Brasil, 22 de fevereiro de 2025
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Anistia do 8 de Janeiro divide Senado e pode recolocar Bolsonaro no jogo para 2026

De autoria do senador Marcio Bittar, o projeto de anistia do 8 de Janeiro está em análise na Comissão de Defesa da Democracia.
Jair Bolsonaro e Lula: se anistia passar, os dois podem se enfrentar em 2026. Ilustração: Fábio Sérvio

Brasília – Projetos de anistia do 8 de Janeiro para envolvidos nos ataques estão gerando divisão entre os senadores brasileiros e expondo posições políticas. O tema começa a ganhar força há pouco mais de um ano antes da eleição. Tanto integrantes da esquerda como da direita vêem na anistia política uma oportunidade de alinhamento com suas bases e engajamento dos eleitores. Mas a questão vai muito além e pode se tornar o principal xadrez para 2026.

PL 1.068/2024, de Marcio Bittar, é anistia ampla e irrestrita

O projeto principal de anistia aos envolvidos na suspota tentativa de golpe, de autoria do senador Marcio Bittar (União), o Projeto de Lei (PL) nº 1.068/2024 está em análise. Aprovado, restaura os direitos políticos e mandatos, buscando encerrar o que Bittar descreve como “perseguição” contra cidadãos por suas posições ideológicas.

Pontos-chave do projeto de lei apresentado pelo senador Marcio Bittar:

  1. Anistia Ampla: O projeto concede anistia a todos os envolvidos nos atos de vandalismo ocorridos em Brasília abrangendo “todos os crimes e contravenções penais” relacionados a esses eventos.
  2. Restauração dos Direitos Políticos: A proposta visa restaurar os direitos políticos daqueles que foram declarados inelegíveis por conta de suas ações durante as eleições de 2022.
  3. Restauração dos Mandatos Eletivos: Caso aplicável, o projeto também busca restaurar mandatos eletivos perdidos como resultado das condenações relacionadas aos eventos de janeiro.

O PL, como lei ordinária, pode ser aprovada por maioria simples nas duas casas do Congresso Nacional, porém, é fácil de ser modificado ou revogado por futuras leis.

Davi Alcolumbre é contrário ao tema anistia do 8 de Janeiro

Ninguém menos que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, é contra discutir a anistia este ano. Alcolumbre não se manifestou explicitamente sobre votar a anistia este ano no Senado. No entanto, ele expressou que a discussão sobre anistia “não vai pacificar o Brasil” e que o Congresso deve evitar temas que intensifiquem a polarização política. 

“A agenda do brasileiro não é essa. É a gente trabalhar todos os dias, incansavelmente, para diminuir a pobreza no país” declarou Alcolumbre, em recente entrevista.

Mudança no comando do Congresso Nacional já tem nome e sobrenome, mas pouca renovação prática
Senador Davi Alcolumbre (União-AP). Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

O presidente do Senado também afirmou que o Legislativo não pode se furtar ao debate sobre qualquer assunto, mas isso não significa apoio à proposta. Portanto, embora ele admita a possibilidade do debate, não há indicações claras de prioridade para votação da anistia em 2025.

Omar Aziz(PSD) é outra voz no Senado contrária ao tema. O senador Astronauta Marcos Pontes e todos os senadores da direita apoiam a votação do projeto, argumentando pela necessidade de diálogo e justiça proporcional. O tem enfrenta resistência entre parte dos 81 senadores. Mas quem tem maioria no Senado hoje, a direita ou a esquerda?

O benefício se extenderia aos generais do Exército envolvidos nas investigações relacionadas aos atos de 2023, entre eles, o General Walter Souza Braga Netto, ex-ministro-chefe da Casa Civil e ministro da Defesa no governo Bolsonaro, Iindiciado pela PF por crimes relacionados à tentativa de golpe. General Augusto Heleno, Ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo Bolsonaro, apontado como parte da “Inteligência Paralela” que coletava informações para auxiliar na condução do susposto golpe. General Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, chefiou o Comando de Operações Terrestres (Coter), suspeito de ter consentido com a adesão ao susposto golpe, sendo responsável operacional pelo emprego da tropa caso a medida se concretizasse.

