Brasília – A ausência do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), na cerimônia de assinatura da concessão para a recuperação da BR-381, realizada nesta quarta-feira (22) no Palácio do Planalto, se transformou em palco para críticas incisivas por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seus ministros. O evento, que marcou um passo histórico para a duplicação da “Rodovia da Morte”, também evidenciou a crescente polarização entre o governo estadual e federal.
Zema fora de cena foi um gesto calculado?
Convidado para a cerimônia, Zema optou por não comparecer, decisão que foi interpretada por muitos como um gesto político deliberado. Governador de um estado estratégico e possível nome para a corrida presidencial de 2026, Zema tem mantido uma postura de distanciamento em relação ao governo federal, alinhando-se mais ao ex-presidente Jair Bolsonaro, de quem é aliado. Sua ausência alimentou especulações sobre um cálculo político para reforçar sua independência e diferenciação em relação à gestão petista.
No entanto, a ausência veio acompanhada de críticas contundentes de Lula e seus ministros, que acusaram Zema de ingratidão diante das ações do governo federal em prol de Minas Gerais.
Lula e ministros respondem com comparações
Durante o evento, o presidente Lula destacou os esforços de sua administração para atender às demandas de Minas Gerais, um estado historicamente negligenciado em termos de infraestrutura. Ele citou o projeto de renegociação das dívidas estaduais e a concessão da BR-381 como exemplos de ações concretas que beneficiam diretamente os mineiros.
“A palavra ‘obrigado’ é tão simples, mas para falar obrigado é preciso ter grandeza”, afirmou Lula, em uma alfinetada direta ao governador. “As pessoas têm que ter caráter, humildade, para agradecer uma coisa que é feita.”
O ministro dos Transportes, Renan Filho, reforçou o discurso de Lula com dados comparativos. Segundo ele, enquanto o governo de Jair Bolsonaro realizou seis leilões rodoviários em quatro anos, a gestão Lula já alcançou nove em apenas dois anos, incluindo quatro dedicados a Minas Gerais. “É uma pena que o governador não esteja aqui para reconhecer o que está sendo feito por Minas como nunca antes”, declarou.
Rui Costa, ministro da Casa Civil, seguiu o mesmo tom, acusando Zema de agir com ingratidão. Ele destacou que Lula deixou questões políticas de lado para priorizar o estado, colocando os interesses dos mineiros acima das divergências partidárias.
A estratégia de comunicação do governo
A ausência de Zema também serviu para reforçar a nova estratégia de comunicação do governo federal, liderada pelo ministro Sidônio Palmeira. A orientação é clara: não deixar críticas sem resposta e sempre contrastar os números da gestão Lula com os do governo anterior. A cerimônia foi um exemplo prático dessa abordagem, com os discursos voltados para evidenciar a superioridade dos investimentos e iniciativas petistas em relação ao período bolsonarista.
Uma oportunidade perdida para Minas Gerais?
O projeto de concessão da BR-381 é amplamente reconhecido como um marco para Minas Gerais. A duplicação de trechos da rodovia e a inclusão de melhorias como faixas adicionais, áreas de escape e Pontos de Parada e Descanso para caminhoneiros prometem transformar a estrada de alto risco em um eixo de desenvolvimento econômico e social. A ausência de Zema em um momento tão significativo foi vista por muitos como um descompasso entre a liderança estadual e as demandas populares.
Rodrigo Pacheco, presidente do Senado e também mineiro, criticou a postura do governador, destacando que o projeto de renegociação das dívidas estaduais, criticado por Zema, foi aprovado em condições melhores do que as solicitadas pelos governadores de oposição. “Essa falta de reconhecimento só evidencia uma desconexão com os reais interesses de Minas”, afirmou.