O Brasil enfrenta um cenário alarmante de desastres climáticos, com um aumento de 460% em eventos extremos desde os anos 1990, conforme revelou o estudo “2024 – O Ano Mais Quente da História”, da Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica. Entre secas severas, enchentes e tempestades, o impacto das mudanças climáticas é devastador, tanto para as comunidades quanto para a economia do país. O ano de 2024, considerado o mais quente já registrado, trouxe à tona os custos ambientais e humanos de um planeta em aquecimento acelerado.
O impacto do aquecimento global no Brasil
De 1991 a 2023, cada aumento de 0,1°C na temperatura média global provocou um crescimento proporcional nos desastres climáticos no Brasil. Segundo o levantamento, 360 novos registros de eventos extremos surgiram para cada pequeno aumento de temperatura, enquanto o impacto na elevação da superfície do oceano gerou 584 novos casos.
O estudo analisou 64.280 desastres climáticos registrados em 5.117 municípios brasileiros (92% do total) nos últimos 32 anos. Desses, metade correspondeu a secas, enquanto inundações, enxurradas e tempestades representaram 46%. Mais de 219 milhões de pessoas foram afetadas, incluindo mortos, desalojados, desabrigados e enfermos. Somente nos últimos quatro anos, 78 milhões de brasileiros sofreram diretamente com os efeitos dessas tragédias.
Um custo econômico crescente do clima
Os prejuízos financeiros seguem a mesma curva ascendente. Entre 1995 e 2023, os desastres climáticos causaram perdas de R$ 547,2 bilhões. A média anual de prejuízos desde 2020 é de R$ 47 bilhões, mais que o dobro dos R$ 22 bilhões anuais registrados na década anterior.
A pesquisadora Aline Martinez, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que coordenou o estudo, alerta: “Estamos vendo um impacto direto da expansão urbana e do uso intensivo de bens naturais no agravamento dos desastres climáticos. É preciso repensar como lidamos com o meio ambiente para proteger as pessoas.”
2024 – O ano mais quente da história
O ano de 2024 foi oficialmente o mais quente já registrado, com a temperatura global atingindo uma média de 1,6°C acima dos níveis pré-industriais, ultrapassando o limite de 1,5°C definido pelo Acordo de Paris. Esse marco foi exacerbado pelo fenômeno climático El Niño, que aquece as águas do Oceano Pacífico, intensificando secas e enchentes.
No Brasil, 60% do território sofreu com secas extremas, enquanto incêndios devastaram a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal. O estado do Rio Grande do Sul enfrentou sua maior inundação, afetando 95% dos municípios. Esses eventos reforçam a relação direta entre as mudanças climáticas e o impacto no cotidiano brasileiro.
A urgência de medidas preventivas
Para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, os especialistas defendem uma abordagem focada na redução de emissões de carbono e na adaptação climática. Ambientes naturais como florestas, manguezais, restingas e recifes de corais desempenham papel crucial como sumidouros de carbono, e sua proteção é essencial para frear a crise.
Segundo Janaina Bumbeer, gerente de projetos da Fundação Grupo Boticário: “Os dados mostram que precisamos agir agora e de forma ambiciosa. Aumentar o investimento e fortalecer políticas ambientais são passos indispensáveis para proteger o futuro.”
No entanto, o Brasil tem reduzido os recursos destinados à prevenção de desastres. Entre 2012 e 2023, o orçamento para gestão de riscos caiu em média R$ 200 milhões por ano, dificultando a implementação de ações estruturais, como monitoramento, mapeamento de áreas de risco e sistemas de alerta.
Um plano para o futuro
Os pesquisadores envolvidos no estudo propõem a criação de planos climáticos municipais que incorporem diretrizes nacionais e adaptem soluções às realidades locais. Além disso, sugerem o aumento do investimento em soluções baseadas na natureza, como restauração de áreas degradadas e infraestrutura resiliente.
A cientista Aline Martinez destaca a importância de preparar as cidades para os desafios climáticos: “Cada dólar investido em prevenção pode economizar até 15 dólares em recuperação pós-desastre. É um caminho que salva vidas e reduz custos.”