O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira (3) que os recém-eleitos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal “não terão problema” na relação com o Poder Executivo. A declaração foi dada após encontro com Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), escolhidos no último sábado (1º) para comandar as casas legislativas pelos próximos dois anos.
A composição do Congresso é um dos fatores mais determinantes para o sucesso ou fracasso das pautas governamentais, e Lula sabe disso. Em um ambiente polarizado e fragmentado, garantir uma base de apoio sólida é fundamental para evitar entraves em projetos estratégicos. O presidente acena para o diálogo, mas a governabilidade ainda depende de uma equação delicada que envolve interesses partidários, negociações de cargos e alianças de conveniência.
Promessas de governabilidade e pragmatismo político
No encontro realizado no Palácio do Planalto, Lula enfatizou que os projetos enviados ao Congresso terão “interesse vital para o povo brasileiro”, descartando iniciativas meramente partidárias. Além disso, prometeu consultar previamente as lideranças políticas antes de encaminhar qualquer proposta.
A fala do presidente sugere um esforço para consolidar um ambiente de “normalidade institucional”, em que Executivo e Legislativo trabalhem de maneira harmônica. No entanto, na prática, essa sintonia depende da disposição do Congresso em atender às pautas do governo, muitas vezes trocando apoio por emendas parlamentares e cargos no segundo escalão.
O discurso de pacificação também se estendeu às diferenças ideológicas. Segundo Lula, os embates partidários que marcaram o processo eleitoral agora precisam ser deixados em segundo plano. “Eu tenho certeza que a nossa convivência será um exemplo de fortalecimento da democracia brasileira”, declarou o presidente.
Mas, se por um lado o Executivo busca um canal aberto com o Legislativo, por outro, os presidentes da Câmara e do Senado assumem o desafio de equilibrar os interesses do governo com as pressões de seus pares no Parlamento.
Alcolumbre e Motta: equilíbrio ou pragmatismo?
Davi Alcolumbre retorna à presidência do Senado após vencer a disputa com 73 votos dos 81 senadores, superando Marcos Pontes (PL-SP) e Eduardo Girão (Novo-CE). Sua vitória representa a força do centrão e reforça sua influência nos bastidores da política. No discurso de posse, Alcolumbre disse querer um Legislativo “forte, altivo e equilibrado”, reafirmando a necessidade de parceria com o Executivo.
O senador também pontuou que crises políticas artificiais devem ser evitadas, defendendo um Congresso comprometido com entregas concretas à sociedade. “A gente não tem tempo de criar crise aonde não existe, porque o nosso tempo tem que ser aproveitado integralmente para entregar para as pessoas”, afirmou.
Já na Câmara dos Deputados, Hugo Motta obteve 444 votos dos 513 parlamentares, sendo o mais jovem presidente da Casa desde a redemocratização. Ele demonstrou disposição para construir uma “pauta positiva” e um ambiente de “diálogo e harmonia” com os outros poderes.
A postura conciliadora dos novos comandantes do Congresso é um sinal positivo para o governo Lula, mas o pragmatismo político deve ser a tônica dos próximos meses. O centrão, grupo político ao qual Motta e Alcolumbre são próximos, costuma apoiar governos em troca de vantagens estratégicas e não hesita em mudar de posição caso seus interesses sejam contrariados.
Desafios e a primeira batalha no Congresso
Com o início dos trabalhos legislativos nesta segunda-feira (3), os parlamentares já se preparam para a formação das comissões temáticas permanentes, que desempenham um papel essencial na tramitação de projetos e na fiscalização do Executivo. A escolha dos presidentes dessas comissões será um termômetro para medir a real força da base governista dentro do Congresso.
O governo Lula precisa articular uma maioria funcional para aprovar matérias-chave, como reformas econômicas, políticas de bem-estar social e regulamentações fiscais. Em um Parlamento com forte presença de oposição e um centrão que sempre cobra caro por sua lealdade, essa tarefa exigirá habilidade política, capacidade de negociação e concessões estratégicas.
A estabilidade política prometida pelo presidente dependerá menos de discursos otimistas e mais da capacidade de costurar alianças que garantam governabilidade sem comprometer a agenda de interesse público. Se Lula conseguirá equilibrar essa equação nos próximos dois anos, só o tempo dirá.