O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira (17) que a inflação brasileira, atualmente entre 4% e 5%, está dentro de um patamar considerado “relativamente normal” desde a implementação do Plano Real. A declaração foi feita durante o painel “Um caminho para a resiliência dos Mercados Emergentes”, na Conferência do FMI, realizada em Al-Ula, na Arábia Saudita.
“O Brasil tem feito um trabalho, tentando encontrar um caminho de equilíbrio e sustentabilidade, mesmo em fase de um ajuste importante. O Brasil deixou uma inflação de dois dígitos há três anos. Hoje temos uma inflação em torno de 4% a 5%, que é uma inflação relativamente normal para o Brasil desde o Plano Real há 26 anos”, afirmou Haddad.
Inflação e juros altos: impacto do câmbio na economia
Apesar da estabilidade em relação ao passado recente, a inflação brasileira segue pressionada por fatores externos, como a valorização global do dólar. Segundo Haddad, essa alta da moeda americana influenciou os preços no Brasil no segundo semestre de 2023, o que levou o Banco Central a adotar uma política monetária mais rígida para conter os efeitos da inflação.
“Com a valorização do dólar pelo mundo, isso acabou nos fazendo ter problemas com inflação no segundo semestre do ano passado. Por isso, o Banco Central teve de intervir para garantir que a inflação fosse controlada”, explicou o ministro.
Na primeira reunião sob o comando do novo presidente do BC, Gabriel Galípolo, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Taxa Selic para 13,25% ao ano, com sinalização de um novo aumento para 14,25% em março.
Valorização do real pode aliviar inflação e conter juros
Haddad destacou que o recente fortalecimento do real frente ao dólar pode contribuir para a estabilização dos preços e evitar novos aumentos de juros. Segundo ele, a moeda norte-americana caiu cerca de 10% nos últimos 60 dias, o que pode ajudar no controle da inflação.
“O aumento das taxas será no curto prazo. O dólar voltou a um nível adequado e caiu 10% nos últimos 60 dias. Acho que isso vai fazer com que a inflação se estabilize”, disse o ministro.
A valorização do real pode reduzir o custo de produtos importados, como insumos industriais e combustíveis, aliviando a pressão sobre os preços internos e permitindo que o Banco Central adote uma postura menos agressiva na política de juros.
Ajuste fiscal e crescimento econômico
Durante sua participação na conferência, Haddad também defendeu que o ajuste fiscal do governo não comprometeu o crescimento econômico do país. Ele destacou que, em 2024, a economia brasileira cresceu 3,5%, segundo estimativas do governo.
Dados divulgados pelo Banco Central nesta segunda-feira mostram que o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) – considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB) – registrou uma alta de 3,8% em 2024 em relação ao ano anterior. O resultado reforça a tese do governo de que o ajuste fiscal tem sido bem-sucedido sem provocar recessão.
“O Brasil tem feito um trabalho de equilíbrio econômico, garantindo um crescimento sustentável. Tivemos uma taxa de crescimento de 3,5% no ano passado, e isso demonstra que o ajuste fiscal não foi recessivo”, afirmou Haddad.
Juros, inflação e câmbio
O futuro da economia brasileira dependerá de três fatores principais:
📌 Decisões do Banco Central sobre a Selic – caso a inflação se mantenha elevada, a tendência é que os juros continuem subindo, impactando o crédito e o consumo.
📌 Evolução da inflação nos próximos meses – se o índice se aproximar do teto da meta de 4,5%, o governo pode precisar adotar novas medidas para contê-la.
📌 Comportamento do câmbio – a continuidade da valorização do real pode aliviar pressões inflacionárias e reduzir a necessidade de aumentos adicionais na Selic.
A fala de Haddad sinaliza otimismo sobre a estabilidade da economia, mas os desafios permanecem para o governo Lula.