Davi Alcolumbre deu a senha ao dizer que a discussão “não vai pacificar o Brasil”. A anistia se tornaria, na verdade, o tema central das eleições 2026 e engajaria a direita nas eleições. Seria, talvez, o combustível para mobilizar as ruas e as redes sociais, e isso o governo não quer.

Porque no atual, onde a economia está ruim, o governo Lula erra na comunicação e a direita domina as redes sociais, como demonstrou o deputado Nikolas Ferriara (PL), discutir o tema na véspera da eleição presidencial seria dar munição para os bolsonaristas irem às ruas é estar a um passo do precipício eleitoral da esquerda que seria colocar na boca do povo que iria às ruas o grito de impeachment.

A direita vai tentar ir às ruas pelo impeachment de Lula ou pela anistia de Jair Bolsonaro

Deputado federal Nikolas Ferreira (PL) convoca manifestação contra Lula.
Nikolas Ferreira quer manifestantes nas ruas pelo impeachment de Lula. Foto: Vinicius Loures / Câmara dos Deputados

Uma carta na manga da direita

Mas o Projeto de Lei não é a única saída. Outras propostas relacionadas à anisita também estão em discussão, a principal delas, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 70/2023– e essa é carta na manga da direita.

Além de propor a anistia aos envolvidos diratemente aos ataques em Brasília, a PEC 70/2023 também quer restaurar os direitos políticos dos cidadãos declarados inelegíveis em decorrência das eleições de 2022.

Altera o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias para conceder anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023 e restaurar os direitos políticos dos cidadãos declarados inelegíveis em face de atos relacionados às Eleições de 2022, diz a ementa da proposta.

A PEC requer aprovação por três quintos dos votos nas duas casas do Congresso Nacional para alterar a Constituição, entretanto, ferece maior estabilidade jurídica porque está inserida na Constituição Federal, sendo mais difícil revogá-la posteriormente.

A proposta que pode colocar Bolsonaro no jogo de 2026

A proposta beneficia diretamente figuras políticas da direita como o ex-presidente Jair Bolsonaro, numa espécie de anistia cruzada, que pode restaurar os direitos políticos do principal lider da direita no Brasil, reabilitando-o para concorrer à presidência no próximo ano. Talvez por essa carta na manga, Bolsonaro tem sido tão cauteloso em apoiar outro nome, sempre reiterando que ele é o “Plano A”, como disse em recente entrevista.

“O plano A sou eu, o plano B sou eu também e o plano C sou eu. A não ser depois da minha morte física ou política em definitivo que eu vou pensar em um possível nome”, disse Bolsonaro em 6 de dezembro de 2024.

A aprovação da PEC da anistia significa que figuras públicas afetadas por decisões judiciais relacionadas à eleição de 2022 poderiam ter suas sanções revertidas. É este é o caso do ex-presidente.

Jair Bolsonaro foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em junho de 2023 por oito anos, devido a duas principais razões, as duas, relacionadas às eleições de 2026:

  1. Abuso de Poder Político e Uso Indevido dos Meios de Comunicação: Em julho de 2022, Bolsonaro realizou uma reunião no Palácio da Alvorada com embaixadores estrangeiros, onde fez afirmações sem provas sobre o sistema eleitoral brasileiro. Essa reunião foi transmitida pela TV oficial do governo e considerada como uso eleitoral indevido do aparato estatal.
  2. Comemorações do 7 de Setembro: Bolsonaro também foi condenado por abuso durante as comemorações do Bicentenário da Independência em setembro de 2022. O TSE entendeu que houve uso eleitoreiro das celebrações, incluindo a participação no desfile militar e eventos paralelos que beneficiaram sua campanha

Com a aprovação da Proposta de Emenda Constinucional ele seria anistiado dessas condenações.

A confiança de Bolsonaro em seu retorno ao jogo eleitoral em 2026 depende dos votos que a PEC precisaria para ser aprovada no Congresso Nacional. Três quintos representam, na Câmara dos Deputados, 308 votos, e no Senado, 49 votos.

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