O Brasil dará um passo inédito na produção de ímãs de terras raras, componentes essenciais para motores de carros elétricos, turbinas eólicas, painéis solares e dispositivos eletrônicos. A fabricação nacional desses ímãs começa em maio de 2025, no Laboratório de Produção de Ímãs de Terras Raras (Labfab ITR), em Lagoa Santa (MG).
Atualmente, mais de 90% da produção global desses ímãs está concentrada na China, que já anunciou que interromperá as exportações até o final do ano. O Brasil, que possui a terceira maior reserva mundial de terras raras, busca reduzir sua dependência externa e agregar valor à sua produção mineral.
A iniciativa é liderada pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), que investiu R$ 35 milhões na aquisição da unidade da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge). O projeto conta ainda com parcerias de 16 empresas e investimentos estimados em R$ 73 milhões de diferentes fontes, incluindo empresas privadas, governo e Senai.
Os ímãs de terras raras são utilizados em diversos setores industriais, incluindo tecnologias de defesa, telecomunicações, eletrônicos e energia renovável. Sem esses componentes, equipamentos como turbinas eólicas, motores de veículos elétricos e sistemas de comunicação por satélite não funcionariam adequadamente.
A fabricação nacional permitirá que o Brasil tenha maior autonomia na produção de insumos estratégicos para a transição energética e o avanço tecnológico. Com isso, o país poderá fortalecer sua posição no mercado global e impulsionar o desenvolvimento de cadeias produtivas associadas à eletrificação e armazenamento de energia.
Investimentos e capacidade de produção
A capacidade inicial da fábrica será de 100 toneladas de ímãs por ano. Em 2025, a produção estimada é de cinco toneladas, e a meta para 2026 é de oito toneladas anuais, podendo dobrar a capacidade para atender à demanda nacional e internacional.
“Esse é o primeiro lugar do Brasil e, possivelmente, das Américas, a fabricar esses ímãs”, afirmou Flávio Roscoe, presidente da Fiemg.
Brasil entra no mercado estratégico de terras raras
Os ímãs de terras raras são usados em:
- Motores de veículos elétricos
- Turbinas eólicas
- Geradores de energia e baterias
- Circuitos de celulares, lâmpadas LED e painéis solares
- Máquinas de raio-X e discos rígidos de computadores
Para fabricar os ímãs, são utilizados três dos 17 minerais de terras raras: neodímio, praseodímio e disprósio. Cada torre eólica, por exemplo, consome duas toneladas desses concentrados, enquanto um motor elétrico pode exigir mais de um quilo.
A demanda global por terras raras deve crescer até seis vezes até 2040. O Brasil tem potencial para atender entre 10% e 15% do mercado mundial na próxima década.
Brasil inicia produção de ímãs de terras raras, exploração e impacto na economia
A extração de terras raras no Brasil ocorre desde 1886, mas a produção se concentrava na areia monazítica do litoral da Bahia ao Rio de Janeiro. Agora, os minerais virão de argila iônica, encontrada em regiões onde havia vulcões há milhões de anos.
Os investimentos na extração incluem R$ 4,6 bilhões em Minas Gerais e quase R$ 2 bilhões na Bahia e Goiás.
A produção dos ímãs também se alinha ao Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover), iniciativa do governo federal que incentiva a inovação e a descarbonização no setor automotivo, promovendo a fabricação de veículos de baixa emissão.
Os 17 minerais de terras raras e suas aplicações
- Lantânio (La) – Câmeras, lentes ópticas e baterias de carros elétricos
- Cério (Ce) – Catalisadores automotivos e polimento de vidros
- Praseodímio (Pr) – Ímãs para motores elétricos e turbinas eólicas
- Neodímio (Nd) – Ímãs de alto desempenho em hard disks e motores elétricos
- Promécio (Pm) – Baterias nucleares e iluminação especial
- Samário (Sm) – Ímãs para fones de ouvido e motores de precisão
- Európio (Eu) – Telas de LED e televisores
- Gadolínio (Gd) – Equipamentos de ressonância magnética
- Térbio (Tb) – Lâmpadas fluorescentes e ligas metálicas
- Disprósio (Dy) – Ímãs de alto desempenho para motores e turbinas eólicas
- Hólmio (Ho) – Lasers médicos e ímãs supercondutores
- Érbio (Er) – Fibras ópticas e equipamentos de telecomunicações
- Túlio (Tm) – Dispositivos de raios X portáteis
- Itérbio (Yb) – Sensores de radiação e baterias de célula combustível
- Lutécio (Lu) – Detectores de radiação e scanners médicos
- Escândio (Sc) – Ligas leves para a indústria aeroespacial
- Ítrio (Y) – Supercondutores e telas de smartphones
A fabricação desses ímãs no Brasil representa um avanço significativo na industrialização dos minerais de terras raras e fortalece a competitividade do país no cenário internacional.