestino abra caminho para o avanço de candidaturas conservadoras, rompendo um monopólio eleitoral que o PT julgava sólido.
Em suma, o desgaste na imagem de Lula e a incapacidade do governo federal de ofertar saídas reais para a crise econômica e social pavimentam o caminho para uma recomposição política no Nordeste. A história recente do país mostra que, em situações de insatisfação crescente, as mudanças podem ser rápidas e implacáveis.
Se o governo não apresentar resultados concretos na geração de empregos, na contenção da inflação e, sobretudo, na manutenção efetiva de seus programas sociais, arrisca-se a ver esfarelar não apenas sua hegemonia na região, mas também o projeto de poder que vem sustentando o PT há décadas.