Brasília – A morte de Juscelino Kubitschek, um dos presidentes mais marcantes da história do Brasil, volta a ser investigada quase cinco décadas depois do suposto acidente automobilístico que tirou sua vida e a de seu motorista, Geraldo Ribeiro, em 22 de agosto de 1976. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em parceria com a Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), decidiu reabrir o caso diante de novas evidências e questionamentos que lançam dúvidas sobre a versão oficial.
A decisão será formalizada em uma reunião da CEMDP marcada para esta sexta-feira (14), em Recife. O objetivo é aprofundar a análise das inconsistências e falhas na investigação original, que há anos alimentam suspeitas de que a morte de JK pode não ter sido um mero acidente, mas sim um assassinato político orquestrado pelo regime militar (1964-1985).
Acidente ou assassinato? A longa controvérsia sobre a morte de Juscelino Kubitscheck
![Morte de Juscelino Kubitscheck foi acidente ou assassinato?](https://sp-ao.shortpixel.ai/client/to_webp,q_glossy,ret_img,w_1024,h_576/https://diario.dopovo.com.br/wp-content/uploads/2025/02/opala-juscelino-kubitscheck-1978-1024x576.jpg)
A versão oficial sempre sustentou que Kubitschek morreu em um acidente de carro na Rodovia Presidente Dutra, quando seu Opala colidiu com um ônibus da Viação Cometa e bateu de frente contra um caminhão. Essa conclusão foi reforçada pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), que, em seu relatório final, atribuiu a tragédia a um choque mecânico, sem indícios de intervenção externa.
No entanto, outras investigações chegaram a conclusões diferentes. A Comissão Municipal da Verdade de São Paulo, por exemplo, declarou que JK foi assassinado, apontando para um possível complô da ditadura. Entre os indícios que sustentam essa tese está um fragmento metálico encontrado no crânio do motorista Geraldo Ribeiro, que alguns especialistas acreditam ser uma bala.
Essa teoria, no entanto, foi contestada por laudos periciais oficiais, que afirmam que o fragmento se tratava de um cravo metálico usado em caixões. A nova investigação busca esclarecer essas discrepâncias e inconsistências, além de examinar novos elementos que possam ter sido ignorados ou subestimados.
Falhas na investigação original levantam suspeitas
Desde a época do acidente, a condução da investigação foi repleta de falhas e contradições que levantam dúvidas sobre a versão oficial. Entre os principais pontos questionáveis, destacam-se:
🔹 Interdição da pista: O local do acidente não foi interditado na Rodovia Presidente Dutra, o que comprometeu a preservação de provas e dificultou uma investigação detalhada.
🔹 Exames toxicológicos incompletos: Enquanto um exame toxicológico foi realizado no corpo de JK, o motorista Geraldo Ribeiro não passou pelo mesmo procedimento, limitando a compreensão das circunstâncias do acidente.
🔹 Contradições nos laudos: As análises dos veículos envolvidos apresentaram resultados divergentes, com fotos do Opala mostrando danos diferentes em dias distintos, gerando dúvidas sobre a integridade das evidências coletadas.
🔹 Substituição de peritos e ameaças a testemunhas: Durante a investigação, houve relatos de substituição de especialistas responsáveis pelos laudos e ameaças a testemunhas que poderiam ter informações relevantes sobre o caso.
🔹 Erro judicial: O motorista do ônibus da Viação Cometa, Josias de Oliveira, foi injustamente acusado e processado, reforçando a tese de que a investigação original pode ter sido manipulada.
🔹 Fragmento metálico no crânio do motorista: A presença de um objeto metálico na cabeça de Geraldo Ribeiro levantou suspeitas de que ele poderia ter sido baleado antes da colisão, o que transformaria o caso de um acidente para um possível homicídio premeditado.
Divergências nos laudos periciais
![Opala de Juscelino Kubitscheck foi desmanchado no pátio de uma delegacia.](https://sp-ao.shortpixel.ai/client/to_webp,q_glossy,ret_img/https://diario.dopovo.com.br/wp-content/uploads/2025/02/juscelino-kubitsckeck-acidente-1024x576.jpg)
Outro fator que justifica a reabertura do caso são as inconsistências nos laudos periciais que analisaram os veículos envolvidos. Dois documentos, o Laudo de Vistoria e o Laudo de Identidade de Tinta, apresentaram conclusões que não se alinham, gerando mais dúvidas sobre o que realmente aconteceu naquela tarde de 1976.
📌 Laudo de Vistoria:
- Concluiu que o ônibus da Viação Cometa não estava na velocidade indicada pelos laudos do Instituto de Criminalística.
- Apontou que não havia marcas de frenagem do Opala, o que seria esperado em uma colisão acidental.
📌 Laudo de Identidade de Tinta:
- Indicou que a tinta do Opala apresentava contaminações compatíveis com as do ônibus, confirmando que houve colisão.
- Apesar de confirmar o choque, as divergências com o Laudo de Vistoria indicam que a dinâmica do acidente pode ter sido alterada ou mal interpretada na investigação original.
Essas contradições reforçam a necessidade de uma nova perícia independente, que possa esclarecer os detalhes técnicos do ocorrido e descartar qualquer possibilidade de manipulação das provas.
Implicações da reabertura do caso
Se a investigação confirmar que Juscelino Kubitschek foi assassinado, o caso se tornará um dos maiores crimes políticos da história do Brasil, podendo reconfigurar a narrativa oficial sobre a atuação do regime militar contra adversários políticos.
A decisão do governo Lula de reabrir o caso também deve acirrar os debates políticos no país, especialmente entre aqueles que defendem que crimes cometidos durante a ditadura devem ser revistos e responsabilizados. Por outro lado, setores conservadores podem interpretar a medida como uma tentativa de reabrir feridas do passado.
Independentemente da motivação, o fato é que a morte de JK sempre esteve cercada de mistério e desconfiança. Com a nova investigação, o Brasil pode finalmente ter respostas mais concretas sobre um dos eventos mais enigmáticos de sua história política.
![Juscelino Kubitscheck durante campanha na década de 1950](https://sp-ao.shortpixel.ai/client/to_webp,q_glossy,ret_img,w_1024,h_576/https://diario.dopovo.com.br/wp-content/uploads/2025/02/juscelino-kubitscheck-ruas-1024x576.jpg)
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