Brasil, 3 de março de 2025
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Noite de luto em Israel com a chegada dos corpos de quatro reféns

Familiares aguardavam na porta do Centro de Medicina Forense. Foto: BroadCast

Jerusalém – A noite estava escura e silenciosa. Um comboio de vans brancas surge no horizonte e avança lentamente pela pista iluminada pelos faróis. À frante, carros da polícia israelense. O comboio, discreto e sem alarde, carregava consigo parte do peso de uma tragédia se prolonga por meses. Dentro dos veículos, os corpos de quatro reféns israelenses retornavam a sua terra natal.

Era mais de meia-noite, pelo horário de Brasília, quando entraram no Centro Nacional de Medicina Forense de Israel. Foram anos de cativeiro na Faixa de Gaza.

Na beira da pista, além das autoridades e militares, um pequeno grupo aguardava em silêncio. Entre eles, uma senhora de idade, envolta em um casaco grosso, segurava uma bandeira de Israel. Seus olhos estavam fixos nos veículos que se aproximavam, mas sua mente parecia distante, perdida no tempo – talvez em lembranças de um filho, um neto, um irmão que nunca mais voltaria para casa.

As vans pararam, e o momento de silêncio que se seguiu foi quase insuportável. Os soldados israelenses se posicionaram para receber os corpos. Nenhuma palavra foi dita, nenhum grito foi ouvido. Apenas o vento frio da noite e o farfalhar das bandeiras de Israel, seguradas com força pelas poucas mãos presentes.

Vans transportavam os corpos de quatro reféns israelenses liberados pelo Hamas em troca de prisoneiros.
Vans transportaram os corpos de reféns israelentes. Foto: BroadCast

Os caixões foram retirados um a um. As Forças de Defesa de Israel (FDI) fariam exames para confirmar suas identidades, mas os nomes já haviam sido anunciados pelo Hamas antes da entrega: Tsachi Idan, Itzik Elgarat, Ohad Yahalomi e Shlomo Mantzur.

A entrega aconteceu de forma discreta. Israel havia condenado o espetáculo promovido pelo Hamas em outras ocasiões, e desta vez, o retorno se deu sem câmeras, sem multidões, apenas com a dor íntima dos que ficaram para trás.

Em troca, dezenas de prisioneiros palestinos deixavam a prisão de Ofer, transportados em um ônibus da Cruz Vermelha, rumo à Cisjordânia. Mais uma troca, mais um capítulo do frágil cessar-fogo que, a qualquer momento, poderia ruir.

A senhora de idade não chorou. Apenas fechou os olhos por um instante, segurando a bandeira ainda mais forte. O luto era conhecido por ali. A guerra ainda não tinha terminado.

Troca de corpos por prisioneiros expõe fragilidade do cessar-fogo entre Israel e Hamas

A entrega dos corpos dos quatro reféns israelenses pelo Hamas, na noite desta quarta-feira (26), marcou mais uma etapa do acordo de cessar-fogo mediado por Estados Unidos, Catar e Egito. Em contrapartida, Israel libertou dezenas de palestinos da prisão de Ofer, que foram transferidos para a Cisjordânia por um ônibus da Cruz Vermelha.

A troca ocorre em um momento de tensão crescente, com acusações de descumprimento do acordo por ambos os lados. O Hamas afirma que não avançará para a segunda fase das negociações enquanto Israel não libertar todos os prisioneiros palestinos previstos no acordo. Já o governo israelense acusa o grupo palestino de submeter os reféns a tratamentos humilhantes antes da soltura, o que levou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a adiar a libertação de 602 prisioneiros no último sábado (22).

A troca desta quarta-feira, feita sem cerimônias públicas, difere das anteriores, quando o Hamas realizou eventos filmados para exibir os reféns antes da libertação. Organizações de direitos humanos e a ONU condenaram essas práticas, classificando-as como desrespeitosas e traumatizantes para as vítimas.

A incerteza sobre a segunda fase do acordo

O cessar-fogo, que já dura 42 dias, foi firmado com a promessa de que 33 reféns – vivos ou mortos – seriam devolvidos pelo Hamas, em troca da libertação de quase 2.000 prisioneiros palestinos. Essa primeira fase expira no próximo sábado (1º de março) e, até o momento, as negociações para sua continuidade estão paralisadas.

A segunda fase do acordo prevê a libertação total dos reféns restantes e a retirada das tropas israelenses da Faixa de Gaza. No entanto, o governo de Netanyahu já indicou que, caso não haja avanços concretos, está pronto para retomar os combates no território palestino.

Diante do impasse, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enviou seu representante para o Oriente Médio, Steve Witkoff, na tentativa de destravar as negociações. Até agora, porém, as conversas não avançaram. Israel sinaliza que pode estender a primeira fase do acordo, garantindo a soltura de mais reféns, mas sem se comprometer com discussões sobre o futuro de Gaza ou sobre a retirada total de suas tropas.

O conflito continua

Apesar da trégua, a guerra entre Israel e Hamas segue devastando a região. Nesta quarta-feira (26), Israel realizou o enterro de uma mãe e seus dois filhos pequenos, mortos em cativeiro na Faixa de Gaza.

Os corpos de Shiri Bibas, de 9 meses, e de seu irmão Ariel, de 4 anos, foram entregues ao governo israelense como parte do acordo. Israel afirma que evidências forenses indicam que as crianças foram assassinadas pelos sequestradores em novembro de 2023, enquanto o Hamas nega a acusação e alega que a família morreu junto com seus guardas em um ataque aéreo israelense.

O conflito começou em outubro de 2023, quando o Hamas lançou um ataque ao sul de Israel, deixando cerca de 1.200 mortos e sequestrando aproximadamente 250 pessoas. Desde então, Israel iniciou uma ofensiva militar contra a Faixa de Gaza, resultando em mais de 48.000 mortes, segundo o Ministério da Saúde do Hamas. Mulheres e crianças compõem mais da metade das vítimas, e 90% da população do território foi deslocada devido à destruição da infraestrutura.

Com o prazo do cessar-fogo se esgotando e as negociações travadas, o Oriente Médio se mantém à beira de uma nova escalada do conflito.

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