O Piauí permanece ainda hoje entre os estados mais pobres do Brasil, mesmo após décadas de políticas assistencialistas que, ao invés de promover o desenvolvimento sustentável, se sabem bem hoje que apenas aprofundaram a dependência da população em relação ao Estado.
O modelo seguido por sucessivos governos, incluindo os quatro mandatos de Wellington Dias, não apenas falhou em reduzir a pobreza estrutural, como também reforçou um ciclo de estagnação econômica que mantém o estado preso a índices alarmantes de desigualdade e baixa produtividade
Esse fenômeno não é exclusivo do Piauí, um continente todo vive a mesma realidade e deve servir de exemplo do que não se deve fazer. A África, um continente que recebeu bilhões de dólares em ajuda humanitária ao longo das últimas décadas, também permanece atolada na miséria.
O economista queniano James Shikwati argumenta que as doações internacionais não só não resolvem os problemas africanos, como ainda os aprofundam. Em vez de incentivar o desenvolvimento produtivo e a autonomia econômica, o dinheiro externo enfraquece o setor privado, desestimula o empreendedorismo e mantém a população dependente de esmolas estatais ou estrangeiras. Como resultado, criou-se uma economia artificial, onde a miséria persiste e se renova a cada geração, sem perspectivas de transformação real.
O mesmo acontece no Piauí. O estado consolidou-se como um dos mais dependentes de programas de transferência de renda do Brasil, chegando a ter mais pessoas recebendo ajuda estatal do que em empregos, sejam formais ou não, onde a conta não fecha. Em 2017, a transferência per capita do Bolsa Família no estado foi de R$ 213,98, enquanto a média nacional era de R$ 89,77.
Mesmo com essa assistência, os índices de extrema pobreza permaneceram altos: 33,2% das famílias piauienses estavam abaixo da linha da miséria, mesmo após o recebimento do Bolsa Família, enquanto a média nacional foi inferior a 25%. Esses dados deixam claro que os auxílios não promovem mobilidade social, apenas administram a pobreza, garantindo que ela se perpetue.
Além disso, a economia do estado é extremamente frágil e pouco diversificada. O PIB per capita do Piauí em 2015 era de R$ 8.820,00, menos da metade da média nacional, que era de R$ 21.170,00. No ano seguinte, essa discrepância se manteve, com o PIB per capita estadual caindo para R$ 8.560,00, enquanto o Brasil registrou R$ 20.190,00.
Esse quadro reflete uma economia pouco dinâmica, incapaz de gerar empregos formais e oportunidades reais de ascensão social. Pior ainda, o Piauí tem uma das maiores dependências do setor público no Brasil: 42,52% do Valor Adicionado da economia vem da Administração Pública, enquanto a média nacional é 23,01%. Isso significa que grande parte da atividade econômica do estado depende diretamente dos gastos governamentais, uma característica típica de economias subdesenvolvidas e vulneráveis.
Essa dependência econômica também tem impactos culturais e comportamentais. No passado, o interior do Piauí possuía uma economia não-monetária de subsistência baseada na agricultura e na pecuária familiar. As famílias criavam galinhas, porcos, plantavam feijão e milho, garantindo a própria sobrevivência sem depender do governo. No entanto, com a ascensão do assistencialismo, duas gerações foram criadas sem essas habilidades básicas. Hoje, muitos sequer sabem produzir o próprio alimento e, diante da falta de auxílios, passam fome porque perderam a capacidade de se adaptar e se sustentar. O assistencialismo gerou uma psicologia da mendicância, um comportamento passivo onde o indivíduo espera que o Estado resolva todos os seus problemas, ao invés de buscar soluções próprias. Criados como animais em cativeiro, essas pessoas não têm mais a resiliência necessária para enfrentar a dureza da vida no semiárido, tornando-se cada vez mais vulneráveis à fome, ao desemprego e até à criminalidade.
A economista zambiana Dambisa Moyo faz uma crítica semelhante em seu livro Dead Aid, onde argumenta que a ajuda internacional, em vez de impulsionar o crescimento econômico da África, condenou o continente à dependência crônica. Ela aponta que, apesar do influxo bilionário de dinheiro externo, a renda per capita em diversos países africanos é menor hoje do que era na década de 1970, e mais de 50% da população vive com menos de um dólar por dia. Da mesma forma, o Piauí, mesmo sendo um dos estados que mais recebeu recursos de programas sociais, continua ostentando um dos piores índices de desenvolvimento humano do país. Em 2021, o IDHM ajustado do Piauí era de apenas 0,550, abaixo da média nacional, que chegou a 0,618.
Enquanto o Piauí permanece preso nesse ciclo vicioso, o Ceará mostra um caminho oposto. No passado, o estado cearense enfrentava desafios socioeconômicos semelhantes, mas adotou uma política de pleno empreendedorismo, incentivo ao empresariado e redução de tributos, criando um ambiente mais favorável ao crescimento econômico. O resultado? O Ceará hoje é um dos estados mais desenvolvidos do Nordeste, com um setor privado forte e um mercado de trabalho mais dinâmico. Enquanto isso, o Piauí segue estagnado, com uma estrutura econômica engessada e dependente dos repasses federais.
E se o Piauí quiser romper com esse modelo falido, se precisa urgentemente trocar o assistencialismo crônico pelo fortalecimento da economia local. Isso significa reduzir a dependência do setor público, incentivar o empreendedorismo, melhorar o ambiente de negócios e recuperar a cultura do trabalho. O estado deve aprender com os exemplos internacionais e regionais, deixando de lado a política da esmola estatal e investindo em um modelo que gere riqueza e independência. Caso contrário, seguirá condenado à mesma armadilha que aprisiona a África: um lugar onde a pobreza não é combatida, apenas gerenciada, garantindo que novas gerações continuem presas à dependência estatal, sem perspectivas reais de crescimento e autonomia.
Ou é isso ou será sempre pobre e pobre de marré, marré.
*José Ribas Neto é jornalista.