Brasília – A crise gerada pela polêmica sobre as novas regras de fiscalização do PIX abalou o governo Lula nesta semana, ofuscando uma série de ações governamentais importantes. A avalanche de críticas e a disseminação de fake news, combinadas com uma comunicação considerada ineficaz pelo próprio presidente, resultaram em mudanças na Secretaria de Comunicação (Secom) e em uma derrota significativa na narrativa digital do governo.
Trocas estratégicas na comunicação
O governo aproveitou a crise para promover mudanças estratégicas na Secom. Sidônio Palmeira assumiu o comando da pasta, substituindo o deputado Paulo Pimenta. Além disso, a Secretaria de Estratégia e Redes também passou por alterações: Brunna Rosa Alfaia, aliada da primeira-dama Janja, deu lugar a Mariah Queiroz Costa Silva, que trabalhou com o prefeito de Recife, João Campos.
As mudanças refletem a necessidade de uma comunicação mais eficaz, especialmente no ambiente digital, onde o governo tem sido superado pela oposição. O próprio presidente Lula reconheceu falhas na estratégia de comunicação, admitindo que a extrema-direita tem dominado as redes sociais.
Sidônio Palmeira iniciou ajustes imediatos, incluindo a troca no comando da Secretaria de Imprensa. José Kley Chrispiniano Júnior foi substituído por Laércio Portela, que já atuou como ministro interino da Secom.
“Crise do PIX” pode ter impacto duradouro
A crise começou com a repercussão negativa das novas regras da Receita Federal sobre o monitoramento de transações financeiras. Anunciadas em setembro de 2023 e em vigor desde janeiro, as medidas tinham como objetivo combater a sonegação fiscal. Contudo, a oposição conseguiu transformar o tema em uma poderosa arma política, levando o governo a recuar e revogar as normas.
A polêmica sobre o PIX gerou mais desgaste ao governo do que episódios anteriores, como o posicionamento de Lula sobre a guerra na Ucrânia e a “taxação das blusinhas” — apelido dado à cobrança de impostos sobre compras internacionais.
Ações do governo Lula ofuscadas pela crise
Enquanto o governo enfrentava críticas intensas, três iniciativas importantes passaram despercebidas:
- Proibição de Celulares nas Escolas
Na segunda-feira (13), Lula sancionou uma lei que proíbe o uso de celulares e dispositivos eletrônicos portáteis por estudantes na educação básica. A nova legislação tem como objetivo melhorar o desempenho acadêmico, promovendo um ambiente mais focado e livre de distrações.
Pesquisas em diversos países mostram que a presença de celulares em sala de aula pode impactar negativamente a concentração e o aprendizado dos alunos. Com essa medida, o governo espera fomentar um ambiente educacional mais propício ao desenvolvimento intelectual e disciplinar.
2. Lançamento do Programa Mais Professores
Na terça-feira (14), o governo lançou o programa Mais Professores, uma iniciativa que busca enfrentar a carência de educadores no Brasil. O projeto prevê a concessão de bolsas de estudo para estudantes que escolham a carreira docente e oferece bônus salariais para professores que aceitem atuar em regiões de difícil acesso ou com déficit de profissionais.
O programa é visto como uma resposta à crescente necessidade de valorização da carreira docente e à demanda por uma educação mais inclusiva e de qualidade. “Investir nos professores é investir no futuro do Brasil”, afirmou Lula durante o lançamento.
3. Regulamentação da Reforma Tributária
Na quinta-feira (16), Lula sancionou a regulamentação da reforma tributária, marcando um momento histórico para a economia brasileira. A medida visa simplificar o sistema tributário e garantir mais transparência no pagamento de impostos, promovendo um ambiente econômico mais eficiente e competitivo. A reforma introduz o Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que substituirá tributos atuais e promete reduzir custos operacionais para empresas, além de eliminar a cobrança em cascata, que encarece os produtos. A expectativa é que a mudança traga impactos positivos tanto para o consumidor quanto para o setor produtivo, embora especialistas apontem desafios na implementação ao longo do cronograma, que vai até 2033.
A crise do PIX ressaltou as fragilidades na comunicação governamental e a capacidade do governo de defender suas ações nas redes sociais. O entorno do presidente acredita que as recentes mudanças na Secom podem oferecer uma oportunidade para Lula redefinir sua estratégia de narrativa e reconquistar o controle sobre a percepção pública. Mas o desafio é claro e maior: as ações do governo precisam ser amplamente comunicadas e defendidas, para que polêmicas pontuais não continuem a ofuscar iniciativas que têm potencial para impactar positivamente o país.