A transição energética global está em curso, e o hidrogênio verde desponta como um dos protagonistas dessa transformação. Enquanto os Estados Unidos recuam nas políticas de energias renováveis, diversos países ao redor do mundo aceleram investimentos e projetos para consolidar sua posição na nova ordem econômica e geopolítica baseada em energia limpa. O Brasil, assim como outras nações emergentes, busca se posicionar como um dos líderes dessa revolução energética.
O Hidrogênio verde e sua relevância global
O hidrogênio verde é obtido por meio da eletrólise da água, utilizando energia renovável, como solar e eólica, para separar o hidrogênio do oxigênio sem emissões de carbono. Essa alternativa se diferencia do hidrogênio cinza, que é produzido a partir de combustíveis fósseis e gera grandes quantidades de CO₂.
Segundo a consultoria Rystad Energy, mais de mil projetos de hidrogênio verde já foram anunciados globalmente, representando investimentos da ordem de US$ 350 bilhões. Além disso, 46 países já publicaram planos estratégicos para viabilizar essa tecnologia, indicando que a transição para o hidrogênio verde é uma tendência irreversível.
Na América do Sul, o Chile desponta como um dos principais polos de desenvolvimento do hidrogênio verde. O país tem promovido uma integração entre diferentes ministérios para desenvolver projetos na área. Em agosto de 2023, foi inaugurada em Santiago a primeira planta industrial de hidrogênio verde, que visa abastecer baterias de guindastes de uma rede de supermercados.
A corrida pelo hidrogênio verde
A competição entre os países para liderar essa nova economia energética é intensa. China, Estados Unidos, Alemanha, Espanha, França e Austrália estão entre os principais investidores na tecnologia. A União Europeia já criou o Banco de Hidrogênio, com aportes iniciais de € 800 milhões em subsídios, saindo na frente nessa corrida.
A Austrália também se destaca, aproveitando condições semelhantes às do Brasil, como um vasto litoral e investimentos robustos em energia renovável. O país pretende atingir a marca de 2 milhões de toneladas de hidrogênio verde até 2030, além de já ter implementado um sistema de certificação para garantir que toda a cadeia produtiva tenha emissão zero de carbono.
Outro país que busca protagonismo na produção de hidrogênio verde é a Arábia Saudita, que captou US$ 8,4 bilhões para desenvolver um projeto na cidade futurista de Neom, construída do zero para ser um modelo de economia sustentável.
Brasil: oportunidade única para liderar o setor
O Brasil aparece como um dos países com maior potencial para produção de hidrogênio verde devido a seus recursos naturais abundantes e capacidade instalada de energias renováveis. Segundo o relatório da Rystad Energy, o país está entre os 10 primeiros no ranking global de projetos anunciados.
A proximidade com mercados consumidores, como a Europa, e o baixo custo da energia renovável são diferenciais competitivos para que o Brasil se torne um grande exportador de hidrogênio verde nos próximos anos. Além disso, a demanda do G7 por hidrogênio verde pode crescer entre quatro e sete vezes até 2050, abrindo novas oportunidades comerciais.
A Alemanha, por exemplo, tem financiado projetos de hidrogênio verde em outros países para garantir o suprimento dessa fonte energética no futuro. O país já conta com 91 postos de abastecimento para veículos movidos a hidrogênio, consolidando-se como pioneiro na inovação desse setor.
Desafios para a produção em larga Escala
Apesar das oportunidades, a expansão do hidrogênio verde enfrenta desafios, como o alto custo de produção e a necessidade de infraestrutura específica para armazenamento e transporte. A China leva vantagem nessa disputa por ser a maior produtora global de hidrogênio e por fabricar eletrolisadores (equipamentos essenciais para a produção de hidrogênio verde) em larga escala, reduzindo os custos da tecnologia.
Outro ponto de atenção é a integração da produção com políticas públicas eficientes. Países como Alemanha, Japão e França já estabelecem parcerias estratégicas para impulsionar essa indústria e garantir segurança energética a longo prazo.
Perspectivas futuras e a nova geopolítica da energia
O avanço do hidrogênio verde pode gerar mudanças significativas na geopolítica energética mundial. Atualmente, o mercado é dominado por países produtores de combustíveis fósseis, como Rússia, Arábia Saudita e Estados Unidos. No entanto, a ascensão do hidrogênio verde pode redistribuir esse poder entre novos atores, como Brasil, Chile e países africanos, que têm grande potencial de produção de energia renovável.
Na África, países como Marrocos, Egito, Quênia, Mauritânia, Namíbia e África do Sul já apostam na produção de hidrogênio verde como uma forma de industrializar suas economias de maneira sustentável. Algumas projeções indicam que esse mercado pode aumentar o PIB dessas nações entre 6% e 12%.
O Futuro é verde
A transição para o hidrogênio verde já é uma realidade, e os países que conseguirem sair na frente na produção dessa energia limpa terão vantagem na nova economia global. O Brasil tem grande potencial para se consolidar como um líder nesse setor, mas para isso precisará atrair investimentos, garantir regulação eficiente e promover incentivos ao desenvolvimento da tecnologia.
O desafio agora é garantir que o hidrogênio verde seja economicamente viável e acessível, transformando-se em uma alternativa competitiva aos combustíveis fósseis e contribuindo para um mundo mais sustentável.