Brasília – As negociações para a formação de uma federação entre o Partido Democrático Trabalhista (PDT) e o Partido dos Trabalhadores (PT) têm gerado tensões internas no PDT e podem levar à desfiliação de um de seus principais nomes, o ex-ministro e ex-presidenciável Ciro Gomes. A articulação tem como objetivo superar a cláusula de barreira e envolve conversas com outros partidos, como PV e PSB, mas esbarra na postura ideológica de Ciro, que se mantém como opositor ao PT.
Desde 2023, Ciro adotou uma posição de afastamento em relação ao governo petista, rompendo inclusive com seu irmão, o senador Cid Gomes, por discordâncias em relação às gestões de Lula e do governador cearense Elmano de Freitas (PT). Pessoas próximas a Ciro afirmam desconhecer as tratativas e não confirmam sua possível saída do PDT, mas avaliam que, caso a federação com o PT avance, o ex-presidenciável dificilmente permanecerá no partido.
Ciro enfrenta pressão de parte da bancada do PDT na Câmara dos Deputados, que defende sua expulsão do partido. Essa insatisfação decorre de um desempenho eleitoral ruim do PDT nas eleições municipais de 2024, onde o partido perdeu muitos prefeitos, incluindo em Fortaleza36. Apesar das pressões, a cúpula do PDT tem descartado a ideia de expulsão e busca manter a unidade dentro do partido36.
Crise no PDT e desafios eleitorais
Além da tensão em torno da federação, o PDT enfrenta dificuldades em seu reduto histórico no Ceará. Nas eleições municipais de 2024, o partido sofreu uma drástica redução em sua base, elegendo apenas cinco prefeitos no estado, contra os 67 conquistados em 2020. Em Fortaleza, o prefeito José Sarto (PDT) ficou em terceiro lugar e não conseguiu se reeleger, algo inédito na história da capital cearense.
O PSB foi o grande beneficiado com o enfraquecimento do PDT no Ceará, atraindo prefeitos ligados a Cid Gomes. Essa reconfiguração política pode aprofundar a crise no partido e tornar ainda mais inviável a permanência de Ciro caso a federação com o PT, PSB ou PV avance. A aliança com o PV, um partido mais alinhado à esquerda e parte da base do governador Elmano, também é vista como problemática por Ciro.
Movimentos de Ciro e possíveis desfiliações
Ciro Gomes tem adotado uma postura mais crítica ao PT e se aproximado da direita, gerando desconforto na direção nacional do PDT, comandada pelo ministro da Previdência, Carlos Lupi, e pelo deputado André Figueiredo. Durante o segundo turno das eleições municipais em Fortaleza, aliados de Ciro apoiaram André Fernandes (PL), em oposição à orientação de neutralidade dada pelo PDT. Na ocasião, Ciro criticou abertamente o candidato petista Evandro Leitão, a quem associou a escândalos de corrupção.
Caso a federação com o PT se concretize, lideranças avaliam que não apenas Ciro, mas outros nomes de peso, como o ex-prefeito Roberto Cláudio, também podem deixar o PDT. Cláudio, por exemplo, é cotado para disputar uma vaga no Senado pelo PL em 2026, partido que busca consolidar sua base de lideranças no Ceará.
Futuro incerto
Embora não tenha mandato desde 2022, Ciro ainda exerce influência simbólica e continua a observar os movimentos internos da sigla.