A posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, marcada para esta segunda-feira (20), tornou-se palco de articulações e discursos que ecoam críticas ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Entre os participantes está uma comitiva de parlamentares brasileiros liderada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que têm utilizado o evento para alfinetar a administração petista e reforçar alianças internacionais.
Representação polêmica
Impedido de viajar devido a medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Jair Bolsonaro designou Eduardo Bolsonaro e Michelle Bolsonaro para representá-lo na cerimônia. A decisão de enviar representantes à posse, somada às declarações de aliados, acendeu debates sobre o impacto político dessa participação no cenário nacional.
O deputado Eduardo Bolsonaro aproveitou sua estadia nos EUA para encontrar-se com o presidente argentino Javier Milei, aliado político da direita latino-americana. Em uma publicação nas redes sociais, Eduardo elogiou Milei e sua irmã Karina, destacando a suposta sintonia entre os líderes conservadores e o impacto positivo que esperam gerar.
Críticas ao governo Lula
Milei, durante um baile de gala anterior à posse, lamentou a ausência de Jair Bolsonaro, responsabilizando o “regime de Lula” pela impossibilidade de sua participação. “É um grande amigo e lamento muito que o regime de Lula não o tenha deixado vir”, declarou o presidente argentino, em um discurso compartilhado por apoiadores nas redes sociais.
Michelle Bolsonaro, por sua vez, não poupou críticas à condução do caso contra o ex-presidente no Brasil. Ela reiterou que Bolsonaro “não cometeu nenhum crime” e refutou as especulações de que a tentativa de participar da posse seria um pretexto para escapar da Justiça. A ex-primeira-dama reforçou o discurso de perseguição política, argumentando que as medidas cautelares são excessivas.
Supremo em foco
O Supremo Tribunal Federal, por meio do ministro Alexandre de Moraes, negou o pedido de devolução do passaporte de Bolsonaro duas vezes na última semana. Moraes citou declarações anteriores do ex-presidente sobre a possibilidade de pedir refúgio em embaixadas no Brasil caso enfrentasse uma ordem de prisão, destacando o risco de fuga como justificativa para a negativa.
As restrições a Bolsonaro, incluindo a condenação à inelegibilidade até 2030, seguem como pontos de confronto entre o governo Lula e seus opositores. Os aliados do ex-presidente têm usado o caso para reforçar a narrativa de perseguição política e polarizar ainda mais o cenário político brasileiro.
Articulações Internacionais
A presença de cerca de 30 deputados e senadores na posse de Trump, incluindo nomes como Bia Kicis (PL-DF) e Gustavo Gayer (PL-GO), também evidencia o fortalecimento das conexões internacionais entre lideranças da direita. Durante o evento, declarações exaltaram valores comuns entre os participantes e críticas à esquerda, em um esforço para construir uma narrativa de união conservadora contra governos progressistas na América Latina.
Para analistas, a participação de aliados de Bolsonaro na posse de Trump é mais do que um gesto simbólico. É uma tentativa de projetar força política, reafirmar alianças globais e desviar o foco das investigações que envolvem o ex-presidente no Brasil. O gesto, contudo, também ressalta a fragilidade interna da oposição, que enfrenta desafios para consolidar um discurso coeso diante do avanço das políticas do governo Lula.
Com a atenção dividida entre os desdobramentos internacionais e os embates domésticos, a oposição ao governo Lula busca se posicionar como um contraponto ao petismo, utilizando a figura de Trump como inspiração e referência para a construção de uma agenda política voltada à direita.
A posse de Donald Trump vai além de uma cerimônia oficial. Para a oposição brasileira, é uma oportunidade de reforçar narrativas e alianças que buscam desafiar o governo de Lula. Enquanto isso, a ausência de Jair Bolsonaro no evento simboliza as limitações impostas pelas investigações em curso, evidenciando o delicado equilíbrio entre articulações políticas e as questões judiciais que pairam sobre o ex-presidente.